Chapter one

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Chicago não é chamada de Cidade dos Ventos à toa. O dia termina mais uma vez como todos os outros e um vento gelido varre por toda a área, batendo algumas portas e as treliças das janelas, me assustando. A forte batida da madeira contra os marcos e batentes deixa meu corpo em um sobressalto, e eu sinto um arrepio correr pela minha coluna,

Apesar do breve susto, vou até as janelas para fechá-las.

Coloco a chaleira para ferver enquanto me aperto em um abraço, terminando por cruzar meus braços à frente de meu peito. Meus olhos caminham até o relógio na parede da cozinha que já marca quase 18hs. Eu desejo que Mike já estivesse em casa e penso em alcançar meu celular sobre a bancada para ligar para ele e ver se está chegando. Mas não faço isso.

Eu desisto do chá, já está quase na hora da janta mesmo. Talvez eu esteja um pouco indeciso sobre o que fazer pela minha própria ansiedade, e por isso, prefiro ligar para algum dos nossos restaurantes favoritos e pedir uma pizza.

Mike não deve estar demorando.

Os anos de casamento e relacionamento tornaram a nossa rotina um pouco previsível, e nem mesmo o fim da escola, a faculdade e agora a vida de casado e toda a correria profissional atrapalharam uma rotina de sempre estarmos juntos nas noites horríveis dessa cidade.

Mas hoje não me faria de rogado pela nossa rotina ser alterada e ele me surpreender chegando mais cedo.

Não sou do tipo de marido possessivo, mas o meu medo tem fundamento, uma vez que há algum tipo de maníaco a solta em Chicago fazendo novas vítimas assim que o breu da noite chega. Esta cidade deveria trocar seu nome para a Cidade dos Seriais Killers, pela sequência de psicopatas e assassinos que escolhem aqui para agir.

Ligo a televisão aguardando o Jornal das 7, outro tipo de tradição, já que nosso amigo de escola, Charlie, agora é o âncora, e temos orgulho de acompanhá-lo. Sempre assistimos pelo seu agradável topete loiro, muito mais do que para saber sobre as notícias macabras que rondam o noticiário, como seriais killers que se vestem como palhaços.

A pizza chega em algum tempo, junto com algumas garrafas long neck da cerveja favorita do meu homem, Coloco a pizza na nossa mesa de centro logo a frente do sofá e as cervejas na porta da geladeira para mantê-las na temperatura ideal.

Mike tem trabalhado bastante, já que é o engenheiro sanitário responsável por toda a reforma e correção da rede de escoamento pluvial subterrâneo de Chicago, e sempre chega cansado, querendo apenas aninhar em meus braços para que eu possa fazer alguma massagem ou dar uma mamada rejuvenescedora. As vezes acho que os anos não esfriaram o nosso relacionamento, apenas o lapidaram deixando tudo ainda melhor.

A vinheta do Jornal toca na televisão e eu busco o controle jogado em algum lugar do sofá atrás de alguma almofada para ouvir a voz do meu amigo loiro. Seu semblante é tenso e em nada mais lembra o garoto sorridente que conheci na aula de geografia. Os anos de jornalismo nesta cidade endureceram sua voz, levaram seu sorriso e renderam um cenho sério e sisudo, Algumas rugas horizontais já são vistas facilmente em sua testa e seu topete loiro tem um tom menos platinado agora,

"Alisson Thompson de 26 anos foi encontrada morta em uma rua deserta no bairro tranquilo de Chicago. Tinha os mesmos ferimentos comuns às demais vítimas do serial killer conhecido como palhaço assassino de Chicago!"

Ouvi a porta dos fundos abrindo e os passos de Mike entrando pela cozinha. Eu reconheceria seu andar onde quer que ele fosse, e me sinto aliviado por ele estar em casa são e salvo por mais uma noite. Ouço o barulho da chave sendo deixada sobre a ilha da cozinha e o barulho da água da pia escorrendo, onde provavelmente ele lava as mãos. Em seguida escuto a porta da geladeira sendo aberta e não consigo conter um risinho, o safado sabe que eu compraria a sua cerveja favorita.

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