𝘛 [𝘉𝘺𝘭𝘦𝘳]

Chapter twenty one

- Você é o T! - Minha voz saí fraca e baixa, quase como um sussurro.

Dizer isso em voz alta e para o Mike fez a realidade bater em mim como se eu estivesse despencando de um prédio de 100 metros de altura diretamente no chão de concreto.

E ninguém pode sair vivo disso. Eu me sinto exatamente como se esta queda fosse real, e o resultado são todos os pedaços de mim quebrados e reduzidos a um nada. A dor é tão real que meu peito queima, meus braços formigam, minha garganta tem um gosto amargo, minha barriga se retorce e eu sinto uma pressão na nuca.

Uma parte racional de mim me diz para que eu corra porque estou em perigo, afinal estou de frente para um dos assassinos mais brutais que este país viu nos últimos anos. Mas a maior parte de mim está destruída demais para se importar em resistir, e só quer se entregar para a própria destruição, porque não se importa em estar mais vivo.

Eu sequer tenho medo de morrer ou de estar parado diante de um assassino, pois você só teme quando você tem algo a perder, e no momento que descobri quem Mike é, eu já perdi tudo.

Você só tem medo quando tem um bem ao qual deseja proteger demais, como a vida, a sua casa, suas coisas, seu amor, seu relacionamento, alguma coisa que valoriza demais para perder, e tudo o que tinha significado para mim já não existe mais. Eu não tenho medo, porque não tenho nada. Eu sou um completo vazio de sentido, de amor, de vida e de história. Tudo o que eu acreditava foi uma mentira que caiu aos meus pés revelando que não há nada além dela.

Eu não vou correr, eu não vou lutar, eu não vou resistir, porque sequer há sentido nessa merda de vida. Na verdade, eu morri em frente aquele lago, quando se revelou na minha frente o que eu custei a enxergar, e agora eu sou só um corpo em pé, desprovido de alma e de vida.

- Você é o T! - Eu falo mais alto, antes do meu peito se encher de ar e a raiva subir pelo meu corpo tomando meus membros e a minha garganta, me fazendo gritar em fúria - VOCÊ É O T! DESGRAÇADO!

Eu parto para cima do Mike dando socos em seu peito que sequer fazem qualquer estrago nele, na medida que Mike apenas se desvencilha de alguns, firma o seu corpo para receber outros e tenta segurar meus pulsos.

- Will! Por favor me ouve! - Ele grita, mas não enho nada para ouvir, porque estou surdo pela raiva.

- Cala a boca, Mike!! CALA A BOCA! Para de mentir! PAAAARA!! Eu já sei de tudo! Eu te odeio! - Eu desfiro mais alguns tapas e socos para todos os lados, enquanto ele tenta me segurar.

- Não é assim, por favor, só me ouve!! - Mike grita quando finalmente consegue segurar os meus pulsos, enquanto eu continuo tentando bater nele e emito sons de pura raiva.

- Não tem nada que eu precise saber mais! Eu sei de tudo, eu estive na House Care hoje e você mentiu, você não estava lá na noite da morte do Charlie. Você me dopou todas as noites que saiu para matar alguém. A Amélia me contou que você pediu para ela mentir para mim. Ainda tive que vê-la me humilhando por eu sequer saber quem é você e que eu fui enganado esse tempo todo como um idiota! - Eu estou falando entre os meus dentes - Você matou pessoas Mike! Você matou a mãe de uma criança!!! VOCÊ MATOU O CHARLIE!!!!

Lembrar que Mike foi capaz de matar o Charlie faz algo dentro de mim explodir ainda mais em raiva e ódio. Eu poderia explodir essa casa toda com todo o sentimento que brota em mim e quer sair como uma onda explosiva como uma bomba de explosão em cadeia que vai varrendo tudo até acabar com o que houver em volta.

A minha raiva está quase me sufocando, eu sinto como se ela fosse duas mãos contra a minha garganta apertando meu pescoço e quase não me deixando respirar. Meus gritos saem espremidos. Eu quero me rasgar, rasgar a minha pele porque esta dor não está cabendo dentro de mim. Eu quero rasgar as minhas roupas, puxar meu peito, cabelos, em um desespero que o que está doendo consiga minimamente me deixar respirar ou me deixar conseguir me expressar. Eu só quero me rasgar, explodir tudo, me explodir...