Chapter seventeen

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O dia já amanheceu há algumas horas, embora eu tenha deixado a cortina fechada para escurecer o quarto e deixar um pouco mais confortável para Mike que ainda dorme.

A noite foi terrível para nós. Depois de me contar dois fatos terríveis da sua infância, ele teve uma crise de choro e de nervoso. Tentou se machucar na minha frente, se socando e eu precisei intervir. E eu sinto que ainda há muito mais coisas que ele ainda não me contou, mas acho que ele precisa fazer isso com um acompanhamento profissional, já que legalmente sou impedido de fazer isso por ter envolvimento pessoal e eu não consigo pensar racionalmente enquanto o tenho nos meus braços desmoronando.

Depois de muito tempo nervoso, precisei intervir mais drasticamente, e recorri ao remédio indutor do sono que ainda tinha um ou dois comprimidos no frasco e que dei graças por Mike não ter jogado fora como disse que ia fazer, provavelmente porque esqueceu.

Ele ainda demorou um tempo para pegar no sono. Além do remédio, precisei fazer um chá que ele tanto ama, e ficar grudado a ele na cama, sendo que dessa vez, ele quem se agarrou ao meu corpo como um coala. Ele estava frágil, destruído e vulnerável.

As emoções humanas são como um rio, e elas precisam correr sempre para que uma pessoa seja saudável. Mas por motivos como trauma e violências, o organismo como defesa, cria uma série de diques que represam as águas das emoções, que ficam ali represadas e se acumulando. Freud chama isso de recalcar as emoções.

A consequência disso é terrível. O primeiro caso registrado pelo psicanalista alemão foi de uma mulher chamada Anna, que de tanto represar seus sentimentos, emoções e traumas, entrou em um nível histérico tal, que perdeu os movimentos do braço, somente por causa de seu psicológico, já que fisicamente ela não tinha qualquer problema no membro.

O cérebro humano e o complexo psíquico são mais complexos do que nós imaginamos. E Mike represou isso por tanto tempo, que ontem, no menor indício de fratura em um dos seus diques emocionais, quase teve um colapso, e deixou sair de forma violenta um pouco da água que estava parada ali. O problema é se esta água vai continuar a sair ou se ele vai fazer um reparo para tentar controlar novamente. E eu afirmo, se isso estourar de uma vez, eu tenho medo do que pode acontecer.

Depois de um tempo deitado ao seu lado e já acordado, eu decidi sair da cama, já que ele parece que ainda dormirá sob o efeito do remédio e da descarga emocional por um tempo. Eu busco um livro de psicologia para ler e me distrair, já que há um bom tempo que não me dedico a estudar algo que eu amo tanto.

Eu estou com fome, mas como também estou em um turbilhão emocional, e um pouco mais patético, se comparado ao do Mike, eu não tenho coragem de entrar na cozinha e prefiro ficar na sala com fome ou até criar coragem e ir na padaria do bairro comer, já que entrar naquele cômodo não é uma opção.

Enquanto estou lendo e lutando contra os barulhos do meu estômago vazio, uma vez que com tudo o que aconteceu não lembramos de jantar, a campainha toca e eu atendo rápido antes que ela acorde Mike.

- Sr. Wheeler? - O homem na porta com uniforme de entregador me pergunta

- Sim, pois não?

- O House Care pediu para entregar esta caixa com algumas coisas pessoais da Sra Guinevere. Eles pediram para informar que todas as coisas dela foram doadas, conforme pedido pela família, mas estes objetos são de cunho pessoal e portanto, não puderam ser doados.

- Ah sim! Meu marido realmente mandou doar todas as roupas, jóias e coisas dela. Eu agradeço a atenção - Eu respondo pegando a caixa que não é muito grande das mãos do entregador, que se despede e logo sai.

Eu coloco a caixa na mesa de centro em frente ao nosso sofá e a encaro por um tempo.

Fico pensando se depois de tudo o que Mike me contou ontem, se ele vai querer lidar com algo pessoal dela, e por isso, resolvi abri-la primeiro para saber do que se trata e se devo deixar meu marido ter contato com aquilo.

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