1 ano e 3 meses. 457 dias. Esse é o tempo exato desde a última vez que vi Mike.
Foram 92 dias internado no hospital me recuperando, por ter sido atravessado por uma viga de ferro. E 365 dias internado numa clínica de reabilitação, por ter sido atravessado pela maior tragédia da minha vida, que por sinal, não foi aquela barra de ferro.
457 dias que a minha vida se virou do avesso.
O pior é que não houve um dia nestes 457 que eu não tenha pensado no homem que amei por toda a minha vida. Eu achava que o tempo seria o remédio para tudo. E quase foi. As feridas do meu abdômen não doem e já estão cicatrizadas. Não sinto mais vontade de me machucar e arrancar a minha própria pele. Mas não foi o suficiente para me curar de um amor. E eu não faço ideia de quanto tempo seria necessário para isso.
Hoje completo um ano da minha internação nesta clínica e clinicamente falando, estou apto para a alta. Me sinto seguro para isso. Minha mente parece sã. Mas me pergunto se meu coração está são.
Eu bato na porta de madeira coberta por uma tinta pastel que combina com as paredes no mesmo tom. Leio o nome do Dr Palov na plaquinha. Ele é o psicólogo que me acompanhou neste tempo e tem me ajudado em todo o processo de recuperação.
— Entre, Will! — O homem de bigode e cabelo branco me sorri assim que abre a porta, e se desloca para o lado para me deixar entrar.
— Obrigado — Eu sorrio com sinceridade. Este homem sempre foi um porto seguro no meio do tsunami que era minha mente desde que cheguei. Me sentando logo em seguida no divã que ele me indica esticando o braço.
— Soube que hoje será seu último dia conosco. Como se sente? — Ele me pergunta enquanto senta na poltrona a minha frente.
— Satisfeito. Feliz. Talvez com medo. — Eu respondo correndo o olho por todo o ambiente e pensa do o quanto sentirei falta de ter o acompanhamento e a segurança desta clínica.
— São sentimentos justos — Ele me encara com certo sorriso — Me fale sobre o medo. Do que realmente tem medo?
— Acho que da minha vida fora daqui — Finalmente olho para o meu analista — Vocês foram perfeitos em criar uma bolha para mim aqui. Precisei apenas fingir que não havia qualquer coisa além daqui, que Mike estava viajando, que eu estava em alguma pousada para descanso. Aqui não tinha profissão, não tinha história, não tinha que lidar com absolutamente nada.
— Você já sabe o que deseja fazer fora daqui?
— Não... Eu falo soltando o ar e os meus ombros, olhando para baixo, encarando os meus dedos enquanto mexo em uma pelinha da cutícula — Não faço ideia como é viver agora.
— Você sabe que esse sentimento é normal e legítimo, certo? — Ele se inclina um pouco para frente e toca de leve minhas mãos para que eu pare de puxar aquela pelinha — E você não precisa se cobrar tanto. Me diga, Will, do que você realmente tem medo? Você sabe que só há um medo real dentro de você.
Ele me encara com semblante calmo e sua pergunta remexe com o que eu tentei não mexer até agora. Ele tem razão, eu só tenho um medo.
Mike.
Não tenho medo dele exatamente. Mas tenho medo de como é a vida sem ele. Eu nunca estive sem ele. Antes era como melhor amigo. Depois como namorado. Depois como marido. Ele esteve comigo em todo o percurso. Eu sequer sei como é o Will sozinho, simplesmente porque nunca estive!
Eu não ligo para qual profissão vou seguir agora. Posso virar qualquer coisa que não ligo. Não ligo para onde vou morar. Não ligo para a vida financeira. São coisas tão secundárias.
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𝘛 [𝘉𝘺𝘭𝘦𝘳]
Fanfiction𝘞𝘪𝘭𝘭𝘪𝘢𝘮 𝘉𝘺𝘦𝘳𝘴-𝘞𝘩𝘦𝘦𝘭𝘦𝘳 é 𝘶𝘮 𝘱𝘴𝘪𝘤ó𝘭𝘰𝘨𝘰 𝘧𝘰𝘳𝘦𝘯𝘴𝘦 𝘲𝘶𝘦 𝘢𝘶𝘹𝘪𝘭𝘪𝘢 𝘰 𝘍𝘉𝘐 𝘯𝘢 𝘣𝘶𝘴𝘤𝘢 𝘱𝘰𝘳 𝘶𝘮 𝘴𝘦𝘳𝘪𝘢𝘭 𝘬𝘪𝘭𝘭𝘦𝘳 𝘳𝘦𝘴𝘱𝘰𝘯𝘴á𝘷𝘦𝘭 𝘱𝘰𝘳 𝘶𝘮𝘢 𝘴é𝘳𝘪𝘦 𝘥𝘦 𝘢𝘴𝘴𝘢𝘴𝘴𝘪𝘯𝘢𝘵𝘰𝘴 𝘣𝘳𝘶...