Chapter twenty two

183 21 102
                                    

!Atenção, descrição gráfica de violência!

**

Eu sempre achei que eu ia morrer velhinho, cercado pelos meus filhos com o Mike em volta da minha cama. Que seria um momento poético, em que meu marido seguraria a minha mão, nós nos despediríamos com amor e como um sopro, eu fecharia os meus olhos e mergulharia na eternidade, acordando em um lugar com muito brilho, onde esperaria a vez de reencontrar a pessoa que amo desde os meus 4 anos.

Mas até isso a mentira de Mike tirou de mim.

Há uma grande chance de eu morrer em um encanamento sujo e fedorento, no subsolo de Chicago, desacreditado do amor e de todos os meus princípios, pensando em como salvar uma pessoa que eu realmente nem me importo e que há poucas horas atrás, chamei de ordinária e coisas assim.

Eu me importava tanto com a minha vida aparentemente perfeita que eu idealizava uma morte perfeita, o que é ridículo em comparação a agora que não me importei com a possibilidade de morrer no esgoto e me importo menos ainda em estar vivo depois daqui.

isso se chama mudança rápida de pensamento. E quem pode me julgar?

Não pensei muito antes de entrar num encanamento fétido de fundo de quintal. E eu agora estou começando me arrepender, porque estou indo atrás de um serial killer, sem nenhuma arma e nem ao menos uma lanterna eu tenho. Parabéns, William! Você é brilhante.

Mas acho que poderia ser pior, pois este lugar nem é tão merda como imaginei e novamente acho que Mike é até um doido inteligente.

Assim que entrei no encanamento, percebi que apesar de não ter um cheiro agradável, não parece nem um pouco com um cheiro de esgoto, porque por estes canos não correm dejetos, apenas água pluvial e de escoamento superficial, e como não chove há semanas nesta merda de cidade, o encanamento estava seco, o que facilita bastante.

Segundo que eu achava que teria que me rastejar por um estreito cano de PVC e metal, como naquele filme "Um Sonho de Liberdade", mas o encanamento é muito largo, tendo cerca de uns 2 metros de diâmetro e eu posso até andar em pé, o que me lembra mais algo "It", o que confesso não ser uma referência confortável para o momento. Se eu não soubesse que Mike possui um trauma específico com palhaços, eu ia achar um clichê plagiado de Stephen King de muito mau gosto.

Além disso, a cada encontro perpendicular de encanamentos há uma caixa grande de concreto e metal, que se assemelha a um cômodo pequeno. A tubulação também não é de toda escura, pois a cada 100 metros há um bueiro, seja de estilo boca de lobo ou de treliça, que ilumina por dentro, vindo da luz dos postes de iluminação pública que atravessam as aberturas no concreto.

É irônico pensar que bem em cima da minha cabeça há milhares de pessoas passando e andando sem fazerem ideia que um psicótico em surto resolveu usar aqui como passagem secreta, enquanto o marido dele, mais surtado ainda, corre atrás achando que vai impedir alguma merda.

Mas além de sem noção, surtado, infeliz e cagando para a minha própria vida, eu ainda sou um homem de princípios éticos e que acha que pode evitar de alguém morrer.

Talvez eu me sinta co-culpado de cada um dos assassinatos cometidos por Mike, porque se eu não tivesse sido um marido mimado e chorão como sempre fui, ele não teria tido algum curto circuito em seu cérebro para querer se vingar ou me proteger. No final, ele matou por minha causa, e logo, um W está assinado em cada vítima junto com o T.

Eu ainda sou um homem de esperança, que no fundo sabe que existe o T, mas ainda assim, sabe que por trás do assassino implacável há o Mike, o cara que não me matou no nosso quarto, mesmo quando eu o chamei de monstro, filho da puta e coisas que nem me lembro agora.

𝘛 [𝘉𝘺𝘭𝘦𝘳] Onde histórias criam vida. Descubra agora