Chapter four

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Uma coisa que precisam saber sobre os hospitais psiquiátricos judiciais é que os barulhos (ou a ausência deles) é o pior que você vai precisar aprender a conviver quando escolhe uma profissão que lida diretamente com os pacientes e os internos dele.

Em um dia, você vai andar pelo corredor gelado, e tudo vai estar um completo silêncio. Os barulhos dos solados dos seus sapatos vão ecoar fazendo um "toc toc", o que vai te dar uma sensação horrível de angústia pelo vazio, como se toda alma internada já estivesse morta, e o hospital não passasse de um cemitério de mortos-vivos.

Em outro dia, você escutará gemidos, gritos abafados e algumas palavras mal balbuciadas, que te lembrarão que este hospital lida com saúde mental, e pessoas que a perderam a muito tempo (ou nunca a tiveram). Os barulhos metálicos contra grades, de paredes sendo arranhadas vão te levar diretamente ao inferno com a sensação que você está lidando com pessoas que foram condenadas, mas sequer puderam frequentar uma penitenciária comum, porque são considerados incapazes de manter qualquer convivência humana não assistida por profissionais da psiquiatria.

É aqui que jogam os famosos loucos de toda maneira.

Hoje era um dos dias silenciosos, e eu estava pisando neste Hospital pela primeira vez em 6 meses, e ainda tendo a mesma sensação angustiante com o eco dos saltos das minhas botas no chão cinza dos corredores.

Mike não sabe que estou aqui hoje e eu me odeio por isso. Estamos juntos há mais de uma década e sempre fomos abertos um com o outro, do tipo de casal que nada esconde entre si. Mas eu não queria que ele ficasse mal com a minha decisão de enfrentar o mesmo sociopata que há 2 anos tentou me usar como sua janta. Foi justamente esse cara que desencadeou uma das poucas crises que enfrentei no meu casamento, e eu não quero repetir tudo isso de novo.

Liam está me acompanhando e dessa vez os protocolos de segurança foram reforçados. Alex G Thompson sequer poderá se mover, portanto, eu não estou em qualquer risco como em outros tempos.

- Eu devia saber que era você - Ouço aquela voz horripilante assim que o barulho das grades da sala de atendimento são abertas - Eu devia saber que o cheiro de carne de primeira era sua.

Ele está com algemas que prendem seus braços para trás de seu corpo, além de correntes que ligam as algemas das mãos às algemas que prendem seus tornozelos. Ele carrega ainda no pescoço o mesmo dispositivo que dá eletrochoques e que evitou o ataque contra mim anos atrás, e ainda tem uma máscara sobre a boca, que é uma mistura entre uma focinheira e Hannibal Lecter.

- Cala a boca! - Liam é o primeiro a se manifestar enquanto eu preferi não render à provocação.

- Vejo que trouxe um amiguinho, Dr. Wheeler - ele fala com o tom jocoso - Mas você não me parece uma carne tão apetitosa assim. Tenho certeza que Will deve ter um gosto leve como carne de frango.. ou melhor, carne de coelho. Aquela carne branca, macia e suculenta. Você é o tipo de carne que nem precisa de cozimento, apenas uma mordida e a carne macia de desfilaria em pedaços sucosos.

- Chega, Alex! - Eu falo firme para tentar encerrar o monólogo sobre quem eu seria no açougue de malucos - Vamos direto ao ponto, sem artimanhas hoje.

- Ótimo. - Ele provoca e mesmo com a focinheira é possível ver seu sorriso malicioso e algo como parecer estar lambendo os beiços - Que tal tirar essa bonitinha do meu rosto e poderemos falar sobre o que quiser.

- Até sobre Alison Thompson? - Liam solta em um tom maldoso e instantaneamente eu vejo o sorriso do canibal sumir.

Fato interessante sobre os sociopatas, que os distinguem dos psicopatas comuns aos filmes policiais, é que os sociopatas conseguem ter alguma conexão social, criando verdadeiros laços emocionais afetivos, pois possuem certo nível de empatia relativa com as pessoas no entorno, geralmente familiares e amigos próximos. Coisas que raramente os psicopatas conseguem, já que estes são completamente incapazes de criar qualquer sentimento empático, e muito menos esses laços e vínculos.

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