Ella Rodrigues
Não acredito que meu pai mentiu de novo.
— Ai! Cuidado aí. — Reclamo e reviro os olhos impaciente, devido a pontada que senti nas costelas.
— Desculpe, senhorita. — Uma das costureiras fala, e aceno sem estar muito satisfeita.
Ao menos posso falar e ouvir em português novamente. Inglês pode ser bem chato as vezes.
Enquanto vinha para o Brasil, já me preparava para a lorota que ouviria durante a confraternização dos empresários mais ricos do país num ritmo de falsidade tremenda com um único objetivo: manter relações comerciais minimamente estruturadas. Entretanto, não estava preparada para o que realmente viria...
— Está linda, minha filha. — Consigo ver meu pai pelo espelho extenso a minha frente, mas não consigo expressar qualquer reação. Meu rosto está apático e não pretendo muda-lo.
— Eu disse! Se me permite dizer, brilho se encaixa perfeitamente com seu tom de pele. Está estonteante, senhorita Rodrigues. — Octavius, um dos melhores estilistas franceses que mora no Brasil e um bajulador qualquer que meu pai contratou para tentar me animar, fala entusiasmado. Só que, sinceramente, nem roupas estão me animando muito.
— Eu sei. — Falo seca, mas sorrio no final para disfarçar, graças ao olhar cortante que papai me lança. — O vestido é realmente lindo. — Forço um pouco mais.
Mesmo que a peça seja sem dúvidas belíssima, meu ânimo poderia ser comparado a de um colecionador, descobrindo que a peça única já foi comprada. Ou seja, horrível.
O vestido tem fundo branco meio acinzentado, mas o brilho que sobrepõe o tecido dava o destaque que o deixa tão agradável aos olhos. Mas, resumindo, o modelo era tomara-que-caia com mangas bufantes transparentes, ia até minhas panturrilhas num rodado chamativo ao andar devido a sua leveza e amplitude e, por último, tinha uma fenda considerável, que dava o toque misterioso e sexy — um vestido de festas que é claramente a meu gosto, não posso negar. Meu pai foi certeiro ao contratar o estilista.
Mas isso não isenta o fato de estar chateada com ele.
— Octavius, poderia nos dar um tempo a sós, por favor. O pagamento já foi mandado para sua conta. — Não demora nem dez segundos para o homem de andar engraçado e óculos com armação de onça sair as pressas com suas ajudantes para fora do meu closet pessoal.
Como o vestido havia sido feito de última hora, eles fizeram questão de vir até o nosso apartamento para eu experimentar de primeira mão.
— O que o dinheiro não faz... — Mumuro baixinho, mas papai parece ouvir, visto que suas sobrancelhas se franzem. — Nada não, pai. — Tento disfarçar e ele nega com um manear de cabeça, não acreditando.
Como ainda não consigo olhar em seus olhos de forma direta, permaneço o observando somente pelo reflexo do espelho. Guilherme está trajado com um terno azul escuro clássico muito bonito, que lhe dá um ar superior — algo totalmente de acordo com sua personalidade e que combina perfeitamente com a pele negra, fazendo-o se destacar ainda mais.
Somente sendo ele, meu pai demonstrava força e poder.
— Isabella, sei que gostou do vestido, mas que está insatisfeita pelas circunstâncias que irá usá-lo. O que custa fingir um sorriso pelo bem da nossa família? São só negócios, minha filha. — Sua expressão era dura e impassível, assim como a minha. Infelizmente, nós somos parecidos.
Parecidos demais.
— Você, mais do qualquer um, sabe que, se pudesse, nunca pisaria lá. — Ergo o nariz em sinal de afronta.
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Ela é Ella || ✔
Teen Fiction|| LIVRO 01 DA "TRILOGIA RODRIGUES" "As pessoas sempre culpam aquilo que não conhecem... Pensei que você fosse diferente." As patricinhas que conhecemos são sempre as vilãs das histórias ou as garotas que todo mundo odeia por serem superficiais. Só...