CAPÍTULO 18: Festa de mauricinho convencido é irritante sem álcool

371 48 147
                                    

Ella Rodrigues

Não acredito que meu pai mentiu de novo.

Ai! Cuidado aí. — Reclamo e reviro os olhos impaciente, devido a pontada que senti nas costelas.

— Desculpe, senhorita. — Uma das costureiras fala, e aceno sem estar muito satisfeita.

Ao menos posso falar e ouvir em português novamente. Inglês pode ser bem chato as vezes.

Enquanto vinha para o Brasil, já me preparava para a lorota que ouviria durante a confraternização dos empresários mais ricos do país num ritmo de falsidade tremenda com um único objetivo: manter relações comerciais minimamente estruturadas. Entretanto, não estava preparada para o que realmente viria...

— Está linda, minha filha. — Consigo ver meu pai pelo espelho extenso a minha frente, mas não consigo expressar qualquer reação. Meu rosto está apático e não pretendo muda-lo.

— Eu disse! Se me permite dizer, brilho se encaixa perfeitamente com seu tom de pele. Está estonteante, senhorita Rodrigues. — Octavius, um dos melhores estilistas franceses que mora no Brasil e um bajulador qualquer que meu pai contratou para tentar me animar, fala entusiasmado. Só que, sinceramente, nem roupas estão me animando muito.

— Eu sei. — Falo seca, mas sorrio no final para disfarçar, graças ao olhar cortante que papai me lança. — O vestido é realmente lindo. — Forço um pouco mais.

Mesmo que a peça seja sem dúvidas belíssima, meu ânimo poderia ser comparado a de um colecionador, descobrindo que a peça única já foi comprada. Ou seja, horrível.

O vestido tem fundo branco meio acinzentado, mas o brilho que sobrepõe  o tecido dava o destaque que o deixa tão agradável aos olhos. Mas, resumindo, o modelo era tomara-que-caia com mangas bufantes transparentes, ia até minhas panturrilhas num rodado chamativo ao andar devido a sua leveza e amplitude e, por último, tinha uma fenda considerável, que dava o toque misterioso e sexy — um vestido de festas que é claramente a meu gosto, não posso negar. Meu pai foi certeiro ao contratar o estilista.

Mas isso não isenta o fato de estar chateada com ele.

— Octavius, poderia nos dar um tempo a sós, por favor. O pagamento já foi mandado para sua conta. — Não demora nem dez segundos para o homem de andar engraçado e óculos com armação de onça sair as pressas com suas ajudantes para fora do meu closet pessoal.

Como o vestido havia sido feito de última hora, eles fizeram questão de vir até o nosso apartamento para eu experimentar de primeira mão.

— O que o dinheiro não faz... — Mumuro baixinho, mas papai parece ouvir, visto que suas sobrancelhas se franzem. — Nada não, pai. — Tento disfarçar e ele nega com um manear de cabeça, não acreditando.

Como ainda não consigo olhar em seus olhos de forma direta, permaneço o observando somente pelo reflexo do espelho. Guilherme está trajado com um terno azul escuro clássico muito bonito, que lhe dá um ar superior  — algo totalmente de acordo com sua personalidade e que combina perfeitamente com a pele negra, fazendo-o se destacar ainda mais.

Somente sendo ele, meu pai demonstrava força e poder.

— Isabella, sei que gostou do vestido, mas que está insatisfeita pelas circunstâncias que irá usá-lo. O que custa fingir um sorriso pelo bem da nossa família? São só negócios, minha filha. — Sua expressão era dura e impassível, assim como a minha. Infelizmente, nós somos parecidos.

Parecidos demais.

— Você, mais do qualquer um, sabe que, se pudesse, nunca pisaria lá. — Ergo o nariz em sinal de afronta.

Ela é Ella || ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora