Meu coração viu coisas que eu gostaria que não tivesse visto
Em algum lugar eu perdi um pouco da minha inocência
E eu sinto falta disso
Tenho saudade
Other Than I Am,
Lennon Stellla...
Ella Rodrigues
— Eu quero morrer. — Meus olhos lacrimejam ao admitir isso para a terapeuta do hospital.
Eu me sinto quebrada, indisposta, a desgraça em forma de ser humano por tudo que passei durante aqueles sete dias em cárcere com Asher e, só a lembrança do seu nome, é como se sentisse novamente os toques violentos no meu corpo, me invadindo e tirando qualquer resquício da minha dignidade.
A mulher ao meu lado deixa a caneta de anotações sobre a prancheta e me olha com cautela, percebendo o quão patética eu devo estar.
A sensação é agonizante, mas o silêncio é pior.
— Querida... — Ela suspira por detrás dos óculos de grau e batom vermelho-sangue. — Quando estes pensamentos intrusivos começaram? Preciso que seja honesta comigo para que eu possa ajudar você.
Mordo os lábios e desvio o olhar para a parede branca e sem graça desse quarto e o cheiro daqui também não me agrada, pois tudo parece uma mistura entre morte, sofrimento, dor e desesperança.
Fujo ao máximo da expressão inquisitiva da terapeuta para não confessar que — talvez — isso esteja comigo antes mesmo de ter sido sequestrada. Porém, era pequeno e insignificante demais para se levar em conta. Na verdade, Asher e suas ações foram apenas o estopim para a minha queda. Ele conseguiu extrair o pior de mim de uma forma tão primitiva que não saberia dizer ao certo como aconteceu, mas sei quando. Foi no momento em que o enfrentei pela primeira vez naquela cabana e fui cruelmente castigada por isso.
Elizabeth, a terapeuta, pega sua caneta mais uma vez ao perceber que não irei responder tão cedo sua pergunta e anota alguma coisa.
— Mais alguém sabe que você se sente assim? — Olha-me por cima dos óculos, e eu engulo em seco, querendo que essa conversa acabe o mais rápido possível.
— Eu... E-eu... — Gaguejo com as mãos trêmulas, então as fecho em punhos para me manter parada. — Eu tenho medo das pessoas saberem disso. — Respondo simplesmente.
Entretanto, acho que isso é o suficiente para ela entender que a resposta é negativa; portanto, ninguém além de mim mesma e a própria Elizabeth sabemos disso.
— Hum. — Mantém a expressão neutra e escreve mais, antes de levantar-se e guardar as coisas dentro da pasta de couro marrom. — Bom, acabamos por hoje, senhorita Rodrigues, mas saiba que teremos outras sessões futuramente, está de acordo?
Balanço a cabeça em sinal positivo, pois sei que não terei escolha.
Na verdade, tenho plena consciência de que papai irá insistir para que eu faça terapia, acompanhamento psicológico e toda a parafernalha necessária depois do que aconteceu.
— Por favor, feche a porta quando sair e diga que não quero ver nenhum deles. — Viro o rosto para a janela dessa vez, na expectativa de que ela atenda ao meu pedido.
Ouço sua respiração pesada.
— Não sei se posso não autorizar a entrada de alguém aqui, senhorita. Sou apenas a terapeuta. — Percebo um certo tom de nervosismo em sua voz. — Entretanto, como profissional, irei pedir isso; mas, como uma mãe, peço que ao menos fale com o seu pai...
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Ela é Ella || ✔
Teen Fiction|| LIVRO 01 DA "TRILOGIA RODRIGUES" "As pessoas sempre culpam aquilo que não conhecem... Pensei que você fosse diferente." As patricinhas que conhecemos são sempre as vilãs das histórias ou as garotas que todo mundo odeia por serem superficiais. Só...