CAPÍTULO 42: Os traumas de dias sombrios não são facilmente esquecidos

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Meu coração viu coisas que eu gostaria que não tivesse visto
Em algum lugar eu perdi um pouco da minha inocência
E eu sinto falta disso
Tenho saudade
Other Than I Am,
Lennon Stellla

...

Ella Rodrigues

— Eu quero morrer. — Meus olhos lacrimejam ao admitir isso para a terapeuta do hospital.

Eu me sinto quebrada, indisposta, a desgraça em forma de ser humano por tudo que passei durante aqueles sete dias em cárcere com Asher e, só a lembrança do seu nome, é como se sentisse novamente os toques violentos no meu corpo, me invadindo e tirando qualquer resquício da minha dignidade.

A mulher ao meu lado deixa a caneta de anotações sobre a prancheta e me olha com cautela, percebendo o quão patética eu devo estar.

A sensação é agonizante, mas o silêncio é pior.

— Querida... — Ela suspira por detrás dos óculos de grau e batom vermelho-sangue. — Quando estes pensamentos intrusivos começaram? Preciso que seja honesta comigo para que eu possa ajudar você.

Mordo os lábios e desvio o olhar para a parede branca e sem graça desse quarto e o cheiro daqui também não me agrada, pois tudo parece uma mistura entre morte, sofrimento, dor e desesperança.

Fujo ao máximo da expressão inquisitiva da terapeuta para não confessar que — talvez — isso esteja comigo antes mesmo de ter sido sequestrada. Porém, era pequeno e insignificante demais para se levar em conta. Na verdade, Asher e suas ações foram apenas o estopim para a minha queda. Ele conseguiu extrair o pior de mim de uma forma tão primitiva que não saberia dizer ao certo como aconteceu, mas sei quando. Foi no momento em que o enfrentei pela primeira vez naquela cabana e fui cruelmente castigada por isso.

Elizabeth, a terapeuta, pega sua caneta mais uma vez ao perceber que não irei responder tão cedo sua pergunta e anota alguma coisa.

— Mais alguém sabe que você se sente assim? — Olha-me por cima dos óculos, e eu engulo em seco, querendo que essa conversa acabe o mais rápido possível.

— Eu... E-eu... — Gaguejo com as mãos trêmulas, então as fecho em punhos para me manter parada. — Eu tenho medo das pessoas saberem disso. — Respondo simplesmente.

Entretanto, acho que isso é o suficiente para ela entender que a resposta é negativa; portanto, ninguém além de mim mesma e a própria Elizabeth sabemos disso.

Hum. — Mantém a expressão neutra e escreve mais, antes de levantar-se e guardar as coisas dentro da pasta de couro marrom. — Bom, acabamos por hoje, senhorita Rodrigues, mas saiba que teremos outras sessões futuramente, está de acordo?

Balanço a cabeça em sinal positivo, pois sei que não terei escolha.

Na verdade, tenho plena consciência de que papai irá insistir para que eu faça terapia, acompanhamento psicológico e toda a parafernalha necessária depois do que aconteceu.

— Por favor, feche a porta quando sair e diga que não quero ver nenhum deles. — Viro o rosto para a janela dessa vez, na expectativa de que ela atenda ao meu pedido.

Ouço sua respiração pesada.

— Não sei se posso não autorizar a entrada de alguém aqui, senhorita. Sou apenas a terapeuta. — Percebo um certo tom de nervosismo em sua voz. — Entretanto, como profissional, irei pedir isso; mas, como uma mãe, peço que ao menos fale com o seu pai...

Ela é Ella || ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora