Papai não quer que você veja, mas você vê tanto quanto ele viu
Nós não planejamos que fosse assim, a sua mãe e eu
Mas as coisas ficaram muito ruins entre nós
Mockingbird,
Eminem...
Guilherme Rodrigues
— Eu quero Anelice Camargo atrás das grades e com um processo que atinja até mesmo os seus bisnetos em menos de vinte quatro horas! — Entrego um arquivo para Mônica, e ela sai praticamente correndo para levar ao décimo quinto andar.
A passos pesados, eu subo no elevador presidencial de vidro — exclusivo para somente o meu uso — e abro o celular com o intuito de avisar a César que a nossa empresa rival acaba de fechar negócio com uma refinaria de petróleo, alavancando seus investimentos. Ou seja, aqueles desgraçados estão a dois passos a nossa frente e, consequentemente, alguém irá ser demitido hoje pela incompetência de não ter descoberto isso antes e evitado essa catástrofe nos negócios.
— Senhor Rodrigues, estão todos a sua espera. — Eduardo me entrega um tablet assim que saio do elevador, e sigo até a sala de reuniões.
— Já começou a muito tempo? — Pergunto, afrouxando a gravata, torcendo para diminuir a sensação de sufoco.
A noite passada foi tensa e chata o suficiente por uma semana inteira. Aqueles desgraçados pensavam que poderiam me enganar... Eles tiveram o que mereciam.
— Sim, senhor. — Ele confirma e concerta os óculos de grau num tic nervoso. — Eles estão lá a quase dez minutos e alguns reclamam de seu atraso, senhor.
— Foda-se o que eles falam, Eduardo. Quem manda aqui sou eu. Se eles quiserem outros sócios, que procurem no olho da rua. — Sou rude nas palavras, mas não me importo nem um pouco. Aquele bando de sanguessugas a cinco passos de distância não merecem um pingo de complacência.
Se eu sou ruim, eles conseguem ser ainda piores.
— Não leve isso para lado o pessoal, garoto. Hoje não está sendo um bom dia. — Explico sucintamente, e o jovem acena de forma frenética, antes de sair correndo para continuar seu trabalho.
Ele e Mônica são meus secretários, ambos novos e inexperientes, mas bem prestativos. Portanto, quanto mais rápido aprenderem sobre os jogos de poder que têm no mundo dos negócios, mais rápido irão crescer. No fundo, acredito que os dois ainda têm um grande futuro por aqui, já que — mesmo diante de toda a pressão forçada que faço — em nenhum momento deixaram pontas soltas. Admiro quem consegue isso.
— Boa noite, senhores. — Abro a extensa porta e entro no lugar onde quase uma dúzia de mulheres e homens engravatados dos trinta aos setenta e poucos anos me esperavam para começar a reunião.
— Boa noite, Rodrigues.
— Boa noite, chefe.
Todos me respondem com as carrancas costumeiras que conheço e, entre eles, está Murilo Macedo — meu melhor amigo, braço direito dentro dessa empresa e, consequentemente, a única pessoa que confio cerca de 85% do possível.
— Bom, acho que já sabem para que estamos aqui... Murilo, comece a apresentação. — Mando, e o cara que compartilha quase dos mesmos interesses e desavenças que eu, a quase treze anos, inicia toda a burocracia.
Enquanto isso, eu somente me sento na ponta da mesa suficientemente grande para caber todos nós, apoio o queixo sobre a mão e coloco minha mente concentrada naquela única reunião, pois, caso contrário, irei cair de cansaço aqui mesmo.
A reunião se resume basicamente a coisas inúteis, mas necessárias para o avanço da empresa fora do território nacional. Alguns reclamam, outros ficam felizes com as ideias e eu tenho que conciliar isso, como sempre. Por sorte, o tempo parece voar, a noite chegou e agora estou preso ali somente com Murilo e Emily Leblanc — empresária jurídica francesa altamente influente, responsável pela paixão platônica do meu melhor amigo e a única mulher que permiti entrar na minha vida depois do que aconteceu.
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Ela é Ella || ✔
Teen Fiction|| LIVRO 01 DA "TRILOGIA RODRIGUES" "As pessoas sempre culpam aquilo que não conhecem... Pensei que você fosse diferente." As patricinhas que conhecemos são sempre as vilãs das histórias ou as garotas que todo mundo odeia por serem superficiais. Só...