CAPÍTULO 09: Garotas desesperadas são bastante agressivas quando querem

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Ella Rodrigues

O barulho das minhas botas de salto alto são a única coisa audível daquele corredor extenso, vazio e sombrio. Raiva transborda por minhas células e a impaciência é nítida só pela forma do meu caminhar, ou seja, rápido e decisivo.

— O que eu estou fazendo da minha vida? — Mumuro pausamente com os punhos cerrados, enquanto ando em direção ao campo de futebol.

Sempre prometi a mim mesma que nunca me sujeitaria a algo assim, mas parece que o mundo realmente capota, pois cá estou eu — a pessoa que sempre desprezou sites ou qualquer superstição amorosa como "Descubra qual signo combina mais com você" ou "Trago seu amor em até três dias" — indo para as garras de um cupido ambulante com o cabelo do Príncipe Encantado de Shrek. Reviro os olhos. Deve ter sido um surto momentâneo, só pode.

— Mas quem terá que pagar por esse surto é você, sua anta! — Lembro a mim mesma, e isso só parece piorar a situação.

Não sei o quê se passou na minha cabeça quando mandei aquela mensagem a alguns dias para Jason, mas também não irei me acovardar agora. Meu orgulho não permitiria.

Assim que vejo o campo de futebol americano, meus pés travam na entrada e tenho que respirar profundamente. Alguns meninos do time estavam treinando alguns passes e os outros corriam ao redor para se aquecer. O tempo está fechado, mas não chovia ou nevava, ou seja, agradável. Para completar aquele cenário digno de comédias românticas clichês, garotas desesperadas por um namorado minimamente famoso e gato assistiam ao treino das arquibancadas e forçavam sorrisinhos sexys com pelo menos uns cinco quilos de gloss nos lábios, além dos peitos que quase saltam dos sutiãs num frio de 11 °C, típico do inverno estadunidense. Faço careta.

— Patético. — Coloco as mãos na cintura recapitulando o que vim fazer aqui: acabar com o resto de dignidade a qual me resta. Bufo, revirando os olhos. — Deveria ter ficado em casa...

Porém, empino o nariz e adquiro uma postura insolente numa tentativa de espantar qualquer resquício de nervosismo.

Acalme-se, Ella, medidas desesperadas necessitam de ações desesperadas.

Coloco um sorrisinho tranquilo e petulante no rosto, concertando meu casaco rosa felpudo de alta custura nos ombros. Na verdade, ele, minhas botas e a blusa de gola alta eram as únicas coisas que me protegiam do frio realmente, pois a mini saia só esquentaria na imaginação mesmo. Contudo, ela ficou uma gracinha no look, então passar um pouco de frio está valendo a pena.

Sento na arquibancadas, mas antes pego um paninho da bolsa para passar no assento. Ainda não estou louca de sujar minhas roupas nessa imundice gosmenta. Só Deus sabe o que passou aqui. Cruzo as pernas e observo a movimentação no campo até achar o guru do amor da shopee.

Jason está sério ao lado do treinador conversando alguma coisa que não me interessa e seus cabelos compridos estão presos num rabo cavalo baixo totalmente desalinhado, enquanto a regata branca suada evidenciava todo o esforço que vinha fazendo durante os treinos. Num ato inconsciente, ele levanta a base da blusa para limpar o rosto, fazendo com que as meninas das arquibancadas cochichassem pela visão do ensaio de tanquinho com algumas sardas salpicadas e o começo de uma tatuagem próxima a virilha apareça...

Espera! Aquilo é uma tatuagem?

Cerro os olhos numa tentativa de ver melhor o que seria, mas ele abaixa a blusa novamente. Cruzo os braços decepcionada. Queria saber o que era! Contudo acabo resolvendo apenas me concentrar em esperar aquele treino chato de empurrões, rasteiras e quase chutes acabar.

Ela é Ella || ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora