CAPÍTULO 24: Algumas palavras jamais deveriam ser ditas em voz alta

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Mas se existe uma pílula para me ajudar a esquecer
Deus sabe que eu ainda não a encontrei
Mas eu estou morrendo de vontade, Deus, eu estou tentando

Tentar não te amar, só é possível até certo ponto
Tentar não precisar de você, está acabando comigo
Trying Not To Love You,
Nickelback

...

Jason Samers

Já faz uns vinte minutos que estou sentado, esperando Aurora ter alta. Minha cabeça pendia para a parede, mas eu não ligava. Só queria poder sumir por alguns dias sem precisar ouvir a voz de alguém.

Fecho os olhos e cruzo os braços na frente do corpo para conter a vontade de socar a parede a minha frente.

Eu só aceitei trazer a garota para cá porque estava de saco cheio de toda a compaixão excessiva que despejaram em mim, dos olhares de pena e, principalmente, de todo aquele barulho. Ao menos sozinho, nesse corredor, eu tenho paz e silêncio — apesar de que o clima lá em casa não está tão diferente daqui. Desde aquilo, dificilmente eu via um sorriso sincero no rosto de algum Samers.

E, por mais egoísta que seja, um alívio instantâneo me atingiu assim que a bola de futebol atingiu o braço de Aurora, mas não porque eu queria o seu mal... Foi porque ela simplesmente não parava de falar! Quando a garota me chamou para conversar um pouco mais afastado das pessoas, eu já tinha plena certeza de que ela seria mais uma pessoa preocupada com o meu "período de luto". Entretanto, ela insistiu tanto nisso que acabei me deixando levar. Só queria que acabasse o mais rápido possível para voltar a ficar quieto, no meu canto.

E esse é meu maior desejo agora.

— Jason, não é? — Uma das enfermeiras novatas me chama, e aceno, finalmente abrindo os olhos. — A Aurora já está liberada; então, se possível, poderia avisar a mãe dela, por gentileza?

— Claro. — Viro-me para ir embora, mas a mulher me interrompe:

— Se quiser, pode ir ver como ela está... — Franzo as sobrancelhas por como sua voz soou sugestiva. Essa mulher não está achando que eu e Aurora temos algo, está?

Logo a mulher percebe minha sutil mudança de humor, que, na real, é muito pouca, pois ultimamente não consigo demonstrar mais que indiferença.

Oh, vocês não são...? — Nego, e ela sorri um pouco mais aliviada, soltando um sorrisinho em seguida e colocando uma mecha castanha atrás da orelha. — Desculpe, pensei que tivessem algo já que a trouxe para cá nos braços e...

— Nós temos absolutamente nada. — Interrompo-a antes que fale mais, ainda com uma expressão séria.

Conheço essa conversinha de-cór. Quando as garotas descobriam que eu e Jessika não tínhamos nada sério, agiam dessa mesma forma. Ou seja, conheço todos os truques femininos possíveis de investidas falsamente discretas, mas não estou no clima e muito menos interessado em correspondê-las. Só há uma pessoa nessa escola que chama a minha intenção, mas nem pensar nela me anima... Parece que uma parte da droga do meu cérebro responsável pelos sentimentos foi arrancada a força.

— Tudo bem. — Fala totalmente sem graça.

Dou de ombros.

— Farei o que me pediu, licença. — Forço um manear de cabeça educado para me despedir e nem espero uma resposta. Só saio de perto com passos calmos, mas rápidos e vou andando pelo corredor na esperança de que ninguém me interrompa para mais um discurso motivador anti-luto.

Ela é Ella || ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora