CAPÍTULO 40: O inferno é na porta ao lado

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❗️ATENÇÃO❗️
Esse capítulo irá conter linguagem imprópria, violência psicológica e física e alusão a estrupo (⚠️).
❗️NÃO RECOMENDO P/ MENORES DE 18 ANOS❗️

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Ella Rodrigues

Se antes eu pensava que somente a morte me levaria ao inferno, eu estava totalmente enganada. Asher Walker Davis conseguiu fazer essa proeza acontecer apenas por ter entrado na minha vida e, agora, acabado com qualquer tipo de dignidade que eu tinha.

Em sete dias presa pelo meu algoz e pesadelo pessoal, eu percebi que todas as tentativas de me mostrar superior para as pessoas diante das minhas fraquezas — como, por exemplo, não ter uma mãe — foram inúteis. Eu não passo de uma garotinha assustada, sempre foi sssim, e sei disso agora mais do que nunca pensei saber.

— O que eu fiz para merecer isso? — Sussurro enquanto bato a cabeça repetidas vezes na parede de madeira espessa e fria ao mesmo tempo que meus braços cobrem o possível as pernas nuas e cheias de hematomas roxos, vermelhos, verdes... Presentes de Asher nesses últimos dias em que estou presa aqui.

Porém, o pior é saber que a única coisa que sei fazer é chorar. Chorar por tudo. Chorar por estar aqui. Chorar por não ter contado a ninguém sobre esse filho da mãe. Chorar por não saber o que fazer. Chorar por saber que não sairei viva daqui. Chorar por... Por não ter tido forças de impedi-lo de me... Me tocar.

Eu tentei — juro que tentei — correr, gritar, morder ou até mesmo arranhar para ele não fazer aquilo, mas Asher é forte demais em comparação a mim... Eu não consegui impedir, não consegui me defender de suas mãos violentas me agarrando à força, o sorriso sádico nos lábios, o olhar de quem se divertia com o meu pavor, os socos que me espancaram dia após dia, a boca imunda que fazia questão de me invadir.

E eu me sinto suja por isso.

Mesmo com os banhos bizarros que ele me obriga a tomar, eu ainda me sinto suja, errada, imunda, a pior pecadora de todas e, sinceramente, ainda não sei como me mantenho viva. Às vezes, a ideia de acabar com esse sofrimento me aparece o certo a se fazer, mas logo recuo, pois não tenho coragem. Além disso, os rostos da minha família, dos meus amigos e de Jason aparecem a todo momento na minha mente, a fim de me lembrar que ainda há algo que vale a pena para se viver: a lembrança deles.

Mordo os lábios secos pela falta de água e contenho um soluço alto.

— Eu nem consegui dizer que eu te amo, Jay... Eu te amo, seu guruzinho falsificado... Eu te amo... — Deixo o meu corpo, muito mais magro que o normal graças à falta de comida, cair devagar no chão e minha cabeça bater com força, mas pareço estar anestesiada pelos socos de Asher, então apenas me deixo ali, parada.

Eu fui uma covarde.

No fundo, eu sempre soube que o amava, mas tinha medo de dizer e perdê-lo — algo que só percebi após estar presa aqui. Perder o amor da minha vida da mesma forma que perdi uma mãe que nem sequer conheço, ou como perdi um pai para um trabalho estúpido, ou como perdi Antônio quando mais precisei dele me assusta. Todos que eu amo vão embora em algum momento, só tive medo de que acontecesse a mesma coisa com Jason.

Ou seja, eu sou realmente uma egoísta no fim das contas. Preferi ferir seus sentimentos a revelar os meus.

Mia bella, está acordada? Está na hora do seu banho, meu amor. — A voz que assombra meus pesadelos junto aos passos pesados subindo as escadas de madeira fazem o meu corpo tremer de pavor e me encolho mais à medida que o barulho vai ficando mais forte.

Ela é Ella || ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora