CAPÍTULO 23: Não importa o que faça, um vilão sempre será um vilão

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Ella Rodrigues

Eu vi tudo.

Vi sua reação e... Aquilo me dilacerou por completo. Eu acompanhei cada mínima consequência pela dor da notícia repentina e poderia até mesmo supor que ouvi seu coração quebrar naquele instante.

Vi desde o momento em que ele atendeu a ligação do pai e caiu no chão, ajoelhado. Nos primeiros segundos, eu não entendi absolutamente nada, mas também não demorei a perceber que não era um simples "exagero". Então, com receio fui até ele para perguntar o que havia acontecido; porém, assim que encostei os dedos em seu ombro, eu vi os olhos mais gentis que conheci destruídos e lacrimosos, apesar de nenhuma lágrima sair. Só estavam vermelhos, como se ele estivesse fazendo um grande esforço para evitar chorar na minha frente. Parecia que a vida havia sido tirada dele. Assim, num piscar de olhos.

A postura sempre confiante estava curvada em sinal de desalento; e as mãos, que antes seguravam o aparelho telefônico, estavam perdidas como se ele não soubesse aonde colocar. Por fim, seus lábios se mexiam e nenhum som saia. Ele estava com dificuldade para acreditar que o avô realmente faleceu.

"Eu... Eu preciso ir." Jason nem mesmo parecia saber o que queria dizer ao certo. Seus olhos demonstravam uma coisa, mas as palavras, outra. 

Então, ele só... Saiu, mas não parecia alguém vivo na minha frente.

— ... Que nosso misericordioso Deus acolha sua alma na vida eterna, amém. — O padre termina seu discurso diante do caixão do senhor Samers, fazendo o sinal da cruz para se iniciar o sepultamento.

Logo, não demora para que todos os homens da família peguem as pás e comecem a jogar a terra em cima do caixão. Até mesmo Victor, o irmão mais novo de Jason, faz questão de ajudar nesse momento.

Olho ao redor e observo aquela multidão de pessoas e entre eles há familiares, amigos e conhecidos. Todos os filhos do falecido estão aqui com suas respectivas famílias, além de alguns alunos da Collins também — a maioria eu já havia visto pelos corredores da escola. Pelo o que parece, Nicholas era um homem muito conhecido na cidade entre os jovens. Acredito que o fato de ter uma cafeteria muito bem frequentada ajudou bastante nisso. Ademais, o homem era quase centenário nessa cidade pequena. Dificilmente, se você vivesse a mais de cinco anos aqui, não saberia da existência dele.

Engulo em seco.

As pessoas que mais choram são os familiares e amigos mais próximos, obviamente, mas não há como ficar não num estado entorpecente também. Mesmo não conhecendo o avô de Jay como ele, eu me senti afetada.

Pais e filhos se abraçam para acalentarem o sentimento, e netos choram — Angel, Sara e Evangeline se abraçam para tentarem tirar forças de algum lugar. Já Camille, a mãe, segura Benjamin no colo enquanto lágrimas silenciosas descem. Por fim, a viúva Melinda está paralisada de joelhos em frente ao túmulo quase completamente cheio de terra com rosas vermelhas em mãos, que, segundo Angel, são as mesmas que Nicholas teria dado a ela no primeiro encontro de ambos; depois, uma vez por semana quando estavam se conhecendo, ele sempre colhia uma rosa do vizinho e a dava; e depois, já nos dias de hoje, gostava de fazer surpresas com a mesma espécie de rosa, pois sabia que a esposa gostava.

Pisco algumas vezes para conter as lágrimas.

Essa é a primeira vez que presencio um velório. As únicas pessoas da minha família que morreram foram meus avós a anos atrás, mas, como não tinha contato e nem compareci ao enterro por ser muito pequena, nem fez diferença.

— Está pronto. — O pai de Jay fala com uma voz um pouco morta, mas firme. Ele, os tios de Jason e o próprio são um dos poucos que não estão chorando. Não porque não sentem, mas porque precisam se manter fortes para as seus familiares. E, pelo pouco tempo que estou aqui na cerimônia, percebi que deve ser alguma espécie de tradição, pois todos os Samers tem uma quantidade de filhos que seria considerada "fora do normal" para a nossa sociedade atual.

Ela é Ella || ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora