CAPÍTULO 27: Nunca é tarde demais para amizades circunstanciais

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⚠️ ATENÇÃO ⚠️
Haverá uso de intorpecentes e violência explícita nesse capítulo (o qual ficou grande), cuidado com a leitura!

...

Ella Rodrigues

As lágrimas ociosas descem por minha bochecha num ritmo tão descontrolado que poderiam assustar, mas não tenho forças para pará-las enquanto elas se misturam à água cheia de espuma da banheira; então, só afundo meu corpo ao ponto de parecer patética.

Eu só conseguia chorar humilhantemente como uma idiota a horas! E isso, dói muito.

Dói minha dignidade.

Dói meu ego.

Dói até mesmo o meu coração, o qual já acreditei ser de pedra como as pessoas gostam de compará-lo por aí.

— Não acredito que me apaixonei por Jason Samers. Argh! — Finalmente admito num sopro de voz o que lutei com todas as minhas forças para esquecer...

Não demora muito para a constatação me fazer chorar mais ainda — como se isso fosse possível, mas é — e aproveito o silêncio absurdo junto às luzes desligadas do banheiro para deixar os muros que fiz em volta de mim mesma desmoronarem. Eu me sinto uma covarde aqui dentro, fugindo de tudo e de todos para não verem como sou vulnerável. Como também posso sentir dor. Como também gostaria de ser amada. Como também posso ter o coração partido por uma segunda vez...

E como se não bastasse as minhas estruturas sendo pisoteadas pouco a pouco, o cheiro doce de todos os óleos corporais existentes entra azedo por minhas narinas. Pensei que isso fosse diminuir a dor que sinto, mas só piora. Tudo, absolutamente tudo, me lembra como fui ingênua em acreditar nas palavras vazias de Jason:

"[...] eu nunca fui apaixonado pela Aurora". Ah, tá! E aquele beijo foi o quê? Uma brincadeira de mal gosto? Porque, pela forma como você a beijava tão fervoroso e sedento, posso jurar que havia muito sentimento reprimido ali.

Para piorar, como se não bastasse a humilhação de chorar por causa de um guruzinho da shopee ridículo, eu não raciocinei direito e resolvi ir à pé, chorando, para casa. Logo, parecendo que alguma entidade a favor das desgraças alheias estava me observando e se divertindo com toda a cena, um carro em alta velocidade passou por cima de uma poça de lama — sendo que estamos num dos dias mais quentes do mês, mas, por coincidência, algum morador de Sunset Ville resolveu lavar a garagem naquele dia infernal —, sujando meu vestido amarelo favorito completamente.

Uma raiva absurda me atinge e tenho que me segurar para não gritar de ódio — novamente.

— Idiota mentiroso... Mentiro! Mentiroso! — Soco a água da maneira que posso, mas me faltam forças e acabo desabando pelo choro com direito a soluços e espasmos.

Com o corpo tremendo, estico a mão até a bancada mais próxima e pego a caixa preta da Insigma. Ainda chorando e, com um isqueiro caríssimo, acendo o que deve ser o meu quarto ou quinto cigarro nas últimas três horas. O gosto horrível desce por minha garganta, arranhando, rasgando e destruindo cada milímetro a frente, mas ao menos entorpece todo esse sentimento de merda.

Encosto a cabeça na borda da banheira e trago profundamente essa coisa fedorenta, soltando a fumaça esbranquiçada em seguida, a qual se perde na imensidão escura do banheiro.

Ela é Ella || ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora