Ella Rodrigues
O barulho do vidro se quebrando contra a parede rosa-bebê do banheiro incomoda meus ouvidos, mas não me importo o suficiente. Só pego mais um frasco de perfume e miro numa direção diferente, conferindo-se como a minha quinta ou sexta vítima só nos últimos cinco minutos.
Um sorriso perigoso de satisfação permeia meus lábios quando vejo o estrago, imaginando que seja um alguém específico, entretanto isso não é o suficiente.
— Preciso de mais... Muito mais. — Abro um dos extensos armários do banheiro a procura de algo que possa quebrar e me satisfazer no processo. Preciso descontar a raiva em alguma coisa, pois nunca gostei de dar surtinhos com gritos estridentes... Sempre preferi a parte física da coisa.
Acho frascos de vidro com máscaras faciais caras, e o sorriso no meu rosto se torna ainda mais amplo, imaginando todas as crueldades que poderia fazer com eles. Os agarro no colo e levo até o centro do banheiro para ter uma visão ampla do local que, com certeza, deve ser maior que a casa de muitas pessoas.
Pego um recipiente e jogo para cima e para baixo, decidindo a próxima mira; então, vejo que ainda não atingi a banheira.
Acerto o local em cheio.
O primeiro já foi.
— Esse é por Sebastian com seus óculos de merda. — Digo com a raiva transbordando minhas veias.
Pego mais alguns e vou fazendo o mesmo, a raiva só aumentando. Quanto mais me aliviar, menores serão as chances de machucar alguém de verdade.
Dois.
Por Olivia, aquela vaca plastificada.Três.
Por Jessika, a hippie do Paraguai com síndrome de perdedora.Quatro.
Por Aurora, a pug sem graça e metida a sabe tudo.Cinco.
Por Yoko com seu nariz enxerido até demais.Seis.
Por Angel e seu senso de justiça idiota.Sete.
Por minha progenitora.E oito.
Por Jason, aquele guruzinho da shopee mal agradecido.O que ele tinha na cabeça? Eu só estava tentando ajudar e fui tratada como um ser estúpido e inconveniente. Eu, literalmente, engoli meu orgulho por ele, o procurei pela escola para pedir desculpas, contei meu segredo mais sombrio e fui tratada como um verme! O idiota nem pensou nos meus sentimentos! Ele acha que sou o quê? Um boneca inflável que pode furar e remendar depois? Ah, mas não sou mesmo.
Fecho as mãos em punhos e meus ombros estão tão tensos quanto uma pedra.
— Eu sabia que essa droga de sentimentos só iriam me atrapalhar... — Grunho totalmente fora de mim.
"Compaixão é para os fracos, Isabella. Você tem que ser gentil, no máximo. Mais que isso, as pessoas podem achar que está fazendo caridade." A lembrança do meu pai sentado no sofá de casa, enquanto lia algo no ipad e fumava um charuto ao mesmo tempo que me dava um sermão, atingi-me em cheio.
Pisco, atônita.
"Papai, mas o senhor não disse que deveríamos cuidar uns dos outros?" A Ella de onze anos perguntou sem entender a contrariedade daquelas palavras.
Lembro-me também claramente da visão do meu pai franzindo as sobrancelhas e tirando os olhos do ipad, como se eu tivesse sido estúpida ou lerda demais para entender algo tão "simples".
"Quando eu disse para cuidarmos uns dos outros, quis dizer para defendermos a nossa família a todo custo, Isabella. Você é uma Rodrigues, e os Rodrigues jamais abandonam a família." O brilho nos olhos do meu pai era algo estranho... Era como se ele tivesse vivido exatamente o contrário daquilo ou que lembranças desagradáveis estivessem o consumindo/corroendo por dentro, não sei.
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Ela é Ella || ✔
Teen Fiction|| LIVRO 01 DA "TRILOGIA RODRIGUES" "As pessoas sempre culpam aquilo que não conhecem... Pensei que você fosse diferente." As patricinhas que conhecemos são sempre as vilãs das histórias ou as garotas que todo mundo odeia por serem superficiais. Só...