CAPÍTULO 19: Dizem que os lagos mais frios revelam paixões escondidas

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Ainda no mesmo fim de semana...

Jason Samers

As fagulhas do fogo subiam e desciam num processo hipnotizador para quem está pensativo como eu. Suspiro, bagunçando levemente o cabelo num ato frustado. Já estou a quase uma hora aqui e nenhuma resposta se quer vinha a minha cabeça. Sei que deveria estar me divertindo assim como meus pais e irmãos, mas simplesmente não consigo. Mesmo vendo todos se divertindo ao redor da fogueira, comendo marshmallows, conversando sobre banalidades e rindo com os nossos vizinhos, é tudo muito sufocante.

Minha cabeça parece que vai explodir!

Meus pais resolveram aproveitar o fim de semana para vir até a nossa casa de campo — aquela que trouxe Ella para atirar a algumas semanas — e esquecer um pouco as rotinas cansativas da cidade, principalmente para mim e Angel. Nós dois andamos muito mais estressados e ansiosos que o normal devido ao fim do ano letivo que se aproxima e com isso o início real da nossa vida acadêmica — sem pais, sem casa fixa e a mercê das nossas próprias escolhas. Ou seja, eu 'tô muito ferrado.

— Jay, você está bem? — Angel segura meu braço com delicadeza. Nem havia percebido sua aproximação, visto que estava tão concentrado em pensar no que farei da minha vida.

Claro que já tenho decisões pré-estabelecidas, mas ainda sim a sensação de impotência é maior. A probabilidade de conseguir aquilo que realmente quero é mínima. Poucas pessoas realmente conseguem se destacar no futebol americano profissionalmente e alavancar a carreira no processo.

— Sim. — Tento tranquilizá-la, mas minha irmã me conhecia bem demais para saber quando estou mentindo.

Nós, literalmente, crescemos juntos — uma dádiva e uma maldição de gêmeos. Não importa o que façamos, sempre estaremos conectados de uma forma bizarra. Mesmo que um de nós venha a morrer primeiro, sempre guardaremos um ao outro na lembrança da infância e adolescência, no fim das contas.

Angel suspira cansada e entrelaça nossos braços de uma maneira acalentadora e diria até que protetora. Ela sabe que não estou bem.

Entretanto, nós dois só permanecemos na mesma posição durante uns bons minutos, enquanto observamos o movimento ao redor. Nossos irmãos mais novos brincam com os filhos dos vizinhos e correm uns dos outros como se suas vidas dependessem disso. Já Camille e Willian, se divertiam ao conversar com os demais adultos.

Somente o céu estrelado, a fogueira enorme a nossa frente e as luzes artificiais das casas iluminam essa área da floresta.

Há outros jovens da nossa idade aqui também, mas a maioria está entretida nos celulares ou em ficar de casalzinho. Sorrio com isso. Já o resto, está conversando, comendo ou observando o nada — como eu, minha irmã e Aurora.

Sim, também estou surpresa pela presença da filha da diretora aqui.

Pelo o que entendi, Hazel — sua mãe — está tendo algo com Julio, que ficou viúvo a quase dois anos e tem uma propriedade aqui. Já a garota, está sentada num tronco de árvore caído, assim como nós, e tinha o queixo apoiado nas mãos, entediada.

Enquanto isso, Hazel conversa com o pretendente e Rosa — a filha mais velha e muito parecida fisicamente com a mãe — fumava um baseado escondida com o filho mais velho de Dalton, o mesmo garoto que quase atirei sem querer durante a infância.

Rosa, mesmo tendo um nome que remete a leveza e paixão, é o total oposto. Ela é como um furacão em meio às demais pessoas, tem uma áurea de violência e rebeldia vistos de longe e não se importava com os demais — uma versão autêntica dos filmes de garotas problemáticas e não muito diferente do cara que a acompanhava a alguns metros de distância de nós.

Ela é Ella || ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora