Capítulo 24

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Voltamos ao quarto como se nada tivesse acontecido. As palavras de Enid não me machucaram, eu sabia que ela tinha dito aquilo da boca pra fora, mas o meu reflexo de bater em seu rosto foi o que me deixou surpresa, por que eu fiz?

Eu estava exausta, cansada desse filho da puta. Ele estava mexendo com as nossas cabeças, ele queria nos separar, assim como ele me falou no porão. A cada dia que se passava a minha raiva por ele aumentava, o dia do baile é amanhã e nós temos que nos preparar, Mas como?

Eu e Enid não nos falamos desde a hora em que entramos no quarto. Vejo ela indo até o banheiro e pegando a caixa de primeiro socorros na prateleira, entro lá para tentar lhe ajudar mas tudo o que eu recebo é um olhar triste. Ela se sentia culpada por tudo, mas a única que deveria se sentir assim era eu.

—deixa eu ver— Falo pegando o algodão de sua mão e começando a limpar o sangue que ainda escorria, Enid estava sentada no balcão da pia com a cabeça baixa e eu fiquei entre suas pernas.

—me desculpa por isso, eu não sei o que deu em mim— Fui sincera e vejo Enid acenando com a cabeça.

—me perdoa por ter te falado aquilo, eu não deveria ter—

—tá tudo bem, eu sei que não foi por mal— Corto a sua fala e dou um leve sorriso para lhe confortar.

Os olhos azuis de Enid se encontram com o os meus e sinto uma sensação estranha no meu coração, como se estivesse pegando fogo, mas o que é isso? Volto a minha realidade percebendo que o nariz dela não para de escorrer.

—eu acho que você quebrou— Ela diz enquanto estou pegando outro algodão.

—se eu tivesse, acho que você estaria gritando de dor agora— Falo dando uma risada baixa.

—você acha que a nossa relação é tão tóxica assim?— Paro de limpar o seu rosto e me surpreendo com a pergunta tão de repente.

—é tóxica só por que eu te bati?—

Ela ri e levantou a cabeça para pensar em outra pergunta.

—não, tipo, eu sei que não somos a melhor parceria do mundo, e que brigamos as vezes..—

—as vezes?— Rimos juntas dessa vez, nem uma das duas poderia negar que não brigamos.

—.. na maioria das vezes tá bom e que ficamos matando esses cuzões aí. Mas Wednesday, eu não posso mais negar o que eu sinto por você, parece ser estúpido e que talvez você acha que possa impedir de fazermos o que nós fazemos, mas eu não me importo com isso, só com você—

Enid fala aquelas palavras e só o que eu consigo fazer é olhar para ela, a sinceridade em olhos me revela a verdade que saia de sua boca. Aquelas palavras me acertaram como lâminas no meu peito.

—Enid, eu...— Tenho a intenção de falar alguma coisa, mas nada saía. Não era porque eu não tinha nada em mente, mas o contrário. Eu queria lhe falar tanta coisa que os meu pensamentos não estavam se organizando.

—tá tudo bem, não precisa se esforçar pra tentar responder— Enid corta o silêncio que vinha da minha parte.

Vejo ela querendo se levantar da pia mas antes disso, seguro em seu rosto e selo os nossos lábios. Um beijo onde eu dizia o que eu sentia por ela. Enid segurou em minha nuca me puxando mais para si e eu não reclamava, as minhas mãos que estavam soltas antes agora estão passeando em suas costas. O gosto de seu sangue que tinha entre o nosso beijo era delicioso, e o encaixe perfeito de nosso lábios deixava o beijo viciante. Mas eu tinha que parar, temos um foco importante para amanhã ou tínhamos..

—vamos deixar pra depois— Falo separando o nosso beijo.

—não, vamos continuar vai, você me deve por ter me batido— Enid fala fazendo uma voz manhosa e me puxa de volta distribuindo beijos no meu pescoço e deixando um rastro até o meu maxilar.

—depois do nosso plano, amanhã temos muito trabalho— Disse me afastando de vez para que eu não falhasse com a minha própria fala.

—então depois?—

Enid me olhava com um sorriso de canto e com as suas pupilas dilatadas, suas bochechas estavam levemente coradas e a marca de sangue em seu nariz deixavam ela cada vez mais.. atraente.

—talvez, mas não é uma promessa— Disse enfim quebrando suas expectativas, eu amava ver o seu semblante cair.

—então não vejo a hora disso tudo acabar—

Enid fala e desce da pia me acompanhando para fora do banheiro. Antes de dormir revisamos passo a passo o plano para o dia seguinte, assim terminando aquele dia que foi um caos para revelar uma simples verdade.

Apagamos as luzes e cada uma foi para a sua cama, o único som que se ouvia era a leve chuva que caia na nossa janela.

—sabe o que eu tava lembrando Wednesday—

—o que?—

—que quando eu descobri que você matava a sangue frio aqueles homens, fiquei dois dias sem dormir—

—você tinha medo?— Perguntei rindo um pouco da situação.

—eu tinha medo de acordar no meio da noite com você em cima de mim com uma faca no meu pescoço— Enid disse entre risos e se virando. —é tão estranho lembrar disso agora, já que nós duas fazemos isso. Ter uma pessoa dormindo ao lado sabendo que faz o que faz é tão..—

—psicótico?—

—não era a palavra que estava procurando mas pode ser—

—bem, agora que não é só eu, somos duas assassinas dormindo lado a lado não é—

—daríamos um ótimo livro—

—hum, não, seria curto demais— Damos risada daquilo imaginado sobre isso. —vai dormir, até amanhã Enid—

—seria melhor se eu dormisse com você— Enid olha pra mim e faz uma carinha de cachorrinho e eu reviro os olhos, aceno com a cabeça para que ela viesse e nunca vi alguém atravessando o quarto tão rápido assim. Ela pula na minha cama e eu viro de costas para ela.

—até amanhã Wednesday— Enid diz abraçando o meu corpo. Eu me sentia bem com Enid mas não poderia perder o foco. Esse nunca foi o trabalho mais difícil da minha vida, mas não esperava tantas complicações assim.

Mas você sabe como é, uma vez no inferno só o diabo pode te ajudar.

Nota da Autorª

pouco tóxico essa relação graças a deus, até o próximo cap!!

A Assassina Dorme ao Lado (Wenclair)Onde histórias criam vida. Descubra agora