Capítulo 32 - "Jogando no ventilador"

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Atordoada até o sol nascer, fiquei. Mas não atordoada de trauma com a noite passada, mas com os meus próprios pensamentos. Tudo o que eu vi a Enid fazer, não foi só ela que fez, tinha algo a mais ou melhor, alguém.

Ainda na cama me viro para o outro lado do quarto e vejo Enid dormindo, serena. Como se não tivesse feito um dos atos mais violentos de sua vida. Me pergunto o que aconteceria se eu tivesse lhe matado assim que ela tentou me chantagear, tenho certeza de que haveria mais perguntas do que já tenho agora.

Olho para o relógio que marca sete em ponto. Aula. Tenho que ir para a maldita aula, me levanto da cama e vou direto ao banheiro, tive vinte e cinto minutos para fazer tudo. Abro a porta do banheiro e vejo Enid agachada olhando para debaixo de sua cama, ela se levanta de uma vez pelo susto da aporta e me olha.

—achei que iria demorar mais— Ela me fala em um folego só.

—já acabei— Respondo franzindo o cenho. Enid me dá um sorriso e vai até o banheiro, apenas ignoro e saio do quarto. Mais alguns minutos com ela e iria lhe encher de perguntas, mas eu ainda não descobri tudo, preciso me conter.

Em uma noite ela caça ratos pela floresta e no dia seguinte ela vai a aula como se nada tivesse acontecido, eu até encheria todo o meu ego me dando os parabéns por ter "criado" isso, mas metade dos aplausos eu vou ter que dar a outra pessoa.

Estou quase declarando a mim mesma que Enid está.. possuída, ela poderia estar seguindo apenas os seus instintos e se tornando o que ela é de fato. Mas como eu disse antes, métodos, os métodos mudam tudo. Enid certamente está mudada, as queixas que ela mesma tinha quando era lua cheia pararam. E eu vou descobrir o porquê.

Cansada pela tarde que parecia infinita, saio da sala enquanto ainda ainda estava em aula, escuto o professor me chamando mas apenas sigo meu caminho. Não posso deixar essas perguntas invadirem e criarem casa na minha cabeça.

Entro no nosso quarto e vou direto para o seu lado, abro suas gavetas e ainda não sei o que procuro, mas mesmo assim, insisto. Procuro em seu guarda roupa e até atrás dele, nada, não tinha absolutamente nada.

—mas que PORRA— Reclamo em voz alta batendo na porta do próprio guarda roupa. Espera.

Sinto uma diferença de batida entre a madeira e bingo! Uma porta falsa.

—que filha da puta— Falo rindo e começo a procurar uma brecha que indicasse que eu estava certa. Escuto um pequeno "click" como se destravasse alguma coisa. Uma pequena parte retangular da porta caí e com ela várias folhas junto.

Pego as folhas de uma por uma e as viro assim que me agacho. Se fossem apenas folhas, mas não, eram desenhos e fotos, pareciam antigos pela qualidade. Os desenhos eram tão macabros quanto as fotos. Crianças, mulheres um pouco mais velhas, todas estavam despidas em posições sexuais. Nas fotos, cada vez que eu passava para outra, era uma garota diferente. Algumas já aparentavam estar sem vida.

Por que Enid guardou isso?

Fecho meus punhos com força quase amassando as fotos que estavam na minha outra mão. Balanço a cabeça tentando desfazer qualquer pensamento em que Enid estaria envolvida nisso. Pego as folhas que continham os desenhos e procuro detalhes que já tinham até demais. Percebo que os desenhos tem características para ter movimentações, Enid mal pega em uma caneta quem dirá fazer um desenho desses.

Xavier!

O único de toda a escola que tinha talento para desenhos assim. Mas porque Enid escondeu isso de mim?

Escuto a porta do quarto se abrindo revelando Enid, ela estava séria e olhava para mim.

—o que tá fazendo aí?— Ela me pergunta e eu apenas levanto as mãos mostrando as folhas, Enid continuou olhando para mim, mas não disse nada até eu quebrar o silêncio.

—por que você não me mostrou isso? O que deu em você pra não querer me mostrar essa merda?— Falei caminhando até sua direção ficando a frente de sua cama e um pouco distante de onde ela estava. Enid apenas abaixou sua cabeça.

—eu pensei que era melhor esconder essas coisas horríveis de você— Enid finalmente me responde, dessa vez me olhando nos olhos mas ainda de cabeça baixa.

Eu suspiro alto e fechando os olhos com força. Sinceramente, eu não sabia se eu estava com raiva ou aliviada, os dois pareciam inúteis e bobos demais para começar uma discussão.

—tá, tudo bem. Olha, não faz mais isso, achei que tínhamos concordado que não haveria mais segredos-—

—é eu sei, foi culpa minha, me desculpa— Ela se desculpa e eu sento em sua cama, olho novamente para as fotos e desenhos, uma raiva desnecessária surgi dentro de mim. É, é desnecessária pois já matamos ele, não tem mais nada a fazer...

—onde você as encontrou?— Pergunto a Enid que começava a se aproximar de mim.

—foi na ala dos meninos, no quarto do Xavier. Estavam escondidas, foi no mesmo dia em que você decidiu ir na casa de novo— Ela me fala e uma ideia começava a aparecer.

—as buscas por ele ainda continuam— Sorriu falando aquilo —se ele é tão especial assim, então vamos mostrar quem realmente era— Termino e Enid me olha franzindo o cenho, ela ainda não entendeu.

—nós Enid, vamos espalhar tudo isso aqui pela escola—

A Assassina Dorme ao Lado (Wenclair)Onde histórias criam vida. Descubra agora