A celebração dos deuses

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O inverno já estava invadindo Kattegat. Apesar de apenas estar só no começo, os moradores já estavam sentindo a brisa gélida da estação invadir o corpo e a respiração ficar cada vez mais pesada. Flocos de neve caiam na cabeça das pessoas e formando uma camada de neve em algumas casas, chão e muros altos que protegiam o local.

Semanas se passaram e com ela, o hematoma causado pelo chute de Bispo Heahmund nas costas de Maeve já havia sarado. Nenhum ferimento foi lhe causado além daquele. Ela lutou na guerra e não obteve nada de arranhões ou cortes profundos. O que era estranho vinda de uma guerreira em meio a uma intensa batalha e com isso, causavam um certo rumor e tumulto entre os moradores da cidade.

"Ela teve sorte, somente isso"

"Talvez ela seja uma bruxa que veio trazer a ruína para todos nós"

"Os deuses nunca abençoaria uma forasteira. Ela é repugnante"

Comentários e mais comentários era ouvidos pela ruiva ao caminhar lentamente pela cidade, com seu manto favorito dada a ela por Ubbe. Ela não podia negar. Tentava não se importar. Tentava ignorar... mas ouvir certos boatos a deixavam triste ou brevemente incomodada.

A beleza da jovem era formidável. Seu cabelo era principal atração. Forte tom avermelhado e com algumas traças nas laterais, deixava seu rosto pálido e de aparência angelical mais visível. Inveja, era o que causa nas mulheres habitantes da cidade e admiração vindo das crianças que, por sua ingenuidade de pouca idade, não se deixavam se envenenar pelo que suas próprias mães diziam sobre a ruiva.

O manto de pele de urso negro era comprido, arrastando um pouco no chão. Maeve usava um vestido grosso esverdeado por de baixo daquela vestimenta, mas fazia aquilo unicamente para esconder o óbvio: sua gravidez.

Em poucas semanas de recuperação, sua barriga começou a mostrar uma certa saliência e ficar mais evidente nas roupas.

As curandeiras que lhe ajudaram em sua recuperação, fizeram o favor de divulgar essa notícia para todos de Kattegat. De fato, apesar de Maeve ter lutado e sacrificado sua vida várias vezes pela segurança da cidade, era poucas as pessoas que lhe respeitavam ali.

Contudo, a beleza e a gravidez não era a única coisa que estavam chamando a atenção dos moradores.

Os lobos caminhavam ao lado de sua dona, dois de cada lado. Seus pelos espetados e felpudos estavam cada vez mais belos, mais únicos. Era como se Freya depositasse toda sua beleza naquelas criaturas. Desde pequenos chamavam a atenção e despertando inveja de todos que os viam.

Eles estavam cada vez maiores, chegando a estarem até a altura da cintura de Maeve. Ubbe e Bjorn diziam que eles chegariam a ficarem cada vez mais maiores do que estavam, pois aqueles seres tinham poucos meses de vida.

A sobrevivente ficava um pouco apreensiva, pensando na possibilidade de que alguém pudesse rouba-los dela ou fizesse algum mal. Balançou a cabeça e fechou os olhos rapidamente para ignorar esse pensamento infante e continuou a caminhar pela cidade.

Ela não queria dar mais motivos para as pessoas a odiassem. O que deve ter causado mais ainda esse sentimento pelo que a mesma fez a Margrethe, uma cicatriz no rosto da escrava. Maeve não se arrependia do que fez a ela, o que na verdade, tal arrependimento nunca veio em sua mente ao olhar para a loira. Contudo, apenas ficava pensativa no que poderia causar para as pessoas do lugar se mais alguém tentasse fazer mal aos seus lobos novamente. Eu provavelmente faria pior, ela pensou.

Despertou-se seus pensamentos quando chegou na praia e encarando o imenso mar azul. Seus lobos sentaram-se do seu lado, apenas Hogan, o lobo avermelhado, que roçou sua cabeça na barriga de Maeve fazendo-a sorrir curto com isso e apoiar sua mão na cabeça do animal. Voltou sua atenção no oceano, vendo as ondas batendo umas nas outras e a maresia vindo de encontro ao seu corpo. O frio do inverno ficava mais intenso, mas não afetava a ruiva pelo manto grosso que lhe aquecia.

I See Fire - Ubbe RagnarsonOnde histórias criam vida. Descubra agora