O julgamento

560 42 22
                                    

O inverno estava em seu mais alto ápice durante todos aqueles meses intensos em Kattegat. A névoa mais gélida que o normal, toda a cidade coberta por camadas brancas pesadas e densas. A respiração estava mais evidente em ar branco, a pele dos moradores ficava mais seca e mais fogo nas lareiras eram acesas noite e dia. Sem parar.

Frio... nada mais.

A grama não era mais vista, nem as montanhas. Tudo era coberto e inundado por uma camada de ar branco. O céu cinzento, nenhum pássaro à vista.

O inverno estava durando mais tempo que o costume. Os comerciantes não vendiam quase nada. Os animais morriam rápido, seja pela fome ou pelo frio. O mar não dava mais alimentos e até mesmo os moradores podiam jurar que ele iria congelar também.

"Um castigo dos deuses". Os habitantes pensavam e diziam entre si. Era óbvio imaginar o motivo de tal frase dita. "Ela não é da nobreza e nem nunca será". Sussurros e mais sussurros eram ouvidos. "Uma maldição, é isso que ela é!".

Calúnias, calúnias, calúnias...

Maeve estava morando em Kattegat há um bom tempo e desde então, a grande maioria dos habitantes a tratavam mal. Inveja? ela começava a se questionar se era mesmo isso. Ambição? Talvez não... o que eu tenho para ser roubado?. Mais e mais perguntas surgiam em sua cabeça toda vez que pegava alguém olhando feio para ela. Bom, isso nos primeiros meses que estava na cidade.

Com o tempo, já havia se acostumado. Somente dava importância a quem era gentil com ela e claro, quem a mesma considerava amigo. Porém, os comentários começaram a ser mais ofensivos quando sua gravidez foi anunciada entre os moradores. Ela não se importava quando diziam que a queria morta, decapitada, torturada... ela se importava com que dizia a seu bebê, seu filho. Seu primeiro filho. Ah, não... aquilo ela não podia tolerar.

"A criança deve ser mais uma praga de Odin. Deve ser...". O primeiro boato surgiu assim e chegou rapidamente em seus ouvidos. "Espero que ela morra assim que der à luz a criança". O segundo boato foi mais forte, mais hostil. "Os deuses devem puni-la". Mais e mais um boato. Aquilo a enfureceu muito. Ficou tão aborrecida que jurou ir atrás do verme que ousasse dizer mal a sua criança novamente. E com aquela postura agressiva, não teve mais cochichos, suposições, nada.

A rainha Lagertha tomou partido da dor da ruiva e ofereceu suas escudeiras como proteção a mais enquanto a mesma repousava durante a gravidez. Ubbe ficava ao lado dela todos os dias e noites, ajudando-a como podia. Vez ou outra, ameaçava alguns homens e até mesmo mulheres que se atravessem a falar mal de sua mulher na sua frente. Obviamente ninguém fazia. Bjorn, durante alguns momentos, lhe fazia companhia. Estava ansioso pela chegada de seu primeiro sobrinho e ainda mais por Maeve confirmar ao dizer que era um menino.

Apesar desses cuidados, ela ainda pegava algum morador lhe olhando furiosamente e sim, para sua barriga. Thora havia dito que tudo isso começou quando Maeve cortou o rosto de Margrethe e deixou uma pela cicatriz no canto do olho, seguindo pela bochecha e terminado ao final do queixo.

Margrethe era uma escrava que quis ser da nobreza, mas nunca foi. Insultou Lagertha e sua autoridade como rainha. Insultou Bjorn e sua falta de poder unicamente por ser filho de Ragnar. Insultou Hvitserk por traição e Ivar por sua deformidade, ganância e ambição. "Ele não pode ser rei. Um rei não é um aleijado", ela disse e isso chegou aos ouvidos de Maeve. No começo, a ruiva quis matá-la ou fazê-la pagar por tal comentário, porém se questionou que a própria vida de Margrethe como escrava já era uma punição. Afinal, foi a ruiva que instigou Lagertha a escravizá-la de novo. Porém, claro... O que a escrava mais insultou foi Ubbe por ter escolhido Maeve ao invés dela.

I See Fire - Ubbe RagnarsonOnde histórias criam vida. Descubra agora