Louis terminou de fechar a mala e a colocou no chão com um suspiro alto. Olhou ao redor do quarto, observando os pôsteres de futebol que ele não veria mais todos os dias, o cobertor manchado de esmalte roxo - por culpa de Lottie - que ele não usaria mais para se cobrir à noite.Seus olhos vagaram mais alguns segundos por aquele quarto e por aqueles móveis que o acompanharam por praticamente sua vida inteira, até que as íris azuis pararam no porta-retrato em cima da mesa de cabeceira. Louis havia juntado dinheiro para comprar dois daquele porta-retrato (não era nada muito chique, mas quando se é um adolescente desempregado tudo se torna absolutamente caro) e para revelar as duas fotos - uma delas, era a que ele encarava naquele instante.
Uma foto preto e branca, em que ele e Harry estavam frente a frente, separados pela porta de um carro, e fazendo careta um para o outro. Era uma foto tosca e um pouco borrada - afinal, havia sido Lottie a fotógrafa e ela só tinha 10 anos na época -, mas ainda assim ocupava um espaço muito grande do coração de Louis. Talvez por ter sido um dia feliz, talvez pelo rosto de Harry estar tão leve e brincalhão... haviam tantos motivos, mas independentemente deles, seria para sempre sua foto preferida.
Em um impulso - um impulso do qual ele iria se arrepender em apenas algumas semanas -, Louis pegou o porta-retrato, tirou a foto de dentro dele, e a guardou na mochila, decidido em apenas deixá-la por perto, só como parte de uma lembrança da escola. Uma lembrança de casa.
- Vamos? - sua mãe perguntou, aparecendo na porta do quarto com um sorriso no rosto - É pouco mais de uma hora até o aeroporto de Londres, mas ainda temos que buscar Lottie na casa dos seus avós. E você não pode perder o voo.
- Só falta essa mala. - Louis disse, andando na direção da porta, mas sendo impedido por Jay de sair do quarto.
- Falta mais uma coisa também. - ela disse e apontou para a janela.
Louis franziu o cenho e abriu a cortina do quarto, observando, na calçada logo abaixo, Harry parado, mexendo sem parar com as mãos e parecendo falar sozinho, porque não havia ninguém perto dele.
- Ele não me disse que vinha. - Louis falou, de repente sentindo um bolo na garganta, algo que havia se tornado comum nas últimas semanas.
- É claro que ele viria. Vai lá embaixo falar com ele e assim que vocês terminarem eu e Mark saímos e guardamos essa mala pra você.
Louis assentiu, apertou a alça da mochila um pouco mais forte, encarou sua mãe mais alguns segundos, para ter coragem suficiente, e então saiu do quarto e desceu as escadas de um jeito mais rápido do que era seguro. Assim que abriu a porta de casa, Harry parou de andar de um lado para o outro na calçada e os olhos verdes encontraram os olhos azuis.
- Oi. - Harry disse, um pouco mais alto para que Louis o escutasse da varanda - Oi.
- Você já disse isso. - Louis respondeu, se aproximando dele devagar e sem largar as alças da mochila, tentando de algum modo acalmar suas mãos e seu coração dentro do peito.
- É, eu sei. - os dois se encararam e sorriram, igualmente nervosos - Você já está indo?
- Já. Só falta guardar algumas malas.
- Entendi. Bom, eu só... - Harry pigarreou, encarando o chão por alguns segundos; depois de quase um minuto inteiro ter se passado, ele voltou os olhos verdes para Louis, mas agora eles estavam marejados e Louis pensou que iria quebrar em milhões de pedacinhos ali mesmo, na calçada de casa - Eu não vou te dizer tchau. Só vou te dizer que espero que você seja muito feliz e não estou falando isso só da boca para fora, eu realmente torço pra que você seja. Independentemente de qualquer coisa, independentemente da gente. Então... - Harry estendeu uma mão, o que fez Louis dar uma risada fraca, porque aquilo era ridículo, tudo aquilo - Boa sorte na faculdade, Louis. Boa sorte nos Estados Unidos. E que todos os seus sonhos se realizem.
- H...
- Por favor. - Harry sussurrou - Eu só queria me despedir. Não quero deixar nada mais difícil.
Louis respirou fundo e assentiu. Nada daquilo era fácil para ele também, porque ele não queria que nada daquilo existisse, para início de conversa. Ele queria o intercâmbio, queria aquela experiência que ele sempre sonhou, ele queria a Universidade. Mas ele também queria Harry e a vida que ele havia construído com ele nos últimos dois anos em Brighton. E, é claro, ele não podia ter tudo. Ninguém nunca pode ter tudo.
- Obrigado. - Louis respondeu, apertando a mão de Harry - Espero que você seja feliz aqui também.
Os dois se encararam alguns segundos e o mundo pareceu parar. Louis pensou em dizer o quanto sentiria falta de Harry e Harry pensou em dizer que provavelmente nunca pararia de pensar nele, mas nenhum dos dois falou nada e ambos iriam se arrepender por muito tempo dessa decisão.
O barulho da porta da casa de Louis se abrindo e de Jay e Mark carregando as malas pela varanda até o passeio de pedra quebrou o encanto entre eles.
- Boa viagem. - Harry respondeu, puxando sua mão de uma vez, como se tivesse levado um choque; ele acenou para Jay e Mark, sorrindo educadamente, e então deu as costas para Louis, começando a se afastar.
- Obrigado. - Louis respondeu, mas Harry já estava longe demais para escutar.
Durante todos os minutos que seus pais levaram para guardar suas malas no carro, Louis continuou parado no mesmo lugar na calçada, esperando Harry olhar para trás.
Harry não olhou para trás. Então, Louis entrou no carro, bateu a porta e colocou fones de ouvido, pronto para aquela uma hora torturante de viagem até o aeroporto de Londres depois daquela torturante conversa que ficaria na sua cabeça por dias, ele sabia bem disso.
Quando o carro deu partida, Harry olhou para trás.
- Tchau, Louis.
[...]
"Nós amamos com um amor que era mais do que amor."
- Edgar Allan Poe
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Vizinhos
RomanceHarry e Louis tem um passado - um passado sobre o qual eles não comentam e nem pensam sobre, mas que gera mais brigas do que deveria. Entretanto, Harry e Louis também tem um presente: cada um com seu filho, mas morando em casas vizinhas. Em meio a b...