2. O beliscão

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Louis tinha certeza de duas coisas sobre a sua vida:

ele faria tudo e mais um pouco por sua filha, Maisie.

e

ele faria tudo e mais do que mais um pouco por sua filha.

Por isso, nesse exato momento, ele estava quase espancando a porta da frente da casa do seu vizinho. E ele estava fazendo isso mesmo sabendo que perderia minutos preciosos de vida numa discussão inevitável - afinal, era ele e Harry, o que eles faziam além de discutirem? - e que seria uma discussão que ele acabaria por revisitar obsessivamente nas madrugadas de insônia em frente ao computador, quando tudo o abandonava, inclusive a criatividade para terminar seu segundo livro, mas não a memória da briga e de todas as frases ditas nela.

O motivo de estar quase quebrando a porta da frente da casa ao lado nesse momento era porque Theo, o filho de Harry, havia dado um beliscão em Maisie e, como foi dito, Louis fazia de tudo por sua filha, inclusive gastar sua voz e paciência - e com isso acabar machucando um pouco seu coração também, mesmo que ele não se desse conta disso conscientemente - brigando com Harry.

- Harry, eu sei que você está em casa! - Louis falou mais alto. - Seu carro está na garagem, seu... - Louis iria exclamar um "idiota" bem alto, mas Maisie segurava sua mão com tanta força que foi a única coisa que o fez lembrar que estava com a sua menina ali naquela varanda - Harry, podemos conversar? Sei que você tem que ir trabalhar daqui a pouco e eu tenho um livro pra escrever, então que tal sermos adultos?

Louis deu um sorriso reconfortante para Maisie, que ainda estava com as bochechas vermelhas pelo choro de minutos atrás e os dois olhos azuis - iguais aos do pai - inchados.

- Você vai brigar com o H? - Maisie perguntou baixinho.

- Não, claro que não, querida. - Louis respondeu - Só vou conversar com ele. Ele precisa saber que o Theo te beliscou, porque isso não foi certo, não foi legal, e ele precisa dizer isso ao Theo pra que ele não faça com mais ninguém. Entendeu?

Maisie assentiu devagar, não parecendo muito confiante nas palavras do pai.

Segundos depois, a porta azul da casa foi aberta e Louis respirou fundo para não sair gritando na cara de Harry, que já estava com o nariz empinado como se fosse o dono de toda a razão do mundo.

- Louis. - Harry cumprimentou, daquela forma dura e seca de sempre; seus olhos encontraram os de Maisie e toda a sua expressão se suavizou e um sorriso surgiu - Oi, linda. Tudo bem?

- Não, não está tudo bem. - Louis respondeu, sem nem deixar a filha pensar em uma resposta, segurando firme na mão dela e entrando na casa de Harry sem ser convidado (ele nunca havia sido convidado, honestamente) - Minha filha estava brincando no jardim com um garoto chamado Theodore, não sei se você conhece, um garoto que eu estou vendo que está escondido atrás da cortina, e que deu um beliscão na Maisie.

Harry suspirou e encarou a sombra do filho atrás da cortina da janela da sala.

- Theo, sai daí. - disse, firme; o garotinho de seis anos, apenas um ano mais novo do que Maisie, mas que tinha a energia de pelo menos 15 garotos da mesma idade dentro de si, saiu de trás da cortina com os olhos castanhos encarando o chão. - Olhe pra mim. - e Theo olhou - E agora explique ao Sr. Tomlinson o que aconteceu, por favor.

Theo encarou o pai por mais alguns minutos e Harry assentiu, incentivando o pequeno a falar.

- A gente estava brincando lá fora, certo? - Theo começou - Depois que chegamos da aula. Ali na grama da sua casa, Lou.

- Certo. - Louis assentiu, atento ao relato do garoto de seis anos.

- E a gente estava desenhando de giz na calçada, meu pai deu giz pra gente, e eu queria desenhar um urso e comecei a desenhar, mas então ela... - Theo apontou para Maisie, que estava levemente escondida atrás das pernas do pai - Ela começou a rir e falar mal do meu desenho! E ela ficava falando que estava feio e que eu não sabia desenhar e que eu nem sabia o que era um urso, então eu fiquei irritado.

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