6. Fico te devendo uma

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No dia seguinte, Louis estava encarando a tela do seu notebook sentindo toda a sua alma e vontade de viver se esvaindo aos poucos do seu corpo, já que ele estava sentado encarando aquela tela em branco há pelo menos duas horas sem nenhuma perspectiva de que algo mudaria sobre isso.

Era simplesmente frustrante. Ele nunca havia tido problemas para escrever, desde a primeira vez que sentiu aquele lapso de criatividade passando pela sua mente quando ainda era criança e escrevia todas as suas histórias sobre super-heróis à mão. Aquele Louis de 10, 11 anos que escrevia folhas e mais folhas sobre aventuras e perigos hoje teria vergonha de ver que o atual Louis, de quase 29 anos, e que era um autor publicado, agora não conseguia nem mesmo escrever uma frase completa. 

Louis sabe exatamente o que precisa escrever: ele precisa de um romance de tirar o fôlego, um romance que faça os leitores desejarem estar dentro daquela história, um romance cheio de momentos apaixonantes, com personagens que cativam, que façam os outros rirem e chorarem na mesma intensidade. Um romance viciante, um romance que venda sem parar como o seu primeiro, que mal parava nas estantes das livrarias.

E isso também pesava em seus ombros: seu primeiro livro, "Only The Brave", havia sido elogiado em todas as reuniões com seu editor, foi número 1 em diversos jornais e um best-seller dentro da literatura inglesa. Obviamente muito dinheiro caiu na sua conta bancária, mas com isso também veio a sensação de querer mais: afinal, se Louis era um autor prodígio, como o apelidaram, então ele obviamente conseguiria mais, certo?

Não, nada certo. Porque apesar dos e-mails, ligações constantes e reuniões com seu editor, Matt - e de fugir dele toda vez que ia até Londres levar Maisie para a casa de Lisa -, apesar de ouvir sempre a conversa de que não havia nenhuma pressão, Louis se sentia pressionado de todos os lados. Ele não queria ser um autor de um livro só, não queria arranjar outro emprego porque entrou numa crise aparentemente infinita que o impedia de escrever qualquer coisa decente - ele queria voltar a ser o Louis de treze anos que descobriu seu talento dentro dos romances e que escreveu pela primeira vez no computador pensando que havia encontrado a coisa mais brilhante do universo e que havia descoberto o rumo da sua vida.

E agora todos os seus dias pareciam um fracasso. Claro, havia Maisie, que simplesmente melhorava tudo com aquele seu sorriso com um dente mole e o rostinho parecendo esculpido por anjos, com aquelas duas bolinhas de gudes azuis nos olhos que sempre estavam brilhando de animação e inocência que apenas quem ainda viveu muito pouco do mundo tem. Apenas ela conseguia efetivamente melhorar seus dias, mas tudo ia embora quando ele precisava se fechar dentro daquele escritório com aquela tela em branco que quase gritava em seus ouvidos.

- Pai. - a voz de Maisie tirou Louis de seus devaneios sufocantes e ele girou na cadeira para encarar a filha, que usava um moletom gigantesco que ia até seus pés cobertos por meias de pelinhos lilás - Estão batendo na porta.

- Obrigado. - Louis disse, ficando de pé e sorrindo para a filha - Como vão os seus desenhos?

- Muito bem. Eu sou muito boa. - Maisie disse, voltando para o seu quarto enquanto Louis ria, porque, bom, ele definitivamente não precisaria ensinar sua filha sobre autoestima.

Louis bocejou, foi até a sala e abriu a porta. E ele com certeza não estava esperando ver Theo parado ali, vestido em uma roupa de jacaré (até mesmo com um rabo), com uma mochila nas costas e um sorriso - sem dois dentes - de orelha a orelha.

- Oi, Lou! - o garoto exclamou - Você já jantou?

Louis franziu o cenho, olhando ao redor, mas não havia ninguém ali... era realmente só Theo.

- Eu... - Louis respondeu, confuso - Você está aqui sozinho? Veio sozinho?

- Sim! Eu sou independente. Meu pai sempre diz isso. Meu pai Ryan. Você conhece ele, né?

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