Epílogo

522 72 35
                                    


DOIS ANOS DEPOIS

– Fala sério...

– Pai, você disse que tinha olhado a previsão do tempo.

– Mas eu olhei!

– Então por que você decidiu vir justamente no dia em que está nublado? – Harry perguntou calmamente, olhando para o céu de início de noite logo acima deles enquanto suspirava tranquilamente.

– Preciso lembrar que foram vocês três que decidiram passar mais um dia em Lagos em um complô contra mim? Ontem o céu estava limpo. – Louis falou, encarando Harry, que apenas deu de ombros, e em seguida olhando para Maisie e Theo, que estavam se empurrando "disfarçadamente" para conseguirem pegar a bolsa térmica que Harry havia os feito carregar até ali e que estava cheia de lanches (que eles não tiveram permissão para comer em nenhum momento durante aquela caminhada). – Vocês dois, parem agora.

– A gente já pode comer pelo menos? – Theo perguntou, sentando na areia.

– Vocês deveriam ser processados por maus-tratos às crianças. – Maisie disse, sentando-se ao lado de Theo. – Onde já se viu deixar a gente sem comer por tanto tempo?

– Isso por que meu pai adora dizer que eu preciso comer bem porque estou em fase de crescimento. – Theo completou.

– Eu gostava mais deles quando eles eram crianças fofinhas que andavam de galocha e tranças por aí. – Louis sussurrou para Harry, que riu – Essa fase dos dez anos é simplesmente... terrível.

– Eu concordo, mas digo isso como alguém que ama os dois incondicionalmente.

– Ah, claro. Incondicionalmente.

Os quatro estavam em Porto Covo, Portugal, o destino final daquela viagem em família de julho que já durava uma semana e meia. Tudo começou no trem de Brighton para Londres, onde deixaram as malas na casa de Lisa e foram direto para o Observatório de Greenwich, um lugar que Louis queria levar Theo e Maisie há meses – talvez anos, por assim dizer. No final da tarde, pegaram o trem de 50 minutos para Lisboa e ficaram por lá durante seis dias, conhecendo museus, parques, restaurantes e fazendo compras. Depois desses dias, foram para Lagos, uma cidade na região do Algarve, mais ao sul do país, onde visitaram os famosos penhascos e as praias paradisíacas (para o desespero de Harry). Ficaram por quatro dias (apesar de o combinado ter sido três), porque Maisie e Theo gostaram muito das praias de areia, e não de pedras, e por isso estavam com o corpo quase todo vermelho, porque não havia filtro solar que resistisse ao tempo que as duas crianças ficavam esparramadas por aquela areia, rolando de um lado para o outro, montando castelos, cavando buracos e depois correndo até o mar, onde ficavam ainda mais tempo.

Hoje, finalmente, depois de pouco mais de duas horas de carro com Theo e Maisie discutindo por conta da música – cada um queria escutar uma coisa diferente –, enquanto Louis usava um headphone exageradamente grande nos ouvidos exatamente para não escutar a discussão e Harry dirigia dando risada dos argumentos que as duas crianças inventavam (como quando Maisie disse que eles deveriam escutar alguma música famosa de verdade, ao invés de Imagine Dragons, que era o que Theo queria ouvir), eles chegaram a Porto Covo.

Porto Covo... o motivo de toda aquela viagem. Claro, também havia o motivo de que as crianças estavam de férias e elas conseguiam enlouquecer Louis e Harry dentro de casa – por isso Louis planejou toda a viagem, meses antes, com a desculpa de que pelo menos eles os enlouqueceriam em uma praia –, mas o motivo principal estava ali, bem diante deles: o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.

Ou, como Harry aprendeu a dizer apenas para implicar com Louis, era mais uma praia. Porém, mais uma praia completamente longe das luzes da pequena cidade e que, por conta disso, possibilitava uma visão de tirar o fôlego: em noites de céu limpo, era possível ver a Via Láctea a olho nu diretamente dali, apenas sentado na areia e olhando para cima.

VizinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora