Dois meses se passaram após a viagem ao sul. Desde então, mantenho um relacionamento com Otávio, mas apesar da insistência dele, não voltei a morar em sua casa. Entretanto, fui docemente coagida a aceitar um apartamento na cobertura de um prédio luxuoso de presente, onde ele vem dormir todas as noites quando não precisa viajar.
O imóvel é um exagero. Todas as ferragens de metal do apartamento estão em dourado. Nas janelas, os vidros são de bronze espelhado. O piso reflete tudo acima dele de tão brilhante. O teto é alto de tal maneira, que parece inalcançável, combinando com o preço da mobília que veio inclusa, pois são móveis exorbitantemente caros.
Cada elemento parece ter sido meticulosamente escolhido pelo decorador para compor um ambiente de luxo. As poltronas acompanham o mesmo conceito contemporâneo do sofá, veludo bege, pernas douradas e um estofado botonê. Claro que tudo de extremo conforto, mas não consigo deixar de pensar no quanto deve ter custado.
A mesa de jantar parece tirada de um palácio, cadeira estofadas com encosto também botonê, a base de vidro bronze espelhado e a estrutura em madeira maciça, seguindo uma variação de tons creme. É um belo móvel, mas também parece exageradamente caro. Os quadros de artistas famosos nas paredes e as cortinas de seda pura em tom de marfim são um esplendor à parte.
Confesso que sinto uma certa perturbação com tamanha ostentação.
A prioridade do senador agora é me aproximar da sua família. Na frente dele, as pessoas não se opõem a minha presença, já que todos dependem basicamente do seu dinheiro ou influência. Mas quando não está por perto, fica claro que não sou bem-vinda. Ainda tenho o carimbo de puta na minha testa e mesmo que estejam envolvidos em escândalos até o pescoço, se acham melhores do que eu. Não entendo pessoas assim.
A ideia do casamento é algo que estou conseguindo ganhar tempo com Otávio. A paixão que venho nutrindo por ele, não parece suficiente para me fazer cogitar formarmos uma família. Um dos fatores para ainda evitar algo oficial entre nós, é a bagagem de parentes pavorosos que ele tem. Qual é a graça de sacramentar uma relação com todos os convidados me olhando torto?
É início da tarde quando chego da câmara de vereadores de Belo Rio ao edifício onde estou morando, Solar Elegance. Minha cabeça está explodindo da exaustiva sessão plenária que acabei de enfrentar. As engrenagens do lugar só funcionam na base de segundas intenções e isso me tira do sério.
Como parlamentar, meu trabalho é focado nas mulheres. Acompanho de perto as ações da prefeitura, encaminhando sugestões de melhoria para os serviços prestados à população feminina. Infelizmente, minhas propostas estão engavetadas no plenário e constantemente ignoradas por outros vereadores. É visível que minhas pautas não agradam a eles.
Eu fico abismada como as coisas nesse país são travadas para melhorias que beneficiam o cidadão comum.
Saio do elevador, que me deixa dentro do meu apartamento. Tiro os sapatos pelo caminho, enquanto me arrasto até o meu imenso sofá. Caio sobre ele no instante em que Otávio surge no corredor vindo do quarto, me olhando com pena. Ele está sem camisa, usando apenas uma calça de algodão. Senta ao meu lado, pega meus pés e começa a massageá-los.
— Sabe que não precisa trabalhar — diz, me lembrando da sua preferência para que eu fique em casa sem fazer mais nada da vida.
— Não vai rolar, Otávio, esquece isso — peço.
— Vou desistir por hora, mas depois vou te lembrar que quero você disponível para mim o tempo todo — avisa subindo as mãos pelas minhas pernas.
— Dá uma folga, estou cansada — reclamo em tom de brincadeira, notando o que ele está querendo.
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A VIDA NO MORRO COMEÇA CEDO
RomancePrêmio: 🥈Concurso Cerejeiras em Flor Traumas podem virar sonhos? Dalena e Dominic se conhecem na adolescência, depois que ela foge de casa para dar um fim aos abusos crescentes do seu padrasto, enquanto ele já trabalha para o tráfico. No entanto, a...