▓ CAPÍTULO QUATORZE ▓

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Tudo certo... só estamos na cama praticamente abraçados com Branca se espremendo em nossos pés. Como vim parar aqui, eu não sei, mas não vou criar um bicho de sete cabeças, pois dormimos completamente vestidos com uma leoa de estimação de guarda. O único mal intencionado aqui é o meu coração, que suspira como uma mocinha apaixonada.

Embora eu não tenha bebido ontem, a sensação que ficou nas minhas lembranças é de que eu estava fora da minha realidade. Para falar a verdade, talvez, se eu tivesse bebido, não estaria vestida agora e teria deixado a fã louca dentro de mim assumir o controle da situação.

Estou face a face com Dom, naquelas situações que ficamos imóveis para fazer o tempo durar um pouco mais. Minha mão descansa sobre o seu pescoço, e a dele em minha cintura. Por baixo dos meus dedos, sinto algumas das veias dele pulsarem. Confesso que tenho uma enorme vontade de explorar a sua pele, mas a minha coragem é insuficiente para o tocar como eu gostaria. Permaneço na minha calma fingida, vivendo uma das minhas fantasias.

Será que eu poderia acabar tudo com Otávio e me jogar nos braços de Dom? Eu mudaria toda a minha vida para investir de verdade na nossa história, sabendo que pode ser preso a qualquer momento, ou pior, morto a qualquer momento? Obviamente, o senador também me expõe a essas questões, o fato é que um político corrupto não corre o mesmo risco que um criminoso comum e também não tem o mesmo peso para no meu coração. Por instante, finjo que podemos ser um casal. Meu peito se aquece com a paixão que sinto por ele, enquanto o meu estômago se contorce de medo.

Dom dá sinais que está prestes a despertar. Rapidamente, fecho os meus olhos e recolho a minha mão, apertando-a contra o meu peito em punho fechado. Faço um esforço gigante para me manter séria, tentando controlar a imensa vontade que tenho de sorrir. Em vez disso, me concentro no seu cheiro que perfuma o travesseiro onde descanso minha cabeça.

Por um bom tempo, Dom não se move, tornando mais difícil a vontade de conter o sorriso. Então, começo a fingir que estou despertando antes que não consiga mais manter minha farsa. Estico o meu corpo, bocejando e abrindo os olhos devagar, disfarçando que já estava acordada. Quando finalmente termino a minha atuação, encontro-o de olhos fechados, fingindo que está dormindo.

Tento sair da cama antes que uma gargalhada exploda na minha garganta, mas não consigo escapar da mão de Dom. Ele aperta a minha cintura, enlaçando o seu braço envolta e me puxa para si, ainda com os seus olhos fechados, fazendo a risada presa em mim, fugir completamente.

— O que é isso? — pergunto entre risos, e Dom deve achar pouco prender somente a minha cintura, pois prende também as minhas pernas nas suas.

— Fica mais um pouco, ainda está cedo — pede com seu rosto agora bem mais próximo do meu, tão próximo que posso ver cada detalhe da textura da sua pele.

— Dom, eu não posso ficar assim desse jeito com você — apelo para a consciência dele, porque a minha está fora do ar.

— Finge que pode, esquece o resto por um instante — insiste, e meu corpo atende, contrastando com o meu olhar apreensivo. — Bom dia! — diz e deixa um beijo furtivo no canto da minha boca.

Fico muda, congelando qualquer resposta que meu corpo deseja dar, permanecendo imóvel feito uma pedra. Meus olhos dão piscadas involuntárias, enquanto engulo a minha saliva produzida pela expectativa de sentir seus lábios completamente nos meus. Qualquer pequeno movimento pode ser uma mera desculpa para acatar a imensa vontade de ser feliz em seus braços, e tenho certeza de que este é um caminho sem volta.

Os dedos de Dom pressionam mais a minha cintura, e minha pele queima como nunca antes. É intrigante como o maior órgão do corpo, que reveste toda estrutura humana, se acende completamente a um simples toque, envolvendo cada pedaço deste tecido orgânico em uma emoção sensorial intensa, vinda de um sentimento guardado desde a adolescência.

A VIDA NO MORRO COMEÇA CEDOOnde histórias criam vida. Descubra agora