▓ CAPÍTULO TRINTA ▓

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Enquanto me vejo no espelho, coloco cuidadosamente a peruca sobre minha cabeça, Suzanna me entregou na noite anterior junto com os documentos falsos. Os fios cacheados e longos, em tons de champanhe com loiro escuro, são bem diferentes dos meus castanhos. Eu ajusto, prendendo firmemente e só depois penteio, certificando-me de que fique natural, sem falhas.

Visto roupas simples e discretas para se adequar ao meu disfarce. A arma que tem sido minha constante companheira, ficará guardada ou não passarei na revista da cadeia onde Caveirinha está preso. Eu me olho no espelho e sinto uma sensação estranha de estar me escondendo, mas sei que é necessário para a minha segurança.

Respiro fundo, tentando me acalmar e me concentrar na minha missão. Preciso ser cuidadosa e ficar atenta aos detalhes para não ser descoberta. Também estou focada em convencer o testa de ferro de Otávio que é hora dele ser o verdadeiro senhor do tráfico do Morro Grande. Eu pego minha bolsa e me preparo para sair, sabendo que não posso dar para trás na hora de agir.

Ao sair pela porta, tentando parecer o mais natural possível com o meu cabelo falso, sinto o meu coração bater forte. Tenho consciência que essa é uma situação de risco, mas estou determinada a cumprir minha missão, seja qual for o custo. O tempo também não está ao meu favor. Apesar de ter me afastado completamente da questão do centro, sei que Otávio não vai me esquecer e, como Dom me alerta, na oportunidade que tiver, virá ao meu encontro. Para a minha sorte, venho conseguindo me manter abaixo do seu radar desde que me mudei.

Os motoristas de aplicativo recusam a viagem até a cadeia municipal e desisto de continuar solicitando. Caminho pelas ruas até o ponto de ônibus, checando tudo à minha volta. Os meus olhos estão em constante movimento, procurando por qualquer sinal de que estou sendo seguida. Independentemente de se tratar de Dom ou Otávio, nenhum será bem-vindo neste dia.

Eu chego à cadeia e me apresento na recepção, mostrando os documentos, tento controlar o nervosismo de apresentar uma identificação falsa para um policial. Após explicar o motivo da minha visita, alegando ser assistente da nova advogada de Caveirinha, sou levada até uma sala de revista feminina.

A guarda me olha de cima a baixo, enquanto eu tiro meus sapatos, apoio minha bolsa em cima da mesa e me viro para que ela possa me revistar. Sinto-me exposta e vulnerável, como se todos os meus segredos estivessem prestes a serem descobertos.

Tento manter a compostura, segurando a tremedeira que quer me consumir e controlando a minha respiração. Eu sinto os olhos da oficial em mim, tanto quanto sua mão investigando meus bolsos, procurando por qualquer coisa que eu possa estar escondendo. Ao me apalpar rapidamente, como se estivesse somente cumprindo uma formalidade, ela não nota os meus cabelos falsos.

Finalmente, dá o sinal de que estou limpa. Pego minhas coisas, tentando me recompor e ser indiferente ao medo de ser descoberta. Escoltada por um guarda, caminho pelos corredores da cadeia, me dirigindo à uma sala de conversas privadas.

Ao passar pela porta de metal pesado, Caveirinha me olha de forma dura. Ele tem o rosto envelhecido, apesar de ser mais jovem do que aparenta. Nas partes expostas da pele, não encontro nenhuma tatuagem que o ligue a seus crimes ou a facção que pertence. Cabelos ralos e uma estrutura ossuda, definem bem o homem de olhos escuros e pele pálida, devido ao pouco contato que tem com o sol.

— Sou a vereadora Dalena. — Eu me apresento rapidamente sob um sorriso incrédulo nos lábios do detento.

— Usou um nome falso para entrar aqui? — pergunta, insatisfeito. — Tudo bem, cinco anos a mais ou a menos não me farão diferença, já que vou passar a vida aqui dentro — resmunga.

A VIDA NO MORRO COMEÇA CEDOOnde histórias criam vida. Descubra agora