▓ CAPÍTULO DEZENOVE ▓

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Em pleno sol do meio-dia, eu chego à chácara indicada por Dom nos arredores de Belo Rio, situada entre dois municípios, numa região conhecida por ser perigosa. Enquanto seguia o GPS por uma estrada estreita de barro, completamente acidentada e sem uma alma viva pelo caminho, percebi que somente a minha vontade de o encontrar me faria encarar um trajeto tão estranho. No percurso, não notei nada além de mato, lixo e urubus.

Mesmo o portão de madeira na entrada da chácara sendo vazado, não é possível uma visão clara do que há por trás dele. A trilha que começa na entrada, serpenteia em meio a uma densa vegetação. No único poste de luz da rua deserta, há uma câmera instalada, aparentemente de propriedade do imóvel. As pequenas luzes acesas em torno da lente indicam que está em pleno funcionamento. Essa parece ser a maneira como a chegada de algum visitante é percebida, pois não há campainha ou outro meio evidente de se anunciar.

Enquanto tento ligar para Dom, surge um senhor franzino em uma motoneta, vestido uma camisa folgada sobre uma bermuda caqui. Ele desce da motocicleta e abre os dois portões rapidamente, me fazendo um sinal para entrar. O caminho totalmente na sombra é asfaltado, cortando a mata fechada que dá total privacidade à propriedade. Ao notar as árvores de eucalipto envolta, desliguei o ar condicionado para respirar fundo o perfume mentolado que exalam. Em poucos metros, chego a um campo aberto, sendo seguida pelo velho homem.

O lugar é surpreendentemente lindo. Branca está deitada à sombra de uma pequena árvore próximo ao deck de uma piscina natural, integrada com um espaço onde imagino que o proprietário receba os seus amigos e faça muitas festas. As construções da chácara seguem um estilo americano, com acabamento rústico de alto padrão. Parecem ter sido projetadas para remeter à atmosfera aconchegante de uma refinada cabana na floresta.

Dom surge à porta da casa principal que possui dois andares, e meu coração me mostra que é capaz de se apaixonar ainda mais por ele. Valeu a pena os trinta minutos em uma estrada deserta, assim que sou recompensada pela imagem das pernas dele numa calça jeans justa. O seu peito nu me arranca suspiros, mas logo é coberto pela camiseta branca no seu ombro antes de vir até mim.

— Não quer descer? — pergunta, encostando no carro.

Não há como negar que quero. É óbvio que eu quero! Entretanto, estou ciente de que este é um lugar onde as horas voam sem que se dê conta. Dom também é uma distração perfeita para me fazer esquecer da minha vida. A combinação dos dois parece uma armadilha tentadora e bem capaz de me manter longe da comemoração do aniversário do governador.

— Eu tenho um jantar hoje. Preciso pensar em uma roupa, cuidar dos meus cabelos, das minhas unhas... — Suspiro inebriada pela brisa que acaricia o meu rosto, trazendo o seu cheiro irresistível.

Merda... Eu não vou sair daqui.

— Não vamos demorar, prometo — diz, abrindo a porta.

— Dom... — cantarolo o seu nome em tom de alerta.

— Não confia em mim? — fico em silêncio diante da sua pergunta, assistindo ele ajeitar o próprio corpo entre o meu e a direção para destravar o cinto de segurança. — Não me deu uma resposta, isso dói, sabia? — diz com uma voz quente bem próximo da minha boca segurando o meu rosto.

Enquanto me desmancho com nossa proximidade, me pergunto se ele tem consciência de como deixa tudo em mim explodindo. O meu corpo inteiro reage quando sua boca cobre a minha e todo o resto do mundo desaparece, deixando apenas nós dois ali. Eu só consigo pensar no quanto quero urgentemente ficar nua em frente dele.

A VIDA NO MORRO COMEÇA CEDOOnde histórias criam vida. Descubra agora