▓ CAPÍTULO TRINTA E TRÊS ▓

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Mal tive tempo de respirar ou definir bem os últimos dias. Ainda não tive coragem de falar a Dom sobre a possível gravidez, o que fica mais difícil a cada dia, principalmente, porque venho focando nos acontecimentos recentes enquanto evito fazer o exame. Tudo tem girado em torno de reconhecimento de possíveis atiradores, lidar com a imprensa sempre que vou à delegacia, e a minha participação na investigação, pois preciso demonstrar o quanto estou interessada em colaborar com a polícia.

E, no meio disso tudo, aqui estou eu em frente a prisão feminina de Belo Rio. Em poucos instantes, irei encontrar Josy. Ela tem ligado insistentemente para o meu gabinete, me deixando sem conseguir ignorá-la para sempre. Atravesso o portão principal protegido por um guarda, apresento a minha identificação na entrada e sou levada para uma sala de inspeção.

Dessa vez, o processo para verificar se transporto algo, praticamente não é realizado. Acredito que tenha a ver com a condição de me apresentar como vereadora, pois foi bem diferente na minha visita no presídio masculino quando fui encontrar Caveirinha. A minha presença chama a atenção das presidiárias, que ficam animadas com a possibilidade de conversar comigo. Vejo em seus olhos a esperança de me convencer a interceder em suas demandas judiciais, mas aceito conversar somente com Josy.

— Dalena, minha amiga. — Josy entra na sala de visitas, vindo direto para os meus braços, mas eu dispenso o comprimento afetuoso. — Eu sei que ainda está chateada por causa de Íris, mas, por favor, não me dê as costas, eu não tenho a quem recorrer mais.

— O que você quer de mim, Josy? — pergunto ainda de pé, encostada na parede da sala.

— Um advogado, ou morrerei aqui. — Ela começa a chorar. — Eu fiz muita coisa, inclusive para Otávio, coisas que jamais admitiria ter feito. Coisas muito ruins, mas eu não fiz tráfico de drogas.

— Talvez seja a vida te fazendo pagar por essas coisas, então — ironizo.

— Não posso dizer que está errada — diz chorosa... — Mesmo assim, sou um ser humano, eu preciso ter o meu caso acompanhado por um advogado. Não estão nem me dando o direito de me defender. Aquela droga não é minha, eu juro.

— De quem é, então?

— Alguém que quis me prejudicar ou talvez seja mesmo pelas coisas que eu fiz. E-e-e-eu não sei...

— Otávio não era o seu parceiro, porque não te ajudou?

— Ele nunca atendeu minhas ligações desde que fui presa, jamais teria o seu nome ligado ao meu. Aquele homem é um demônio. Fico até aliviada com a morte dele — comenta, com a mão sobre o peito. — Aqui, não me falta tempo para pensar, e tudo o que fiz em seu nome, me atormenta — sua voz soa aflita. — Eu tentei me matar, sabia? Agora, estou tomando remédios e entreguei a minha alma para Deus...

Josy me olha, suponho que avalia se está conseguindo tocar meu coração de alguma forma. Acredito que logo vê que não, pois se mostra em uma maior aflição e desesperançosa. A única certeza que tenho no momento, é que ela está onde merece.

— Otávio me convencia a fazer tudo o que ele queria, me prometia tantas coisas... No fundo, eu sentia inveja de tudo o que você tinha, Dalena. Eu queria ficar no seu lugar.

— Não precisa me contar nada disso — digo, e Josy desvia o olhar de mim.

— Preciso. Você me tratava como uma amiga e eu te traí com ele. Eu dormi com Otávio algumas vezes — revela sem jeito. — Ele me convencia a tudo, me convenceu até a aceitar o envolvimento dele com Íris.

— Que loucura — fecho os meus olhos, repudiando o que ouço.

— Eu não sei como passou ilesa por aquele homem — avalia, e bufo um riso incrédulo. — Na verdade, eu tenho uma ideia do que te deixou livre dele...

A VIDA NO MORRO COMEÇA CEDOOnde histórias criam vida. Descubra agora