▓ CAPÍTULO DEZESSEIS ▓

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Gasto horas deitada na cama diante da tv a cabo passando os canais. Tento encontrar algo que prenda a minha atenção, porque não consigo parar de pensar em quem está morando no apartamento de baixo. Não quero me distrair com Dom no momento diante de tantas preocupações, no entanto, é incontrolável.

Entre canais de animais selvagens, pessoas vendendo objetos valiosos, investigações criminais ou mundo das celebridades, paro no canal de filmes de romances piegas, atraída pela cena em que um soldado se declara para o seu grande amor. Tem o drama da novela mexicana, uma dublagem caricata e a trilha sonora é perfeita para acionar os canais lacrimais, apesar de atores que exageram na atuação. Talvez seja comum pensar: "Eu não caio nessa!", só que basta um pouquinho de atenção para chorar feito um bebê pedindo o colo da mãe.

"Summer, você é um raio de luz da minha vida, mesmo que seja somente uma esperança no meu coração. Na guerra, foi a vontade de voltar para seus braços que me manteve vivo. Está casada com alguém que não te ama como merece ser amada. Entendo que se passaram muitos anos e não sabia se eu estava vivo, mas eu consegui, Summer. Consegui voltar para você!"

A música sobe o volume, o olhar de tristeza e a aflição do amor interrompido ficam mais evidentes. Eles se amam, mas a guerra tirou muito anos dos dois. A vida dela mudou e isso arrebentou o meu coração. Comovida com a cena, em questão de segundos, as lágrimas rolam pelo meu rosto. O amor verdadeiro é inesquecível, mesmo em meio a um pandemônio. Qualquer romance que se preze, sabe disso.

Usando a trama do filme em uma comparação forçada, já que existe a nobreza do personagem de ter ido à guerra defender o seu país, penso que Dom também me manteve no coração em meio à violência. Acabo acreditando em seus sentimentos, ou ele teria me matado depois do que fiz hoje. Mesmo com todos os meus ataques, vejo que respeita o meu espaço, totalmente ao contrário de Otávio.

Acabo me sentindo estúpida. Ele é a única pessoa me oferecendo apoio nesse momento.

Caminho lentamente até o interfone. Encaro o aparelho cinza na enorme parede creme da cozinha, pensando se estou realmente pronta para o deixar ficar ao meu lado. Eu mal me livrei de Otávio, como posso encarar mais um envolvimento que, com certeza, me trará problemas? A questão é que eu sempre o desejei em todos os meus sonhos e fantasias. Não tem como resistir quando estamos tão perto.

Tiro o interfone do gancho, coloco no meu ouvido e faço a chamada.

— Estou indo. — Essa é a única coisa que Dom fala ao atender no primeiro toque, como se estivesse ao lado do aparelho.

Aguardo sua chegada com a porta da sala aberta. Ao vê-lo passar por ela, tenho uma imensa vontade de correr para os seus braços da mesma forma que eu fazia no almoxarifado. Sentada no sofá, acabo controlando as minhas pernas, que ficam agitadas batendo os joelhos freneticamente por estar ansiosa com a sua presença.

Dom fecha a porta.

Minhas mãos ficam inquietas tocando os meus cabelos, coçando o meu nariz ou simplesmente se apertando. Tenho uma imensa necessidade de dizer algo, como também de fazer qualquer coisa que justifique o meu chamado. O traquejo com que encaro qualquer situação de modo geral, entra em pane quando envolve Dom. Já ele é direto, prático e sempre diz o que quer. Me pergunto se a experiência com outras mulheres tenha o tornado assim. Pensar sobre essa possibilidade, logo se torna uma armadilha para o incômodo que é imaginar a infinidade de mulheres com quem provavelmente se relacionou.

Mas que merda! Por que eu fui imaginar ele com outras mulheres?

tudo bem? — Dom pergunta.

A VIDA NO MORRO COMEÇA CEDOOnde histórias criam vida. Descubra agora