▓ CAPÍTULO VINTE E SETE ▓

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Respiro fundo sucessivas vezes olhando a fachada do hotel Imperial. O lugar é majestoso, mas nunca imaginei colocar os pés nele para drogar alguém. Caminho até o saguão, dou o nome de Torres a recepcionista e sou avisada que ele me aguarda no quinto andar, na suíte quinhentos e onze.

Entro no elevador com a cabeça pesada, que não está assim somente pelo nervosismo de toda a pressão sobre fazer ou dar algo errado, é que ir para um quarto com um homem estranho esperando fazer sexo comigo, me remete ao meu inicio em Lourdes. Confesso que na época eu me sentia mais determinada, apesar do fato de saber que não vou abrir as minhas pernas para Torres, só que preciso fazer ele pensar que sim. Sem contar que nem quero imaginar o que Dom pensaria disso.

O elevador se abre, deixando o meu coração mais pesado. Caminho pelo corredor buscando o número quinhentos e onze. O som da minha respiração soa mais alto nos meus ouvidos do que os produzidos pelos saltos do meu scarpin. O que estou prestes a fazer é diferente do meu crime de anos atrás, pois foi tudo feito no calor do momento. Agora, é premeditado.

Bato com os nós dos meus dedos contra a superfície da porta de madeira.

— Pode entrar. — Ouço a voz abafada de Torres do outro lado da porta.

Eu vou conseguir!

Entro na suíte e me distraio reparando nos móveis de padrão provençal refinado enquanto preparo o meu estômago para encarar Torres. A cama parece um lindo convite para um descanso confortável, com os lençóis brancos perfeitamente estirados sobre o colchão. O homem está sentado na mesa ao lado da janela, mantendo um sorriso lascivo no rosto, olhando para mim de um jeito guloso.

Que nojo!

— Chegou na hora certa. — Aponta o carrinho de refeições ao seu lado com o almoço.

— Não vai beber? — pergunto ao ver que está somente com um copo de água com gás ao seu lado.

— Não sou muito chegado a álcool, sempre acabo perdendo o prumo — justifica, enquanto percebo a sua satisfação crescente com a minha presença.

— E não é para isso que estamos aqui, para perder o prumo? — provoco e vejo que ele se anima mais com o meu joguinho. — Deixa que eu te sirvo.

Vou até o aparador no canto do quarto e sirvo um pouco da garrafa de uísque Cavalo Branco em dois copos. Abro a cápsula do comprimido e despejo metade do pó enquanto Torres confere o celular. Coloco algumas pedras de gelo e balanço até que o remédio se dissolva.

Volto para a mesa e me sento na poltrona disponível. Começamos a almoçar, eu mal toco na comida. Entre uma garfada e outra, Torres comenta o quanto gosta de vir a esse hotel, como as refeições são da mais alta gastronomia e as pessoas famosas que se hospedam em seus quartos. Até conta animado sobre a presença de um jogador de futebol famoso que está ocupando a suíte presidencial. Ele parece tão fissurado em esporte, quanto no tal Mazzeo. Ouço tudo como se fosse a conversa mais interessante da minha vida.

— Não está bebendo, Torres, desse jeito eu vou ficar em desvantagem — disfarço o meu real interesse para que beba.

— Não estou tão instigado a beber e quero me lembrar de tudo, se é que me entende. — Ele dá uma piscadinha para mim.

— Não se preocupe com isso, haverão outras vezes, mas para te ajudar a dar o primeiro passo em direção a nossa brincadeira, vou te instigar — aviso tirando o meu terninho e deixando os braços à mostra. Levanto da poltrona e me aproximo de Torres. Vou até as suas costas e acaricio a lateral da sua cabeça, o fazendo olhar para cima. — Abre a boca — mando, prontamente ele obedece.

A VIDA NO MORRO COMEÇA CEDOOnde histórias criam vida. Descubra agora