▓ CAPÍTULO QUINZE ▓

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Os dois telefones não param de tocar dentro da minha bolsa, ativo o modo silencioso de ambos enquanto me afasto do plenário. Ao entrar em meu gabinete, encontro Íris chorosa na sala da assessoria, arrumando suas coisas em uma caixa. Ela me olha com tristeza, sinto pena por ela perder o emprego assim, mas não posso manter no gabinete alguém em que não confio.

— Me desculpa... eu estou muito apaixonada por ele — começa a falar de forma apelativa.

— Não se dê ao trabalho, Íris, porque eu simplesmente não ligo — digo dando as costas ao sair na direção da minha sala.

— Ele sofre, sabia? — Fico interessada em saber o quanto está enganada e me viro para ela. — Otávio te ama, eu vejo isso. Tudo o que faz é para ter você.

Coitada... Ela recebeu uma lavagem cerebral ou talvez tenha sido uma lavagem de esperma. Quem sabe foi um banho de loja? Não dá para ter certeza. A única certeza é que é uma jovem inocente, como eu talvez também seja, já que acreditei em Otávio. Ele mente muito bem.

— No início, eu só queria ajudar o Otávio, até enxuguei as lágrimas dele por você, assim nos aproximamos muito e acabou acontecendo... Ele pediu ajuda para a Josy, porque não sabia o que fazer quando você saiu de casa. Ela não estava muito disposta, mas o senador não conhece a palavra "limites" quando se trata de te conquistar. Nem preciso dizer o quanto foi generoso com nós duas, e minha prima pediu que me aliasse a ele — Íris fala com orgulho em sua voz, como se estivesse envolvida em algo muito nobre.

— Josy?... — pergunto com a voz frágil.

— Sim, mas ela não sabe que Otávio e eu acabamos nos apaixonando.

— Ele disse que está apaixonado por você? — Fico sem querer acreditar nas minhas suspeitas, no entanto, preciso confirmar o quanto Otávio foi inescrupuloso.

— O tempo todo... — responde como se estivesse com pena de mim e tenho vontade de chorar com pena dessa garota. Agradeço tanto a Lourdes por ter me endurecido.

— Acabou de fazer dezenove anos, tem uma vida inteira pela frente, não entrega isso a Otávio. Você tem família, tem suporte, não precisa passar pelo que eu passei — aconselho de uma forma gentil.

— Mas eu não sou garota de programa — retrucou com uma maldosa inocência.

— Exatamente... Se nem pagando vale a pena, porque quer passar por isso de graça? — Deixo a pergunta no ar.

— Sabia que ele me levou na viagem? — pergunta, parecendo uma outra pessoa ao declarar o que tem como uma espécie de trunfo.

— Na viagem? — Franzo o cenho um pouco confusa.

— A idiotice do passeio de balão — esclarece com um certo prazer, embora parecesse totalmente fora de si. — Foi assim que nós chamamos. Eu fiquei hospedada no mesmo hotel. Ele me queria por perto, porque precisava de alguém que realmente gostasse dele. Então fiquei curtindo os serviços do spa.

— Não deveria, mas isso realmente me magoou — admito com um bolo na garganta, lembrando que Otávio insistiu para que eu não usasse os serviços do hotel.

— Você nunca gostou dele. Acabou de dizer que não se importa. — Ela dá um sorriso irônico.

— Infelizmente, esse foi o momento que eu acreditei em Otávio. Talvez quando você descobrir o quanto está sendo burra também vá doer — reflito, analisando a garota tentando se mostrar superior a mim, sem saber o quanto está patética.

A VIDA NO MORRO COMEÇA CEDOOnde histórias criam vida. Descubra agora