▓ CAPÍTULO TREZE ▓

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Perto das vinte e três horas, eu estaciono o carro no fim da rua da Ponta dos Golfinhos e desligo o motor. Em questão de segundos, uma moto preta digna de um filme de ação se aproxima e para ao lado da minha porta. Observo o nome "Kawasaki Ninja" estampado na lateral do tanque enquanto Dom ergue a viseira fumê do seu capacete preto, revelando seus olhos azuis em meio às sombras da noite.

Abro a porta do motorista e desço. Dom me entrega um capacete igual ao seu, coloco a minha cabeça dentro, sentindo-o pesar em meu pescoço. Um frio gela a minha barriga quando subo na moto e encaixo Dom entre as minhas pernas. Com certeza, eu já tinha perdido as rédeas da minha vida muito antes de chegar até ali, mas porra, ele deve ter um plano para me enlouquecer esfregando na minha cara o quanto é gostoso.

Quando abraço a sua cintura, Dom entrelaça os dedos nos meus por um breve instante antes de dar a partida na ignição. Isso faz com que eu tenha mais certeza que ele quer me viciar na sua presença. A eletricidade que percorre o meu corpo com o seu toque é inexplicável e intensa. Sinto vontade de me aconchegar em suas costas, enquanto o dono do morro me leva para onde quiser, mas decido resistir.

Saímos de Ponta dos Golfinhos indo em direção à avenida que fica na orla da praia de Princesa de Aiocá. A moto possante, atraia olhares por onde passávamos no trânsito. A adrenalina que sobe pelo meu corpo é reconfortante, enquanto meus braços envolvem sua cintura firmemente, e sei o quão simbólico é isso, pois meu coração se manteve agarrado a Dom por todos esses anos da mesma forma.

Ele mantém suas mãos firmes no guidão da moto e meus cabelos longos, que descem por baixo do capacete, dançam ao vento enquanto acelera. No retrovisor, vejo uma imagem cômica de mim mesma testando o meu autocontrole para não me aninhar nele como uma gatinha apaixonada.

Balanço a cabeça e me concentro no caminho, tentando ignorar as sensações que me invadem a cada curva que Dom faz. São uma mistura de necessidade e empolgação que me deixam querendo amassar o seu corpo contra o meu, e ao mesmo tempo, explorar com calma cada pedaço dele.

No fim das contas, tento manter minha postura imperturbável, fingindo ser tão neutra quanto uma esfinge, aquela figura enigmática que não se abala com nada. Repito para mim mesma que sou forte o suficiente para lidar com essa situação tão desafiadora.

Quando paramos no sinal vermelho, Dom abre a viseira do capacete e seus olhos sorriem para mim. Seus dedos se entrelaçam novamente nos meus, fazendo minhas pernas se fecharem mais envolta das suas. Então, percebo que não estou conseguindo enganá-lo. Em seguida, nos guia sem pressa até o píer da praia vizinha, onde fomos até o final.

Naquele horário, não há ninguém por perto, o que aumenta a sensação de entrar em um mundo paralelo quando estou com ele. A experiência de ser só nós dois novamente me faz transbordar de felicidade. Olho para a paisagem ao nosso redor e suspiro, tentando encontrar alguma distração para me manter ocupada. Afinal, sou uma mulher adulta, e não vou me deixar levar por uma voltinha de moto.

— Achei que iríamos a um racha — digo ao tirar o capacete, depois de descer do bagageiro.

— Vamos, mas prefiro abusar da minha sorte de ter a sua companhia hoje — diz enquanto pega gentilmente o capacete das minhas mãos e o apoia junto com o seu sobre a moto. — Vem, vamos olhar o mar. — Estende a sua mão e eu seguro.

O vento estava frio e soprando com uma força razoável, me deixando agradecida por ter saído com uma jaqueta de couro por cima da blusa de tule, que escolhi para usar com uma calça jeans e um coturno preto. Dom também usava uma jaqueta de couro, calça e uma camiseta.

A VIDA NO MORRO COMEÇA CEDOOnde histórias criam vida. Descubra agora