Livros Velhos

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As ruas estavam desertas naquele horário, o sol não havia nascido ainda. Um vento gelado açoitava as árvores tecendo uma melodia lúgubre.

Aquela rua sempre lhe parecera cheia de mistérios, algo meio sobrenatural. Satoru apertou o cachecol ao redor de si e caminhou apressado em direção a livraria que pertencera ao seu avô, aquela onde passara a maior parte da sua infância.

Recordava-se de passar horas perdido entre as prateleiras, lendo aventuras e mistérios ou então criando universos imaginários, para cada pessoa que entrava na loja. Mas isso fora há muito tempo, naquela época ele não poderia imaginar como tudo poderia mudar, às pessoas já não pareciam possuir o mesmo interesse para ler. Ele próprio mudara bastante.

Como resultado o lugar agora se encontrara em decadência.

Ele mirou os vidros embaçados e o cartaz que anunciava que o estabelecimento estava fechado. Revirou os bolsos procurando pela chave e girou-a na abertura da pesada porta de madeira. O sininho tocou assim que ele entrou,
e o piso de madeira rangeu sob seus pés. O  cheiro dos livros antigos carregava certo conforto para ele.

Observou o lugar, o balcão estava empoeirado e a velha caixa registradora permanecia lá, intocada. Debaixo do balcão estavam alguns volumes que seu avô nunca considerara vender, tão antigos que o título já havia sumido.

Satoru caminhou pelos corredores, os livros permaneciam bem organizados, mas uma camada de pó exigia que fossem limpos.

Ele retornou para a recepção e segurou o porta retrato que continha a única foto dele com seu avô, que sorria segurando um monóculo com uma das mãos, enquanto a outra acariciava gentilmente os seus ombros. Isso foi a 20 anos atrás, quando ele tinha apenas 8 anos. Às vezes parecia que seu tempo com ele, lhe escorrera pelas mãos.

Ele folheou os livros esquecidos, não reconhecendo nenhum dos títulos, deixou-os de lado e voltou-se para a caixa registradora. Estava quase vazia, com exceção de algumas moedas e um envelope amarelado pelo tempo, por nenhuma razão específica aquilo chamou sua atenção.

Ele quase ouviu a voz do velho lhe dizendo para não fuçar as coisas dos outros. Mas ele já não estava mais ali.

Não havia remetente, nem destinatário.

S.

A letra era impecável, ele observou momentâneamente a carta que agora pesava em suas mãos. E num gesto brusco a abriu.

Os ventos do Inverno sopram sobre nós. A colheita foi menos do que o esperado. E ele não pode retornar.
As sombras das raízes distorcidas de Yrthur
agigantaram-se sobre o meu povo.
Preciso da sua ajuda.
Venha.

S.

Por um momento ele perguntou-se se a carta não vinha como um brinde que acompanhava algum dos livros de fantasia épica. Mas algo mais lhe chamou atenção, o nome não lhe era estranho. Na verdade ele o vira nos livros velhos esquecidos nas prateleiras embaixo do balcão.

Ele folheou novamente e percebeu que os três livros eram parte de uma mesma saga, mas o último volume foi o que o intrigou.
Com excessão da primeira página, todas as outras estavam vazias.

Satoru puxou um banquinho, bateu a poeira e sentou-se. Abriu o primeiro livro, que foi direto para o prológo.

A história se passava em mundo diferente, onde oito reinos eram ligados por raízes contorcidas de Yrthur, a árvore que era como a vida daquele lugar e mantinha os mundos em seus eixos. Cada cidade possuía um governante que respondiam diretamente a Alta Corte.

O Primeiro volume relatava como esse reino fora construído, e como tudo havia sido destruído por causa de um único homem.

O filho Perdido da Rainha.

Para cada Reino, havia uma realidade esquecida, assim como o chamavam, um tormento específico destinado aos que ameaçavam as leis que regiam Yrthur.

Até então, havia apenas uma única pessoa que estava confinada na realidade esquecida que respondia a Alta Corte.

Mas as pessoas não ousavam dizer o seu nome.

Elas apenas o chamavam de Destruidor de Tronos. A estrela perdida da Coroa.

Satoru fechou o livro.

Pequenas gotas de água suja respingaram nos vidros e o vento ficou mais forte, ele apressou-se em trancar a porta e permaneceu ali, em silêncio.

Recostou a cabeça na parede atrás do balcão e mirou o teto, suas palpébras começaram a pesar e ele foi tomado por aquela sonolência estranha, sem conseguir resistir, foi engolido pela escuridão.

Quando abriu seus olhos, a chuva havia passado, o tempo estava escuro e não havia nenhuma luz iluminando as ruas.

Okay. Isso é realmente estranho. Gojo pensou.

Tentou enxergar através das vidraças, mas uma neblina expessa tomara conta do lugar. Ele aguçou sua audição, porém o silêncio engolfara o ambiente, nem o vento soprava, nem os pássaros cantavam. Não havia nenhum som.

Exceto, por passos que ecoaram. Seu instinto dizia para se afastar. A sensação era de que algo maligno se aproximava. Ele engoliu em seco, procurando controlar sua respiração e permaneceu atrás do balcão, apenas como se estivesse esperando algum cliente.

O pequeno sino tocou quando a porta se abriu. E aquele homem se aproximou. Possuía feições calmas e um sorriso sereno. Tinha cabelos castanhos um pouco acima dos ombros e olhos verdes. Ele o fitou demoradamente. Era bonito e usava roupas estranhas.

-Satoru Gojo? -Ele o encarou com aqueles olhos profundamente azuis, a sensação daquela aura maligna havia passado.

-Sim, sou eu. - O sorriso do homem se alargou.

-O seu avô me falou de você. Disse que você era especial. - O homem acrescentou ainda com um meio sorriso.

-Engraçado, ele nunca me falou sobre você. - retrucou.

-Muito bem. Eu me chamo Salazar. Sou o príncipe herdeiro de Yrthur. - O homem apresentou-se.

-Isso é algum tipo de brincadeira? - Ele arqueou uma sobrancelha.

-Nós não temos muito tempo. Precisa me acompanhar. - Salazar parecia impaciente.

-O que te faz pensar que eu vou segui-lo facilmente? - Algo em seu olhar reluziu fazendo o príncipe recuar involuntariamente.

- Você não tem escolha. - O homem estendeu a mão e de dentro dela surgiu um pergaminho, o papel amarelado desenrolou-se revelando as letras - em um idioma que ele não conseguia ler- que brilhavam em um tom carmesim. E no final a letra inconfundível do seu avô.

Notas da autora
Faz um tempo que eu queria fazer algo sobre eles, na verdade a ideia me veio como um livro. Mas não vi problema em transformá-lo em fanfic. Hehe.
Confesso que foi difícil escrever. Fantasia sempre acabar dando um na minha cabeça.
Mas é isso. Espero que vocês gostem ^⁠_⁠^

Boa leitura!!!

A Estrela Perdida da CoroaOnde histórias criam vida. Descubra agora