Capítulo 33

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- Vamos? - Chamou Maria Eduarda, após alguns minutos.

- O sol vai se pôr e ela fica mais bonito se o olharmos dali. - 

- Vamos. - Concordou Bianca e a soltou.

Maria Eduarda se levantou e estendeu a mão para Bianca, as duas desceram para mais perto do mar, Bianca afundando os pés na areia molhada. O silencio estava confortável, porque nenhuma delas estava com a mente longe, estavam de corpo e alma ali, aproveitando cada segundo juntas, andando em direção ao nada de forma completamente segura e foi nesse ritmo casual e impreciso que Bianca procurou a mão de Maria Eduarda e a segurou ao redor da sua.

Bianca sentiu o primeiro a surpresa de Maria Eduarda, depois a compreensão e, enfim, o momento em que Maria Eduarda entrelaçou seus dedos nos de Bianca, acariciando-a com o polegar.

- Você sente falta disso? - Perguntou Bianca, olhando para o mar e adorando sentir a espuma da água molhar seus pés enquanto andava.

- Do quê? -

- De... não, de...alguém para... - 

- Segurar a mão? - Sugeriu Maria Eduarda e Bianca assentiu. - 

- Na maioria da vezes. - Maria Eduarda suspirou. - Você não sente como as coisas deveriam ser? Foi o que você sentiu mais cedo, olhando o mar, era o cenário perfeito. Se você estivesse sozinha, esse momento teria sido perdido, e são esse momentos que eu lamento ter que perder se estou sozinha. Como se uma parte da vida estivesse acontecendo e eu não percebesse. -

Bianca olhou pensativamente para frente, diminuindo o passo. 

- Eu nunca havia pensando desse modo. - 

Maria Eduarda apertou a mão de Bianca mais forte.

- Mas você já se sentiu isso antes, não foi? Como se de repente ficar sozinha mais um minuto fosse te asfixiar. -

Bianca assentiu, olhando para Maria Eduarda.

- Muitas vezes eu olhava pela janela e pensava o que estava fazendo, o que eu não conseguia ver. Por que de repente tudo se tornara monótono. Quente, abafado e sem vida. - 

- Porque você precisava de alguém que atrapalhasse a sua vida meticulosamente organizada. -

Bianca riu, dando de ombros. Os raios já alaranjados do sol batendo em seu rosto a faziam se sentir viva e leve.

- Talvez. - 

- Você fica bem quando está feliz. - Disse Maria Eduarda, diminuindo o passo.

As bochechas de Bianca ficaram vermelhas. 

- Obrigada. - 

- Gostaria de deixa-la assim sempre. - Disse Maria Eduarda, fazendo-a sorrir.

- Você consegue ser encantadora quando quer. - 

Maria Eduarda sorriu.

- Vamos parar por aqui, o sol já vai se pôr. - 

Bianca se virou para o horizonte, de fato, o sol já estava começando a se fundir com o mar, o céu repleto de manchas que iam do rosado ao alaranjado. Maria Eduarda a colocou na sua frente, a abraçando por trás e estremecendo ao senti-la aninhar-se em seus braços, era uma sensação completamente nova, aquele calor humano, os sorrisos, as pegadas lado a lado na areia. Era incrível, imprevisível, totalmente correto e natural. 

Maria Eduarda a abraçou mais forte, e Bianca fechou os olhos.

Por alguns minutos, tudo parecia perfeito para Bianca, como se ela finalmente estivesse bem, tranquila, aceita, confortada, querida,  ninguém nunca havia dito o quão perfeito um abraço de Maria Eduarda poderia ser, o quão a respiração de Maria Eduarda poderia soar natural, o quão Bianca ficaria bem só por estar perto de Maria Eduarda e, por alguns minutos, Bianca realmente sentiu tudo o que tantas musicas diziam, Bianca se sentiu realmente amada, e essa constatação, forte e imutável, a fez abrir os olhos e descobrir que o sol já se fora, que só restavam alguns raios alaranjados e tardios no horizonte.

Bianca mordeu o lábio. Estaria sentindo isso mesmo? Estaria realmente... mas seus pensamentos se interromperam quando Bianca sentiu seus pés na água gelada.

- Vamos para o mar? - Perguntou Maria Eduarda com uma expressão pidonha.

Bianca não respondeu, mas sorria de forma tranquila e segura, ela se virou para Maria Eduarda a acompanhando em direção ao mar.

- A água está gelada. - Disse Bianca, uma onda quebrou não muito distante de onde elas estavam e a espuma foi até a cintura de Bianca, a fazendo tremer de frio.

Maria Eduarda andou mais alguns passos, segurando umas das mãos de Bianca. O vento do começo da noite soprou, fazendo Bianca se retesar sob a água, as mãos de Maria Eduarda estavam apoiadas em seus ombros e suas roupas molhadas estavam grudadas. Maria Eduarda se aproximou de Bianca, que mordeu o lábio inferior, seus narizes estavam a milímetros de se encontrarem e Maria Eduarda podia ver em seus olhos que Bianca estava passando por um furacão de sensações e pensamentos e, em um movimento suave, Maria Eduarda se aproximou mais, seus lábios roçando nos de Bianca.

 - Não percebeu? Esse é mais um momento perfeito. - 

Bianca estremeceu quando Maria Eduarda a beijou, não foi programado nem previsto pelo roteiro. Foi como deveria ser, impetuoso, calmo, quente, morno, carinhoso e possesivo, uma confusão de sentimentos que a entorpecia. 

Bianca acariciou sua nuca, seu corpo tremendo, ela nunca havia sentido aquilo antes; nada havia sido tão intenso, tão magico. Elas se separaram no momento em que as primeiras estrelas surgiram, como se elas estivessem se escondendo para dar-lhes privacidade.

- Agora eu percebi. - Sussurrou Bianca, sorrindo.

O coração de Maria Eduarda se acelerou sob uma droga alucinógena. Maria Eduarda a abraçou mais forte e beijou seu nariz. 

- Eu amo você. - 

O tempo parou para Bianca, tudo entrou em câmera lenta, todas as sensações deixaram seu corpo. Foi só quando Bianca compreendeu, como se uma gota de água gelada houvesse caído no vazio. 

- Isso estava no roteiro. - Murmurou Bianca.

- Eu teria dito mesmo que não estivesse. - Respondeu Maria Eduarda, segura, beijando sua bochecha.

- Eu... - 

Bianca enterrou o rosto na curva do pescoço de Maria Eduarda, a abraçando, o coração descompassado.

- Bianca? O que foi? - Perguntou Maria Eduarda, surpresa.

- Eu... - Murmurou Bianca. - Eu não posso, Maria Eduarda. - 

O mundo de Maria Eduarda saiu de foco.

 - Bianca... - 

- Eu estou confusa. Eu... - Bianca mordeu o lábio, amaldiçoando-se por falar isso ao mesmo tempo em que o pescoço de Maria Eduarda era tão confortável. 

Maria Eduarda olhou para o mar por alguns segundos. depois fechou os olhos.

- Tudo bem. - Sussurrou Maria Eduarda, surpreendendo-a. - Vamos voltar para casa. Não me diga nada agora. Faça o que você sempre fez: pense primeiro... -


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