Capítulo 42

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Não demorou muito para que eu chegasse ao meu destino, pelo menos não algo que me deixasse cansada de dirigir, meu tio Karin morava há uma hora de distância da onde eu estava, mas a noite se instalava sua total escuridão.

Estacionei o carro de frente a enorme casa e ainda dentro dele pude notar o homem mais velho aparecer na porta com a feição séria, ele não era muito de dar sorrisos por aí.

Peguei meu celular o colocando no bolso da blusa e logo tirei as chaves da ignição saindo de dentro do veículo, caminhei em passos largos em direção a Karin, quando me aproximei o suficiente ele fitou de cima a baixo e estendeu os braços para que eu o abraçasse.

Estava muito calor e eu confesso que aquele moletom preto estava me dando um suador, eu apenas acenei com a cabeça e o abracei.

_Quanto tempo. Ele falou enquanto desfaziamos o abraço.

_Pois é, alguns bons anos, não? Perguntei concordando com o mais velho que apenas assentiu.

Começamos a caminhar em direção a casa, Karin morava próximo a praia então observava em volta enquanto o acompanhava, por mais que a noite me privava de ver muita coisa.

_Gostou? Ele perguntou ao notar minha admiração.

_Sim, me recordo da época que morei com você e esse lugar é bem maior. Respondi e pela primeira vez o velho sorriu.

_Aquele tempo foi um dos melhores minha sobrinha. O homem confessou e eu concordei. _Que pena que nós nos reencontramos nesse momento.

Realmente sua voz soou entristecida, Karin abriu a porta a nossa frente e fez um gesto para que eu adentrasse. Como uma bela detalhista, reparei em cada detalhe daquela casa e sorri ao notar que havia uma foto dele comigo quando eu era apenas uma menina.

_Você ainda têm isso? Apontei para o punhal de ossos que eu havia feito quando mais nova.

_Sim, e é o meu favorito. Ele se sentou no sofá cruzando as pernas elegantemente.

Karin e meu pai eram diferentes, meu pai era mais porra louca e resolvia as coisas na brutalidade, já o meu tio, ele preferia usar mais o cérebro, preferindo o ramo de conseguir armamentos e qualquer espécie de explosivos.

Ficamos em silêncio enquanto eu olhava os quadros da sala inquieta, logo uma senhora adentra o cômodo educadamente me tirando de meus pensamentos.

_Senhor? Ela o chamou tendo sua atenção. _Quer que eu traga algo?

Karin me olhou e eu não o respondi.

_Um whisky com gelo para mim. Ele me olhou novamente e eu neguei. _Parou de beber?

Por um momento cogitei em concordar mas estaria mentindo, eu evitava as bebidas por conta da amamentação, mas na realidade em nem sabia se sairia viva dessa situação.

_Me vê um whisky sem gelo, por favor. Enfim falei quebrando o gelo que deixei surgir com a ausência de minha resposta.

Me aproximei do sofá e vi a senhora se tirar do ambiente, me sentei ao sofá ao lado de forma largada olhando o homem a minha frente.

_O que pretende fazer? Ele me perguntava com seriedade na voz, fazendo com que eu esticasse meus braços no encosto atrás de mim.

_Não sei! Respondi sincera, eu era sincera com Karin e isso era bom.

_Espero que tenha um plano, você é a mais esperta entre nós, herdou a força do seu pai e minha inteligência, espero que a use com sabedoria. Ele falava tranquilamente me deixando confusa.

_Como assim? Questionei com a sobrancelha arqueada desencostando-me do sofá juntando minhas mãos sobre minhas pernas.

_Eu espero que tenha um plano em mente. Suspirou._Você é minha única família agora e não quero que se entregue ou enfrente-os de peito aberto.

Notei dor em sua voz, meu tio nunca se casou, nunca teve filhos e desde que seus pais morreram foram sempre ele e meu pai. Sempre se viraram juntos, até que meu pai se casou com minha mãe e me tiveram, Karin além de tio, era um segundo pai para mim.

_Sabe como sou, sempre tenho um plano tio. Posso não ter um agora, mas sempre dou um jeito. Respondi convicta e o vi assentir.

Logo a senhora adentra a sala deixando sob a mesa de centro dois copos de whisky um com gelo e o outro sem, peguei o meu o virando de uma vez, por um instante pude sentir a bebida descer queimando pela garganta, porém não me importei. Sentia falta do gosto e também de aprecia-lo.

_Vá com calma. O grisalho falou fazendo com que eu desse de ombros enquanto colocava o copo de volta ao lugar.

_Faz praticamente quase um ano e três meses que não sinto o cheiro ou o gosto de qualquer coisa que contenha álcool. Falei e o vi prestar atenção. _Inclusive, um cigarro me cairia bem nesse momento.

O mais velho retirou o maço de dentro do bolso e me entregou junto ao isqueiro.

_Parabens pelo garoto. Ele falou enquanto eu me sentava novamente e tragava o cigarro._Ainda não o vi, mas meu irmão disse que ele é a cara de Macarena.

E finalmente meu pai entrava na história, soltei a fumaça em meus pulmões enquanto me recordava da chamada de vídeo feita no hospital mais cedo.

_Sim, ele se parece com ela. Concordei voltando a fumar, não queria menciona-los, porque só de me lembrar sentia meu estômago afundar.

Eu os amava até mais que a mim mesma, e eu estava preocupada com a segurança de ambos e por ter colocado eles nessa situação.

Nesse momento peguei meu celular verificando o horário que marcava sete horas da noite. Provavelmente a loira e as meninas já teriam embarcado no vôo em destino a Espanha.

O que me deixou tranquila por um momento, mas por outro senti um arrepio percorrer minha espinha ao perceber que talvez nunca mais nos veríamos!

_Está tudo bem? Karin perguntou ao me notar calada.

_Está sim, como faz tempo que não bebo acho melhor não exagerar. Menti enquanto apagava o cigarro no cinzeiro.

Por um momento ouvi a voz da loira na minha mente me repreendendo por tal atitude, mas novamente não me importei.

_Dorme aqui, amanhã entrego a você o que me pediu. Ele falou e eu concordei o vendo levantar. _Vou subir para descansar, fique a vontade.

_Obrigada. Agradeci enquanto o mesmo ia em rumo as escadas.

_Zulema? Ele me chamou e eu o mirei. _Tenha um plano.

Assenti para ele e percebi que o mesmo aguardava uma resposta minha.

_Vou fazer isso, tio. Não se preocupe!

Ele subiu as escadas me deixando sozinha na sala, por um momento peguei meu celular na esperança de ter alguma mensagem da loira. O que foi em vão, nada dela e muito menos de Saray ou Kabilla.

Suspirei largando o aparelho de lado e me levantando, peguei outro cigarro e caminhei em rumo a porta enorme que havia ali de frente ao mar. Me sentei em uma das cadeiras que tinha e fiquei admirando a paisagem enquanto fumava.

Porque isso era exatamente o que eu costumava fazer quando algo me intrigava, foi isso que fiz quando descobri que havia me apaixonado por Macarena, foi isso que fiz quando achei que o câncer a levaria de mim, foi isso que fiz quando a pedi em casamento. A praia me relaxava! Uma conexão sem tamanho.




Surrender ZURENA (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora