XX

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Por William

Estava apaixonado por aquela mulher... E aquele corpo.

Era impossível me ver longe dela desde então. Mesmo sabendo que ela estava no andar debaixo, meu banho transcorreu incompleto, com os pensamentos de como seria em tê-la ali. Em segurar seu corpo nu, em pé e contra o meu enquanto a água nos tocava e regava nossa paixão.

Naquela manhã tive que me conter com a imaginação e minha mão me satisfazendo mais uma vez, porque Arin logo me gritou para resolver algo no andar debaixo. O caos estava instalado com pó de cerâmica pelo chão e Daisy tentando limpar enquanto Arin e Antonio faziam a contagem dos artigos de cozinha, anotando nos celulares. Até que aqueles grandes olhos me viram, indicando problema.

— Daisy disse que sua mãe só tinha talheres de prata aqui, confere?

— Sim, era algo simbólico, passado entre gerações — concordei.

Arin levantou um dos talheres entre seus olhos e a luz do ambiente antes de me entregá-lo em mãos.

— Tenho certeza que isso não é prata nenhuma. Ou ela foi roubada ou-

— Papai...

Aquilo foi a gota d'água para mim e dei o fora dali sem mais explicações. Algo grande acontecia debaixo dos meus olhos, por anos e, talvez, pudesse ter feito algo. Era doloroso e incômodo saber que não podia mudar o passado, mas tentaria mudar o futuro da nossa família.

Do legado da minha mãe, que, agora, Arin estimava e tentava manter ao seu modo.

Dillon chegou antes de mim, mas me esperou na minha sala. A secretária sabia que ele tinha um passe livre — e mais ainda porque, há tempo atrás, ele colocou bastante esforço nela entre quatro paredes.

— Por onde quer começar, bonitão? — Dill perguntou, girando minha cadeira enquanto estava sentado nela.

— Conseguiu saber algo no banco?

— Apenas que a transação foi concluída com sucesso — Revirou os olhos. — Precisava de uma procuração do seu pai para detalhes maiores.

— Vou procurar no computador dele. Tem que ter alguma coisa!

— Como em um filme? — debochou.

Ergui a sobrancelha e o recado estava dado. Ele saiu da sala com as mãos levantadas, como se estivesse se rendendo. Sempre teatral.

A sala do meu pai ficava do outro lado do corredor, tomando-o por completo. O exagero fazia parte dele. Sabia que essa era nossa desvantagem, mas ficaria ali o quanto fosse preciso. O quadro emoldurado com a sua própria foto parecia ainda maior quando entrei e não duvido que ele tivesse pago por esse luxo também.

Dillon mergulhou na pilha de papéis sobre a mesa. Se eu desse sorte, ele encontraria algum documento e alguma cláusula que contasse qualquer coisa, assim que abri as gavetas a procura de anotações. Papai já não era tão bom com a memória e sua mania era anotar o que quer que fosse, mesmo que em siglas.

Uma foto de Arin estava sobre a mesa. Era da festa de caridade e aquele olhar cheio de si chamava a atenção, mais do que seu próprio look, diferente de outros. Ela era diferente de tudo.

— Vai ficar aí babando? Você não perdoa nem que seu pai esteja na foto?

— Dillon...

— Sim?

— Não fode.

Ele riu, mas logo se enfocou no documento enquanto tirava um bloco de anotações. Em sua maioria, haviam nomes e números que já havia visto antes. Amigos, mulheres, fornecedores... Nada demais.

Vendida para casarOnde histórias criam vida. Descubra agora