II

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Por William

Seattle, 2017

— Will. WILL!

Eu não podia acreditar que estava acordando com esse despertador humano, outra vez. Essa era a hora crucial do meu dia onde me perguntava porque morava com o meu pai por todos esses 28 anos. Ele, mais do que ninguém sabia o quanto detestava ser acordado com gritos e que isso me trazia lembranças ruins, mas parecia que se divertia com isso. Ou eu estava mal humorado demais para pensar dessa forma. Tanto faz.

Abri um dos olhos em direção à janela e a cortina me deixou ver apenas um pouco do que acontecia lá fora. Parecia cedo. Muito cedo. Do tipo que eu não precisava estar acordando naquele momento. Passei a mão pelo criado mudo e encontrei meu celular que insistia em me cegar com seu brilho. Eram 6:25 da manhã. Acordar cedo me anima, mas não nesse dia. Bebi tudo o que passou pela minha frente no aniversário do Drew, na noite anterior e meu corpo seguia pesado. Ressaca pura, amarga e sem gelo.

Os gritos por mim continuavam e enquanto calçava os sapatos, continuei checando o celular. Doze mensagens de Penelope. Qual era o problema dessa garota? Não conseguia dizer tudo em uma coisa só? Nós trocamos saliva e fluidos por um pouco mais de um mês e era apenas isso, sexo. Ela sabia disso. Eu alertei. Talvez se eu respondesse com uma mensagem curta, a garota entendesse que eu não era esse tipo de cara. Enviei uma mão que simboliza ok e ela me respondeu logo em seguida, com bom dia, seguidos de corações e florzinhas.

Certo, eu sabia que isso não iria durar muito, mas não conseguia colocar minha energia em qualquer coisa, no memento. Desci as escadas e notei a porta do escritório do meu pai aberta. Era muito cedo para começarmos com os negócios, mas ele parecia não se importar nem um pouco. Ajeitei minha camisa e passei a mão no cabelo para que ele parecesse menos ondulado e bêbado, antes de eu avançar naquela sala.

— Bom dia, papai. Qual a emergência de hoje? — Não fechei a porta e apoiei as mãos sobre a cadeira frente à ele.

— Bom dia, Will. Eu tenho uma pequena emergência esperando por você às 10:45 no aeroporto. — Balançava uma caneta prateada entre os dedos ao sorrir para mim.

— São seis da manhã, o que quer que seja eu poderia resolver em meia hora. — Fechei os olhos e inspirei. Meu pai é um velho sarcástico e aguentar isso, às vezes, era sufocante.

— É aí que você se engana. Você não vai ao aeroporto buscar uma bagagem, meu filho. A bagagem é você! — Ergueu as sobrancelhas em um tom de "ops".

— Para onde você pensa que eu vou, sem ter planejado alguma coisa? — Cruzei os braços contra o peito.

— Turquia! Lembra-se que comentei do meu amigo da loja de barcos e iates? Esse é Onur Yasaran, um velho conhecido de quando viajei de lua-de-mel com a sua mãe. Eu estava com as passagens compradas para vê-lo e me surgiu uma entrega grandiosa por aqui. Querem nossas cerâmicas no jantar de posse do Presidente! — Riu.

— O seu amigo que precisava de dinheiro? Será que ele não pode esperar mais uns dias? — Ele me olhava impassível, como uma criança teimosa se negando. Cocei a ponta do nariz. — Papai, não podemos sair dando dinheiro para as pessoas só porque você quer! Há todo um plano de ação e a mamãe...

— A sua mãe nos diria para ajudar ao Onur e sua família. — Fui interrompido, como se ele soubesse, exatamente, o que eu teria a dizer. — Eles nos ofereceram sua própria casa enquanto nós mal tínhamos dinheiro para a viagem toda! As coisas mudam, meu filho e é hora de lhes dar a mão. — Levantou os ombros e as mãos, como se indicasse que não havia nada que pudesse ser desfeito ali mesmo.

Vendida para casarOnde histórias criam vida. Descubra agora