Por Arin
Nada daquilo fazia sentido para mim.
Quer dizer, era essa a razão pela qual eu cheguei nesse país, mas estar aqui e enfrentar a realidade são duas coisas distintas.
Lucien era um jogador, como meu pai. Para um homem como ele, barganhar era a sua vida e eis que a minha motivação tinha ele no caminho, mas ninguém mais seria um obstáculo entre as minhas crianças e eu.
Aquela não seria a primeira vez que eu beijava um homem. Apesar disso e de aceitar entrar no seu jogo, estava nervosa porque Lucien gostava de variar entre ser um homem legal e outro que insultava alguém apenas por respirar.
Para a minha sorte, aquele pareceu ser seu dia bom. No caminho até Bellevue, ele me mostrou um pouco de seu gosto musical e até cantou para mim, sempre com um sorriso no rosto — como se quisesse me mostrar uma bandeira branca. Lucien tocou meu joelho sempre que precisava trocar de marcha, mas aquele era um carinho até comum de sua parte e eu agradeci que sua mão sempre se instalava ali, nenhum centímetro acima.
O local era bonito e arejado. O dia estava fresco e ensolarado, o que não era tão comum por aqui, mas que naquele momento fazia toda a diferença. Não ventava tanto quanto em Istambul e isso também era um adicional, porque estava de vestido. Branco e com algumas pregas nas laterais, ele adotava um ar social, sem contar com meu cabelo preso em coque com poucas mechas soltas ao redor do rosto.
Era essa figura que deveria parecer noiva de Lucien e eu sabia. Aquela não era Arin, exatamente, e me esconder por trás daquela máscara era tudo o que precisava porque assim conseguiria ser o que ele queria — e isso faria com que ele fosse quem eu precisava que fosse. Sem brigas, o plano perfeito.
Almoçar não era em si a parte difícil. Escolhi o que bem quis e ele tinha bom gosto com vinhos, mas à medida que nos aproximávamos do que havíamos combinado, meu estômago dava voltas e minhas mãos ficavam quentes. Esse seria o nosso primeiro beijo. Em alguns lugares, aquilo selava acordos e seria assim para mim, mas também apagaria a última memória do melhor beijo que tive em toda a minha vida.
Beijar Will era o que me transportava para outro mundo e me fazia ver quem eu realmente era e o que queria. Mesmo que fosse errado — ou que nunca tivesse sido honestamente certo — era a única boca que eu queria por toda a vida e agora, meu acordo apagaria isso por completo.
Lucien sabia o que estava fazendo quando resolveu impor essa troca. Isso nos fazia caminhar para o casamento em uma reta. E eu esperava que essa reta fosse demorada.
Percebi a movimentação ao nosso redor, os arbustos que se moviam porque alguém estava bem ali. Havia música na parte interna do restaurante, mas, onde estávamos a melodia era tão baixa que ate a conversa daqueles homens pude ouvir e segui ouvindo, ate mesmo me esquecendo de empurrar a colher de pudim até a boca.
— Aconteceu algo, meu Sol? — Lucien disse, ao tocar meu pulso.
— Eles chegaram.
— Sim, eles chegaram e não há problemas, certo? Aja naturalmente e tudo vai estar bem. — Sorriu para mim.
E eu empurrei a colher para a boca, tendo a sobremesa passando com dificuldade pela garganta. Precisava focar naquele momento, nada iria além.
Lucien era meu noivo.
Lucien era meu noivo.
Meu noivo.
Sorri para ele, desligando minhas emoções e meu medo. Tudo ficaria bem e eu voltaria no dia seguinte para as minhas crianças.
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Vendida para casar
RomanceArin Yasaran é uma jovem turca que apesar de viver sob altas imposições familiares, possui uma dose de rebeldia sob a pele. Sua vida está de pernas para o ar quando conhece o americano William Wyatt, filho de um empresário importante que viaja à Tur...