IX

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Por Arin

Seattle, 2017

Fúria.

Isso era tudo que habitava em mim.

Eu não podia sequer colocar em ordem o que me deixava pior. Só conseguia me ver em um mar de traições onde estava sendo engolida e me afogava cada vez mais. Meu mar eram minhas lágrimas e, não, não era drama.

Sempre lutei — à minha maneira — para me tornar independente e ficar livre das imposições do meu pai, mas de repente, minha vida estava entrelaçada à isso por cada centímetro do meu ser. Sem sentimentos. Sem escolhas. Sem futuro.

Depois que minhas lágrimas cessaram, passei o resto do vôo colecionando mágoas para quando visse William. Era ele o causador de tudo. Tudo! Sem sua insistência, provavelmente Mehmet teria me deixado em paz ou quem sabe, eu estivesse em outro país, chorando menos.

O que sobrava para mim, então? Um péssimo destino. O que essas pessoas queriam de mim? Não sei. Uma empregada? Uma prostituta? O que eu teria que fazer nesse lugar? Tudo ficava cada vez pior quando tentava encontrar uma resposta. E eu queria vomitar.

Me deparei com um homem de meia idade esperando por mim no aeroporto. Cabelo escuro e baixo, de feições latinas. Certamente o oposto de quem não teve decência sequer de me buscar. Reconheci a placa com meu sobrenome — e certamente será uma das últimas vezes que o verei escrito por aí — e andei com o mesmo até o carro. Seu nome era Antonio e era o motorista dos Wyatt. Isso era tudo que eu precisava saber. 

Eu nunca veria Aslan de novo. E não cabia espaço para descontração no carro.

Quando, por qualquer que fosse sua intenção, me avisou que estávamos chegando, meus joelhos começaram à tremer e meu corpo suava frio. Uma vida nova e forçada estava pronta para mim. Tudo que eu era ou sabia não importava mais quando cruzássemos o portão.

O nervosismo por tudo isso não era comparado ao que eu sentia ao pensar que eu o veria outra vez. Será que, William não se dava conta de que se ele tivesse me dito que faria favores ao meu pai em troca de algo, talvez eu tivesse aceitado? Mas jogar, com duas caras e tentar me seduzir para me pegar de surpresa era, no mínimo, baixo.

Apesar do sol, tudo em mim parecia congelado e lutei com as minhas pernas para sair do carro. Meu combustível, então, era ter visto a silhueta de alguém próximo a porta de entrada e eu sabia bem o que fazer caso fosse ele. Recusando a ajuda de Antonio subi com a minha mala e quase a acertei no homem à minha frente.

Eu poderia jurar que os lábios de William estavam tão trêmulos quanto minha respiração, mas de que adiantava o nervosismo depois do plano perfeito? Depois de conseguir o que queria?
Ele ainda era o homem que arrancou minha liberdade. O homem que contribuiu para que eu tivesse as piores 24 horas de toda minha vida. E por mais que houvesse sentido as melhores coisas por ele, dias atrás, teria que aceitar que ele não era mais nada senão minha ruína.

Abandonei minha mala ao meu lado e, com ela, meu lado racional. Os olhos de William me encaravam até com um pouco de pena, quando ele parecera tentar se explicar, mas não havia o que dizer. Não havia desculpas. Aconteceu e naquele momento era um fato. Antes que flashes bons do que, supostamente, havíamos vivido na Turquia inundassem minha mente, lhe diferi um tapa com a força que podia. Ele não gemeu, mas suas pálpebras se contraíram, antes de seu rosto voltar, lentamente, ao lugar. 

Meu peito se preenchia e se esvaziava com uma rapidez, parecendo que estava oca. Eu me tornara apenas uma caixa. Levaram tudo. E eu poderia me preencher de qualquer emoção por isso.

Vendida para casarOnde histórias criam vida. Descubra agora