VIII

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Por William

Seattle, 2017

É impressionante aquele ditado que diz sobre quando você parar de procurar algo, vai encontrar. Eu não estava procurando me envolver com outra pessoa no momento, sequer uma viagem para tão longe de casa. E de repente, lá, encontrei alguém que se infiltrou no meu pensamento e no meu ser em apenas três dias.

Meus amigos diriam que era apenas tesão ou a parte travessa de se investir em algo proibido, mas, se fosse isso, teria me preocupado tanto com o futuro dela e como vai lidar com a vida sem mim?

Eu precisava daquele momento que tivemos na balada. Precisava de cada parte dela. De sentir como também me desejava sob aquela capa séria e desconfiada. Reconhecer que provávamos do mesmo sentimento era mesmo gratificante.

Depois daquele beijo, saber que eu teria de ir embora sem provar mais daquela garota parecia uma tortura. Sem contar que senti algo estranho queimando dentro de mim — que parecia azia— ao pensar que ela tinha outro cara para beijar e que ele colocaria a boca em sabe-se lá onde naquela garota. Enquanto eu só queria os lábios! Por enquanto.

Confesso que senti mais raiva ao ver Arin se julgando como uma vadia do que saber que ela namorava alguém. Por que as mulheres se culpam o tempo inteiro? Por que elas parecem carregar o peso do mundo como se tudo fosse culpa delas? Homens começaram as guerras. E os mesmos homens são quem as deixam com o peso das situações.

Era evidente que aquele cara estava perturbando-a de alguma maneira e só de imaginar isso, queria ter levantado da cama disposto à quebrar a cara dele, mas que diferença faria alimentar o ódio dele e fugir? As coisas talvez fossem piores para ela se eu me metesse dessa forma, então tratei de dar um jeito com que ela se sentisse segura tendo uma boa quantia em mãos — o que me deixava fodidamente parecido ao meu pai —, dando a oportunidade de que ela fugisse, viajasse por um tempo ou até quem sabe me visitar.

Por outro lado, não queria que ela sentisse que eu estava pagando pelo seu silêncio. Pelo contrário, se fosse em Seattle, talvez com tempo as pessoas se dessem conta da nossa química e nos deixariam em paz. Eu a protegeria do namorado e ela seguiria seu sonho. Final feliz.

Só que as coisas não são tão simples assim. E eu apenas poderia torcer muito para que a vida dela desse certo e que fosse professora como gostaria e alcançasse a liberdade que uma mulher da idade dela merece ter. No fundo, somos feitos do mesmo, porque também me sinto preso nas garras do meu pai e suas imposições, mas cada dia nesse país me reafirmou a ideia de que preciso começar à lutar por algo, à pensar em mim.

Quando a deixei no aeroporto, minha grande intenção era deixar meus sentimentos estranhos nesse país, mas como, se quando entrei na sala de embarque minha lembrança viva era de um sorriso fraco por me ver partir? Eu estava levando-a comigo e deixaria para resolver a minha bagunça em casa.

Indaguei, um pouco, se deveria ligar para Arin quando fiz a escala em Frankfurt, na Alemanha, mas isso parecia um plano de stalker até para mim, o Garoto Estranho. Desisti da ideia, mas ainda havia algo estranho sobre essa história. Um aperto no peito, uma sensação de que algo daria muito errado em algum lugar.

Não sou o tipo de pessoa sensitiva e era improvável eu estar tendo um pressentimento sobre alguém que mal conhecia e que, dia após dia teria sua presença esfumaçada em meus pensamentos, onde seria o único lugar que a veria a partir de então. 

Talvez eu devesse encarar os fatos e aceitar que toda essa minha ansiedade e más sensações começavam à aparecer porque poucas horas me separavam do meu pai, de seus julgamentos e de toda a vida sufocante que esperava por mim. Meu corpo parecia covardemente afetado por isso e querendo desistir de todos os meus próximos planos, mas se havia uma coisa da qual aprendi durante os últimos dias era de que eu deveria me afastar das imposições que estava vivendo. Haviam pessoas que passavam por isso sem escolha enquanto eu... Bem, fui covarde.

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