XXVIII

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Por William


Pode, alguém, com sentimentos tão falhos se sacrificar por outra pessoa?

A resposta seria, provavelmente, não, mas isso não apagava meus sentimentos. Por dias e dias precisava entender que meu pai tinha se sacrificado por nós ou, mais ainda por Arin, mas, nas palavras dela — e em suas memórias — ficava claro que papai sabia que não sairia vivo daquela emboscada. O que ambos concordamos, foi que ele quis evitar que a morte levasse mais do que um.

E que Alexei pagasse pelo que fez, como se não tivesse pagado durante toda a sua vida.

Tão doloroso quanto confuso foi ganhar um irmão que me arrancou o pai. O mesmo alívio que senti ao me ver livre de tanto sufocamento e planos maquiavélicos não apagavam que tinha um irmão parecido com quem me criou. Seja em seus trejeitos e fisionomia ou, pior ainda, na perversidade.

Papai era um narcisista e, sabendo que Alexei também era, optei por me afastar. Dillon me alertou como ele não tinha qualquer direito depois de fazer o que fez, mas preferi usar parte da herança para seu bem estar na cadeia e manter uma quantia em uma poupança para que ele refizesse a vida se saísse vivo dali.

Não sabia de tudo o que houve entre eles, mas optei por não investigar mais. Tive o suficiente.

Em todo caso, não queria contato. Tinha a minha própria família e um irmão de alma — e era esse que, por mais desajeitado, não saíra do meu lado durante nenhum dia, sob nenhuma hipótese.

Dillon e Drew, que visitava a cidade para me ajudar com o luto e à resolver parte dos meus problemas, foram quem me sustentaram. Debaixo das asas deles me tornava um homem dono de todos os negócios limpos que a família tinha. E me fazia um homem independente, sem medos.

De certo modo, minha família tinha menos dinheiro do que pensei — e do que papai mostrava nos informes manipulados para os sócios. Todavia menos quando paguei e quitei dívidas perigosas de jogo ou de máfia que ele deixara. Quase chegamos à ruína, se meus amigos não investissem capital e, pouco a pouco, nosso crescimento fosse o resultado de uma amizade imbatível.

Se temos amigos, temos tudo.

E se temos amor...

Bem, essa parte ainda se recompunha em marcha lenta. Arin era o único amor da minha vida e, se me levantei da cama durante os últimos meses foi porque ela estava em casa.

Dessa vez, por sua própria escolha.

— Tem certeza que quer fazer isso?

Drew me perguntava pela décima vez em menos de três dias, apertando uma das bolinhas anti estresse que eu deixava sobre a mesa do escritório.

— Tenho. Sei que era da minha mãe, mas agora é dela, apenas dela. Foi quem lutou por isso.

— Acho que sua mãe ficaria feliz. Todo mundo está, de te ver assim, grandão — brincou.

— Pode me emprestar minha bolinha?

Quando ele me devolveu, a atirei nele.

— Will tem bolas agora! — riu alto, tentando desviar.

Dillon conseguiu ver a cena ao abrir a porta, me trazendo alguns papéis.

— A melhor parte de você ter voltado é que apanha no meu lugar.

— Não seja por isso, Dill — Drew esticou a mão em minha direção. — Tem outra para emprestar?

— Com todo prazer — sorri com ironia aos dois.

E ambos acertamos Dillon, que cobriu o rosto com os envelopes antes de ser atingido.

— O processo contra vocês custaria milhões se acertassem essa linda carinha e aí está, Will. Todos os trâmites para a troca de nomes do orfanato.

Vendida para casarOnde histórias criam vida. Descubra agora