III

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Por Arin

Istambul, 2017

Permaneci na mesa o que me pareceu uma eternidade, mas devem ter sido entre cinco ou dez minutos, antes de meu pai aparecer gritando exatamente o que minha mãe previu —que eu deveria buscar o estrangeiro em um par de horas, no aeroporto. Tentei não fazer nenhuma expressão terrível, mas ele reclamou sobre meu olhar feio antes de sair. 

Que se foda.

Senti o gosto dessas palavras quando pensei nelas e me senti vingada. Se meu pai realmente soubesse todos os meus planos e como tudo isso vai acabar logo, tenho certeza que ele sentiria um pouco de culpa e me trataria um pouquinho melhor. Eu não fugiria se ele aceitasse o meu namoro, mas não me resta outra solução a não ser essa. O que vai ser bom, porque assim que eu colocar meus pés para fora daqui, ninguém mais vai poder mandar em mim.

E me sentindo vitoriosa, ainda tendo perdido uma batalha, corri para o meu quarto, a fim de fazer um bom trabalho, como só eu sei fazer. Liguei o notebook e pesquisei o endereço de alguns lugares —que só os turistas vão —, para discutir com Aslan como faríamos para ir em cada um. Não há muito o que se possa fazer, especialmente se eles vierem à trabalho e por poucos dias, mas reúno, pelo menos cinco lugares e anoto no bloco de notas do celular.

Segui encarando o notebook e antes de desligá-lo, resolvi tentar a sorte de conhecer os rostos que eu deveria esperar no aeroporto. Eu não fazia ideia de seus nomes, da quantidade de pessoas e isso me deixava mais afobada do que nunca. Respire, Arin, você foi treinada para dar aula para uma classe de até 50 alunos, você pode ser uma guia turística de dez pessoas.

"Wyatt, negócios, EUA"

Joguei essas três palavras na página inicial do Google e em seguida passei para a parte de imagens. Ótimo! Eu achei os Wyatt. Ou todas as peças de cerâmica que eles colocam no mercado desde os anos 80. Haviam algumas fotos com famosos recebendo a cerâmica e outras fotos aleatórias que o Google usa para nos enganar, como uma foto linda do Matt Bomer no meio da bagunça —e eu salvei, claro.

Ah, olha uma do Robert Pattinson, também. Salvei! Eu respirei e tentei me focar, fazendo mais uma busca.

"Wyatt, família, EUA"

E agora apareceram dezenas de pessoas. Não acredito! Bufei e ia fechar o aparelho quando notei que um coroa de terno aparecia na maioria das fotos no começo da página. Era um homem que tinha entre 50 ou 60 anos. Dono de um sorriso arrebatador e muito charmoso, mas seus olhos? Tinham algo negro naqueles olhos claros. Algo que me deu um sentimento estranho e quando consegui parar de olhar suas feições, li a pequena nota no canto.

"Lucien W. Wyatt, o dono do império das mais belas artes do país nos conta como atravessou a perda de sua esposa."

Pobre homem, é isso. Eu vi sua dor. Sacudi a cabeça em alívio e desliguei o aparelho. Não posso viver desconfiada das pessoas o tempo todo. É o que acontece quando temos dinheiro, somos domesticados à pensar que qualquer pessoa quer roubar algo seu e então você se fecha. A arrogância te consome. E eu não estou afim de parecer com os meus pais.

Com o rosto em mente, tudo o que preciso fazer é me arrumar e ir. Escolhi, sem demorar muito, um vestido azul, soltinho, todo cheio de bolinhas mais claras e uma sapatilha baixa. O pior foi o meu cabelo que resolveu ficar indeciso entre liso e enrolado. Estava liso, com algumas ondas e então eu o prendi. E o soltei. E repeti o processo quase optando pelo look Britney 2007, mas solto pareceu vencer. 

Um rímel e um gloss eram a única coisa que eu colocaria, afinal, eu estava indo ver um senhor e não o homem da minha vida. E meu pai reforçou bem que eu deveria representar a família. O batom vermelho tombou na pia quando eu pensei isso e eu dei risada. Era como se ele me lembrasse das noites de balada em Londres. Resolvi guardá-lo na gaveta, antes que ele expusesse mais segredos meus por aí.

Vendida para casarOnde histórias criam vida. Descubra agora