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Por William

Seattle, 2017

Como lidar com que a garota que girou minha cabeça viveria sob o mesmo teto que eu?

Essa pergunta assombrava meus pensamentos mais escuros — e com escuros me refiro à vontade de ir ao quarto vizinho e demonstrá-la o quanto senti sua falta. O quanto seu cheiro e seu gosto ainda não haviam desaparecido do meu corpo. E o quanto a desejava, desesperadamente.

O que bloqueava meus pensamentos inconsequentes era saber que Arin não queria me ver de roupa e menos ainda sem. Sua raiva por mim tomou proporções inesperadas que ela preferia ser amiga de quem a comprou do que me ouvir e entender o que realmente fiz. Ou não fiz.

Gênio difícil.

Minha calmaria estava se dissolvendo à medida que jantávamos e eu era ignorado por aqueles olhos frios. Por quanto tempo será assim? Minha vida será um clichê idiota de viver com uma madrasta que me detesta? Eu me nego.

Quando o jantar terminou, minha melhor escolha foi subir e deixar que o novo casal absurdo de Seattle tivesse um momento — que parece ter sido curto, visto que a porta ao lado não demorou à bater. 

Um silêncio duradouro vinha do quarto dessa garota e me partiu o coração em imaginar o que ela pudesse ou não estar fazendo. Presa em uma masmorra, sem amigos, família, em um país desconhecido e sem comunicação... É impossível que eu odeie alguém que fez um sacrifício tão grande por pessoas que não a merecem. Um banho demorado e quente levou parte das minhas preocupações consigo. Se eu deveria vê-la dia seguinte, era melhor que meu olhar de pena ou raiva não estivessem aqui como um apêndice nessa história toda.

Arin precisava de mim. Mesmo escolhendo o merda do meu pai.

Eu teria algumas horas para dissolver parte dessa confusão mental até que tudo se reiniciara.

Um dia por vez, como grandes boêmios dizem.

Desliguei o chuveiro e ouvi o barulho de uma maçaneta girando. Em seguida, a porta se fechou e o barulho era tão vivo que estava certo de que viria do meu quarto. Enrolei a toalha na cintura de qualquer forma e me lancei para o quarto. Se fosse meu pai estaria falando sem parar, mas o silêncio me dava infinitas hipóteses. Talvez Penelope tenha sido atrevida o suficiente para vir até aqui e deitar nua na minha cama. Não ficaria impressionado, mas por favor, não.

Ao contrário de uma loira pedindo por sexo fácil, uma garota perdida estava no canto do meu quarto, olhando em volta como se tivesse descoberto um segredo.

Arin descobriu a porta que liga nossos quartos internamente.

Sua mão fina e delicada estava no ar, à fim de tocar algo na minha estante quando eu a repreendi, dizendo seu nome e perguntando porque estava ali. Eu sabia bem o porque, mas era a oportunidade de vê-la ter que se explicar para mim e dizer mais do que algumas palavras. 

E eu não perderia essa oportunidade.

Pelo modo desajeitado e brusco em que adentrei o quarto, o movimento fez com que a toalha caísse aos meus pés, revelando meu... Dote.

Sua expressão foi uma mistura de espanto, inocência e curiosidade. Algo naqueles olhos tinham fome e me aproveitei disso como pude, deixando que me observasse enquanto se explicava. Tarefa difícil, Arin?

— Estou esperando. — Continuei. — O que faz aqui? Precisa de alguma coisa?

— Eu... — Arfou baixo e acompanhou com o olhar meu movimento de agarrar e amarrar a toalha. — Essa porta é do meu quarto.

Vendida para casarOnde histórias criam vida. Descubra agora