XXVII

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Por Arin

A intuição deve ser um órgão escondido dentro do corpo humano. Nem sempre somos guiados por ela, mas ela sempre sabe onde vamos chegar.

E isso me dizia duas coisas: a primeira, que o segredo de Lucien era mais cruel do que esperávamos e, a segunda, que ele não conseguia ser totalmente bom. Não importava a hipótese.

Durante aquelas últimas horas era como se tivesse destravado um freio que levava meu carro deliberadamente para baixo.

Mal podia respirar, literalmente.

Havia sido sequestrada para que os Wyatt pagassem uma dívida maior do que podíamos calcular e, ainda por cima, para a máfia internacional. Tantas pessoas sabiam nossos nomes e rostos, sem que soubéssemos os delas.

E Lucien tinha um filho que ficara tão perverso quanto ele. Era cruel pensar no motivo que o levara a isso, mas não mudava o feito. Era impossível pensar com uma arma contra a minha cabeça.

Se morresse, talvez poupasse a vida de um dos três, porque sentia que algo estava prestes a acontecer.

Tudo indicava que seria comigo.

Alguns gritos ficaram dispersos e quanto olhava Will por uma possível última vez. Se existisse um outro mundo, sabia que não partiria desse o odiando. Afinal, ele foi a única pessoa da minha vida à me oferecer amor puro.

Ele ficaria e conquistaria o apreço do irmão, talvez um pouco de paz com o pai e o amor do bebê que estava prestes a chegar. E não sobrava tempo mais para odiá-lo por isso.

Meus pés derrapavam pelo piso queimado enquanto Alexei me puxava mais para trás enquanto gritava.

— Pega o celular e começa a transação antes que essa menina não viva pra chegar na sua idade!

— Não precisa ser assim, irmão... — Will pediu.

— Não é sobre você, mas se defender esse cara, vai ser! — prometeu virando a arma para ele.

Dei um grito em reflexo.

— Por favor não, você tem a mim, deixe os Wyatt — pedi. — Lucien vai fazer o que pediu.

Meu marido me assistia com o celular em mãos, mas dúvida atravessava seu olhar. Eu não valia tudo isso.

— Me coloque no lugar dessa menina e vamos conversar. Vou pagar o que devo — Lucien ergueu suas mãos para o ar, se rendendo.

Alexei era tão decidido como ele. Tudo precisava ser do seu jeito.

— Primeiro a grana, depois conversamos.

Lucien seguia impassível, com seus lábios pressionados em raiva e seu olhar se revezando entre o celular e seus filhos. Aquele homem jamais sentiu medo e duvidava que sentiria alguma vez.

Era a sua criança e, mesmo que a tivesse rejeitado, era nítido em seus olhos que ele sentia saber como controlar a situação. Evidente que não deveria duvidar do instinto de um pai, mas eu sabia bem os efeitos da rejeição em uma criança e o, então homem, não parecia brincar.

Alexei tentou me dar um mata leão para apressar as coisas. Senti como meus pés flutuaram no ar por uma fração de segundos até que o barulho fino de uma notificação apitou e caí de joelhos implorando para que o ar me invadisse.

Do topo das minhas pálpebras via seis pés à minha frente e a voz de Will. Ele fora contido pelos seguranças e não conseguia chegar até mim.

Ou à nada mais, porque ouvi um disparo.

Vendida para casarOnde histórias criam vida. Descubra agora