XIV

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Por William

Eu conheço a melhor mulher do mundo.

Isso era tudo o que cruzava minha mente durante o dia. 

Arin era tão respeitável e forte, ainda que não pudesse ver. Ainda que colocasse suas potenciais fraquezas na frente dos seus olhos. 

Tudo que ela estava lidando ultimamente, sua mudança, suas perdas e todo o turbilhão que passou ao chegar na cidade não era para qualquer pessoa. Eu, particularmente, não sei se lidaria com isso sem fugir e sem olhar para trás. No entanto, agora ela tinha uma razão pela qual lutar: o orfanato.

Seus olhos carregavam a esperança de algo puro e novo. Pureza, essa, que era desconhecida para mim. E se tornava excitante. Estranhamente excitante.

A corrida de volta para casa ocorreu em silêncio. Estávamos, ambos, revivendo lembranças das últimas horas e minha mente começava à tecer planos sobre a grande reforma. Tudo daria certo e, disso, não restavam dúvidas.

Eu precisava salvar aquelas crianças do egoísmo do meu pai e dar-lhes o conforto que a vida lhes tirou. Precisava recuperar o sorriso de Arin e sua confiança. Precisava crescer e não era mais dolorido pensar nisso. Pelo contrario, eu estava motivado. Minha mudança começara.

Estacionei em frente à porta e subimos a escada sem pressa. Faltava uma ou duas horas antes que papai chegasse, então o pegaríamos de surpresa sobre a aventura no orfanato.

Pelo menos isso foi o que pensei.

— Desde quando vocês pensam que podem deixar essa casa, juntos e sem a droga do meu consentimento? — Uma voz ecoou, surgindo do corredor do escritório.

Arin me olhou com a raiva de sempre. Prometi ter tudo sob controle, mas não fazia a mínima ideia de que ele chegaria antes de nós.

Que porra de controle eu acho que tenho?

— O que faz cedo em casa? — Movi o maxilar rangendo os dentes. Estávamos nos encarando como reis da selva ou qualquer coisa.

— Não fui trabalhar, William! Fui fazer outras coisas. — Sacudiu a mão no ar como se houvesse encerrado a conversa comigo e então se dirigiu à ela. — Quem te deu permissão para passar o dia fora de casa com outro homem?

— Quem é você? Meu noivo ou meu carcereiro? — Rebateu. — Você mesmo insiste para que William me leve por aí e agora faz um show?

— Vou perguntar apenas uma vez, onde estavam? — Nos encarou.

— Em um motel, papai! Tenha paciência, olhe a expressão da garota e pense um pouco. Ela esteve chorando depois de ver sua bondade espalhada pela cidade.

— No orfanato?

Arin empurrou seus ombros e, com surpresa, ele recuou alguns passos.

— Como você ousa fazer crianças passarem fome e viver em ruínas? Quem você pensa que é? Acha que nada disso vai retornar para você? Fique esperando, pois a vida vai cobrar, Lucien. Você é um monstro! — Vociferou.

— Perdeu o juízo? Quem pensa que é para avançar em mim como uma selvagem? — Agarrou seus braços e tentou sacudi-la, mas me coloquei entre eles.

— Não toque em Arin. Se quer descontar o que ela fez ou saber a fonte dessa raiva, veio de mim porque eu causei. Eu a levei! E vimos o quanto você falhou em cumprir o único desejo que minha mãe tinha. — Larguei seus pulsos e podia sentir o sensível corpo de Arin próximo às minhas costas.

— E o que foram fazer? Levar o dinheiro que a Madre Teresa arrecadou? Ótimo, fim da história. — Papai passou os dedos no cabelo que estava jogado em seu rosto. Ele estava visivelmente nervoso, como se houvesse algo ilegal em jogo. O que eu não duvidava.

Vendida para casarOnde histórias criam vida. Descubra agora