XXII

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Por William

Sempre fugi do amor porque pensava que isso fosse clichê e não entendia bem a dinâmica.

E no momento que o fiz, me dei conta de que fugia por medo de sofrer tudo o que estava sofrendo.

O amor te deixa vulnerável, mas ao mesmo tempo te torna capaz das maiores coisas. Você não sabe a força que tem até amar alguém e ter que lutar por ela, com ela ou para protegê-la.

No meu caso, as três coisas funcionavam ao mesmo tempo.

Primeiro, precisei lutar com Arin, para que percebesse que não a traí e que quando nos vimos na Turquia não estava ali para avaliar a minha madrasta. Logo depois, o instinto de lutar pelos seus sonhos ocupou minha mente. Eles se tornaram os meus, porque me mostraram que existem coisas na vida pelas quais ainda podemos lutar e viver. Há coisas que apenas dependem de nós, do que podemos fazer ou das nossas conexões.

E, me olhando no espelho aquela manhã enquanto dava o nó na minha gravata, sabia que precisava conter o impulso de fugir de um dos piores dias da minha vida para estar com ela e protegê-la. Não podia negar que algo em mim se sentia traído. Ela sabia que se casaria dias depois de estarmos juntos e não me contou.

Pelo contrário, tratou de me ignorar nos dias seguintes. Alizeh me contou que foram fazer o enxoval e que a fez se distrair. As duas tinham apoio e compreensão uma na outra e me deixava feliz tudo isso, mas era para ser o nosso casamento.

Era tudo que eu conseguia pensar. Se eles quisessem ter arranjado um casamento entre nós, agradeceriamos o resto da vida por terem feito nosso destino se cruzar, mas eles o fizeram de modo cruel. Me trataram como o bebê que ela deveria zelar quando chegasse.

Arin custou 100 mil euros. Uma quantia estúpida para alguém que rompe os padrões do normal com a sua inteligência e habilidade de se adaptar à qualquer situação. Pagaria pela sua liberdade hoje mesmo, se pudesse, mas agora era questão de honra entre as famílias. Eles não aceitariam nem meu último centavo por isso.

Podia lutar um pouco mais e garantir sua fuga, fugindo ou não com ela, mas aquela mulher era decidida o suficiente para fazer o que se propôs. Aposto que pensava estar salvando minha vida, mas preferia vê-la livre a qualquer outra coisa. Ridiculamente poético, eu sei.

— Olhe só você, William! O homem mais lindo dessa cidade depois de mim — Papai disse, entrando com a sua risada triunfal. — Arrume a gravata do seu pai, dizem que dá sorte.

— Não acho que precise de sorte depois de comprar uma esposa — disparei, refazendo seu nó.

— Ah, mas domar aquela mulher é uma das coisas mais difíceis que fiz e vou fazer. Sabe disso. Choque de culturas.

— Tem certeza que quer isso, pai? Podemos viajar, fazer um cruzeiro juntos e conseguir todas as mulheres ao invés de apenas uma menina.

— Sei o que está fazendo — rebateu frio, estreitando seus olhos. — Ela é minha e sempre vai ser. A partir de hoje a respeite como se fosse sua mãe!

— Isso é ridículo! Ela é mais nova do que eu.

— É sobre hierarquia e você está abaixo de nós! Guarde bem isso para saber onde vai se encaixar daqui para frente.

Ele se olhou no espelho e ajeitou seu terno, as abotoaduras e a gravata — como se eu não tivesse feito isso perfeito o suficiente para ele.

— Enfim — continuou, — não quero discutir no meu dia feliz. Se apresse. Saímos em dois minutos.

Um toque na minha porta e encarei a que me separava de Arin naquele momento. Ela jamais viria até mim, mas Dill sim.

— Até que enfim alguém útil nessa casa — Papai suspirou indo a caminho da porta, tocando o ombro de Dillon. — Faça esse garoto andar logo.

Vendida para casarOnde histórias criam vida. Descubra agora