IV

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Por William

Istambul, 2017

Depois de ver Arin se estranhar com a secretária, a tal Seda e enviar um olhar para ela como a Eleven de Stranger Things, fiquei um pouco preocupado em deixar as duas sozinhas, mesmo a garota me assegurando de que ficaria bem. O fato é quem não ficou bem foi eu depois de vê-la cruzar as pernas tão lentamente como em um filme erótico. Praguejei mil vezes por aquele vestido ser tão longo e me despertar uma curiosidade que eu não deveria ter no momento.

Seu pai me acompanhou até a cadeira com um largo sorriso, provavelmente acreditando que a empresa estava a salvo sem eu nem ao menos abrir a boca, mas eu conheço um sorriso canalha quando vejo um. E não parecia estar errado.

— Como foi a viagem? E a chegada? Minha filha lhe tratou bem? — Me ofereceu um charuto e eu recusei.

— Cansativa, mas é bom estar em terra, outra vez. Arin é incrível, me mostrou o melhor das pessoas por aqui e tenho certeza que vai ser uma ótima professora. — Nos sentamos. Eu sorria, mas seu sorriso murchou.

— Ah... — Ignorou totalmente minha última sentença. Ele não quer que ela tenha uma das profissões mais antigas e dignas que existe? — Que bom, filho. Ela é uma boa garota e vai lhe acompanhar nos próximos dias, porque, como você já deve saber, eu tenho muito à fazer por aqui, mas ela estará disponível para mostrar nossa hospitalidade, paisagens e quem sabe até levá-lo para uma viagem nos nossos fantásticos balões?

— Eu adoraria. — Passar um tempo com a sua filha, mas não sei se posso lidar com ela, com as pernas dela e com aquele olhar por muito tempo. — Mas, antes de mais nada, preciso colocar as mãos na massa. Se sobrar tempo, eu visito alguma coisa. O que houve com a empresa?

— Bem, como você deve ter visto, ultimamente a Turquia está aparecendo com frequência nos jornais mundiais e isso gera uma queda de investidores, as notícias são alarmantes e muitos amigos estrangeiros retiraram seus fundos ou venderam ações à preço de banana. — Suspirou, olhando seus dedos sobre a mesa. — E eu estou há um passo de falir, estou quebrando.

— Certo... — Assenti. — Sua empresa é apenas de embarcações ou existem mais coisas que ela produza?

— Eu tentei vender petróleo para compensar os números, por debaixo dos panos, mas acabei conseguindo muito menos do que no mercado legal. — Confessou. Claro, armações. E meu pai estava no meio delas, tenho certeza. Sabe-se lá o que mais eles vendem em fraternidade.

— Escute bem, Onur. Eu não vou injetar dinheiro em um bom negócio que se baseia em tráfico, seja lá do que for. Se você quer seguir adiante com a sua empresa, ter um bom suporte para sua família como me foi passado, eu posso criar uma estratégia de remanejo, mas se você continuar com isso, eu pego minhas malas e volto para casa sem colocar um centavo na sua mão. — Apontei-o e sei que o intimidei. Eu tinha garras quando se tratava de negócios.

— Eu tenho bocas para alimentar! Uma mulher, uma filha jovem, funcionários! Se você me assegura que tem um meio, eu vou me agarrar nele. — Exclamou.  

— Se é assim, eu posso me aprofundar em uma ideia que tive. Veja, sua cidade é banhada em mar e a minha também. Podemos exportar mão de obra e produtos, eu não sei. Preciso pesquisar sobre as questões de licença. — Olhei a mesa e a dezena de papéis e promissórias sobre a mesma. — Eu quero relatórios dos últimos seis meses. Entrada, saída, exatamente tudo o que aconteceu. Pode me conseguir isso hoje?

— Essa noite, no jantar, você terá o que pediu. — Assentiu.

— Ótimo. — Levantei, totalmente desconfiado da situação, mas precisava dos documentos para ter certeza sobre os movimentos. — No jantar, então.

Vendida para casarOnde histórias criam vida. Descubra agora