VI

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Por William

Istambul, 2017

Arin é louca.

Às vezes, ela é uma brisa refrescante de primavera e, de repente, se transforma em um tornado vindo na direção de seu alvo. É um tanto confusa e irritadiça, mas toda essa bagunça a faz atraente e interessante.

Dito isso, devo dizer que passei o caminho inteiro de volta à sua casa, tentando entendê-la e percebê-la melhor, mas ela não me enviava muito mais que lábios curvados e um olhar distante, triste e perdido para a vista que tínhamos dentro do táxi. Uma de suas mechas um pouco encaracolada dançava ao vento, cutucando minha bochecha, mas era tudo o que eu tinha de seu frágil corpo. Sua mão estava na lateral do rosto, o que a deixava escorada no vidro do meu lado oposto.

Olhar aquela garota funcionava como um imã para mim — e olha que eu era um imã para mulheres bonitas, gostosas, solteiras e menos estrangeiras. Lembrar da tarde que passamos e saber que um sorriso honesto habitava seu rosto horas atrás era quase um crime. Eu havia visto aquele pedaço intenso de mulher tão viva e cheia de si que era impossível sossegar encarando-a sem expressão.

Eu sei. Minha teimosia arruinou nosso dia perfeito de guia incrível e turista babaca, mas e se não foi eu? E se meu discurso de ser seu superman particular não foi o que a deixou assim? Bem, puxando pela memória... A vidente disse sobre traição e ninguém gostaria de ser traído, certo? O fato agora era: por quem? Um namorado? Eu acho que saberia se ela tivesse um.

É claro, Will. Você saberia todos os segredos de alguém em dois dias.

Antes que alguém, especialmente um namorado que existe ou eu inventei, decidisse roubar a garota de mim, peguei meu celular no bolso e tirei uma foto sua. Arin se assustou com o clique e mudou a expressão, rapidamente. 

— Desculpa. — Ela pediu, retirando-se do campo de visão entre a janela e eu. — Tirou foto do que?

— De um monumento. — Segurei o riso enquanto checava sua foto e voltava para a tela inicial, com o emblema do Seattle Mariners.

— Não tem monumentos nessa área. Do que você tirou foto? — Perguntou, mais uma vez, desconfiada.

— É claro que existe! Lá no fundo! — Respondi.

E quase sem concluir a frase, minha risada me delatou. Arin puxou meu celular e eu cedi, sem esperar tal movimento enquanto tentava acalmar o riso. Seus dedos pareciam ágeis e não demorou muito para encontrar o que queria e me devolver. Será que essas mãos são assim com tudo? Antes que meu pensamento se tornasse muito sexual, ela me devolveu o aparelho.

— Um novo fato sobre você: é péssimo sobre mentiras, Garoto Estranho. E "monumento"? Isso é um apelido muito estranho.

Arin tinha um sorriso escondido tão precioso por trás de suas muralhas da desconfiança que tive que me conter para não tirar outra foto. Ela pensou que havia deletado a mesma, mas não fazia ideia de que ia direto para o compartilhamento em nuvem. A foto estava a salvo.

E eu pude sorrir escondido pela minha vitória estranha, também.

•••

Após chegarmos na mansão Yasaran, Arin se escondeu em seu próprio quarto e eu acabei sendo puxado pelos seus pais para uma conversa rotineira. Os velhos me contaram um pouco sobre o país, o lugar em que moravam — que, aliás, era um dos lugares mais fascinantes que já me hospedei — e, por último, me deram um álbum de fotos para ver.

Eu repassei as fotos do casamento sem muito interesse, mas tudo ficou melhor quando um bebê de cabelos e olhos claros começou à aparecer nas fotos. Com certeza era aquela garota. O sorriso expressivo e o olhar que me prendia em cada uma das fotos. Pude ver a pequena criança tendo aulas de dança do ventre ou toda suja de tinta fazendo um trabalho escolar. Sua formatura que parecia ser em Londres e uma Arin mais parecida à minha, tendo em volta uma dúzia de crianças enquanto ela lia um livro.

Vendida para casarOnde histórias criam vida. Descubra agora