V

126 14 7
                                    

Por Arin

Istambul, 2017

Eu estou perdida.

Depois de me preocupar com o omelete do estrangeiro, dançar sem esconder que queria sensualizar apenas para ele, agora quase havíamos dado um beijo. Ou melhor, eu quase avancei nele. Suas piadas me deixavam tão leve que eu me distraía de ser a dura Arin que tentava ser na Turquia e passava apenas a ser a Arin de qualquer lugar, sem nacionalidade ou bandeira. Apenas alma e desejos.

Quando, por brincadeira, dei um tapa em sua coxa e ele segurou minha mão no lugar, a calidez de sua pele fez meu sangue borbulhar. Eu queria sentir a sua mão quente em mim, bem como gostaria de seguir trilhando sua coxa rígida com o meu polegar. Havia algo naquele homem que mexia com os meus sentidos tão inesperadamente que quanto mais tempo passávamos juntos, mais eu queria. 

Dez horas. Eram tudo o que havíamos passado juntos desde que ele chegou e já havia inundado meu cérebro de imagens dele. Meu ventre queimava quando seus olhos contornavam meu corpo com curiosidade e às vezes ternura, outras com um jeito tão penetrante que parecia me despir. Estar interessada por esses momentos e mal esperar pelo dia seguinte era um péssimo sinal. Primeiro, porque significaria uma chance de ter mais momentos como esses. E segundo, amanhã seria o dia mais perto de sua ida.

Ele iria embora, era um fato. 

Não sei se minha mente planejou esse truque de flertar com um desconhecido pelo fato de daqui há alguns dias, eu fosse mudar completamente e estar quase casada, mas se fosse isso, minha mente era uma grande vadia. Eu precisava de dias calmos para organizar as coisas em pequenos detalhes, ao invés de estar perdida no riso e dorso do homem mais gostoso que eu já conheci.

E como se Mehmet pudesse ouvir meus pensamentos, meu celular tocou mostrando sua foto na tela principal e eu atendi a chamada por vídeo.

Você viu os sites que eu te dei? — Ele estava jogado em uma cama que devia ser a dele. Sem camisa para tentar me distrair, o que não deu tão certo.

— Oi para você também. — Rolei os olhos, sem esconder minha frustração com a insistência. Será que ele não conseguia entender que eu já estava nervosa o suficiente porque tudo dependia de mim? — Sim, eu vi e o melhor é chegar e ficar em hotéis, até que apareça uma casa em conta.

Eu já te mostrei as casas! Qual o problema com elas, Arin? — Seu sotaque turco ficava mais forte quando ele gritava. Era tão fácil tirá-lo do sério.

— Dinheiro, Mehmet. Dinheiro! — Bufei, irritada.

Então consiga mais! Ou isso sai do jeito que precisa sair ou eu vou sozinho. — Devolveu no mesmo tom, sem parecer chocado, como eu estava.

— Boa noite. — Apertei os lábios e levantei a mão para desligar de uma vez.

Desculpa, desc...

Puxei o ar como se daquilo dependesse minha vida e o segurei. Não pretendia chorar por isso porque toda essa ideia era difícil para mim. Abandonar minha casa, fugir, roubar meus pais indiretamente e sair daqui sem ver se eles ficariam bem depois dessa crise, não era algo que eu tinha sangue frio para fazer, mas estava me esforçando por ele. Por mim. Pela relação que eu sempre quis.

Desliguei o celular, ignorando que ele estava me ligando outra vez e tentei dormir. Precisava estar bem amanhã e não abalar Will com toda essa bagunça que eu estava. Eu apenas deveria me preocupar pelo seu bem-estar porque era disso que eu dependia e queria fazer.

•••

O dia amanheceu com raios vivos e penetrantes de sol, o que me levava à ter certeza de que dava para um bom passeio ao ar livre. Escolhi uma saia longa e plissada que variava entre o amarelo e o marrom, para contrastar, uma camiseta baby look preta e a sandália rasteira da mesma cor. Apliquei um pouco de protetor solar e um batom cor de cereja e parecia pronta para fingir que...

Vendida para casarOnde histórias criam vida. Descubra agora